Capítulo 8 - Pimenta ardente!

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"Quando sou doce, sou doce. Senão, sou mais ardida que pimenta."
Elis Regina

Poucos dias se passaram desde o encontro na mansão Clairmont. Com o objetivo de preparar o ambiente de treinamento, Matthew pediu à Kara que aguardasse algum tempo até que retornassem, pois era preciso dar uma pausa para que a heroína acalmasse os ânimos e estabilizasse seu fluxo de chakra. Nesse espaço de tempo, Kara pôde refletir melhor sobre os últimos acontecimentos e, assim, buscar uma forma sensata de consertar o estrago que havia feito em sua relação com Lena.

Embora manter a calma estivesse em seus planos, o coração de Kara permanecia aflito e repleto de saudade. Desde o momento embaraçoso na CatCo, no qual Lena apareceu de surpresa, elas não tiveram mais nenhuma oportunidade de reencontro.

Nenhuma palavra havia sido trocada entre elas, e essa situação estava destruindo a heroína. A única coisa que lhe restava, era somente aproveitar as migalhas de breves instantes, onde poderia contemplar sua amada de longe, enquanto ela dormia.

Todas as suas madrugadas eram preenchidas por visitas discretas ao apartamento de Lena Luthor. Havia se tornado um hábito noturno voar até a sacada do quarto da morena. Logo a calada da noite tornou-se o seu momento favorito, pois enquanto sua amada estivesse totalmente entregue nos braços de Morfeu, Kara poderia admirá-la sem nenhum medo ou ressentimento. Esse era, definitivamente, o seu momento de paz.

Lena Luthor, por sua vez, vivia um pesadelo naqueles últimos dias. Em seu coração havia muita saudade dos tempos bons que vivera ao lado de Kara, mas infelizmente não era possível fugir do presente. A realidade se mostrava demasiadamente dura e cruel.

Para um Luthor, a força sempre esteve na escuridão e na solidão. Pelo menos era isso que Lillian a ensinara desde a sua chegada à família, ainda quando criança. Considerando a maneira na qual foi criada, Lena teve que aprender desde cedo a não ter medo de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias que pudessem abalar sua vida.

Segundo ela, a única maneira de estar imune a essas intempéries era blindando o seu coração contra sentimentos como o amor e a amizade. Entregar o coração a alguém, significava ser totalmente vulnerável às vontades e desejos da pessoa amada. Era estar à mercê das menores bobagens, das mínimas palavras ditas, a olhares, e sobretudo, imaginações. Contudo, nada disso se aplicava quando o bem-amado era sinônimo de Kara Danvers.

Sim, a maldita loira de olhos azuis, dona do sorriso mais ensolarado, abraço quentinho e voz acolhedora. Estar completamente desarmada por ela era um fato que de nenhuma forma poderia ser refutado.

Feliz ou infelizmente, o coração de Lena Luthor já havia sido enlaçado, e a pior parte de toda a situação era constatar que a jovem Luthor estaria arruinada para qualquer outra pessoa que não fosse Kara Danvers.

Ao dar-se conta disso, foi inevitável não ser dominada por medo e desespero. A sensação de estar perdendo o controle era assustadora, e ter a mente consumida por toda essa avalanche de emoções estava mais uma vez estragando a sua noite.

Já passava das nove e meia da noite quando Lena abriu mais uma garrafa de whisky. A reunião com Andrea durante a tarde havia sido bastante exaustiva, e apesar de tratar-se de um assunto relevante, a jovem Luthor não estava com a menor disposição para discutir cláusulas contratuais e pendências de projetos.

Sua cabeça estava longe, seu olhar perdido e seu coração muitíssimo incomodado com o interesse repentino da latina pela repórter. Andrea estava se mostrando uma pedra em seu sapato, e pelo que já conhecia de sua antiga amiga, sabia que tinha de ser cautelosa para que seus planos não fossem prejudicados.

Muito pior do que isso seria se, de alguma forma, a identidade secreta da heroína de National City fosse descoberta por Andrea. Seria um inferno, um verdadeiro tormento. Afinal, o que diabos Andrea poderia querer com Kara Danvers?

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