Capítulo 3 - O DESPERTAR - PARTE I

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Onde há luz, também haverá escuridão.

Uchiha Madara

A beleza pode ser contemplada em todas as coisas. Ver e compor a beleza é o que separa a simples imagem da fotografia. Tirar uma foto é congelar um momento especial. Remete-se a uma maneira única de poder tocar, sentir, amar e guardar um sentimento para sempre. É lembrar-se de pequenas coisas, das mais simples às mais complexas. É poder viajar no tempo e reviver, mesmo que brevemente, aquele instante tão extraordinário.

Ali, apoiada na sacada de sua cobertura de luxo, Lena apreciava o céu estrelado de National City. Em sua mão direita, um pequeno porta-retratos trazia à tona as lembranças de uma das primeiras noites na companhia de Kara Danvers. Era a famosa noite de jogos, pequenas competições entre amigos nas quais eles compartilhavam lembranças de ocasiões importantes de suas vidas. Era divertido. De fato, todo aquele contato humano fazia com que a jovem Luthor se sentisse estranhamente acolhida.

Naquela foto em questão, Kara estava sentada ao seu lado, linda como sempre. Os cabelos dourados estavam soltos e exalavam uma fragrância suave agradabilíssima. Os óculos deixavam seu rosto extremamente harmonioso, com uma feição delicada e meiga. Na mão esquerda ela segurava uma taça de vinho tinto, enquanto sua mão direita repousava suavemente no ombro da CEO. Pouco antes desse momento ser captado pelas poderosas lentes de James Olsen, Lena havia sido consolada pela repórter. As acusações inescrupulosas de Morgan Edge, a tinham deixado desnorteada, e sem o apoio, carinho e cuidado de Kara, ela não saberia como suportar aquela pressão.

As lembranças daquela noite atingiram seu peito como balas. Foi inevitável não recordar do abraço caloroso que tiveram. Em como Lena se sentia segura naqueles braços firmes, fortes, quentes e amáveis. O olhar que mais parecia um oceano a ser desvendado. De um azul tão profundo, que a fazia desejar navegar dentro deles.

E então, como se fosse a cereja do bolo, a jovem Danvers depositou em sua têmpora um beijo repleto de ternura e cumplicidade. O toque aveludado dos lábios de Kara Danvers em contato com a sua pele, foi capaz de fazê-la viajar. O coração aqueceu e todo medo se dissipou. Mesmo não sendo um beijo de um casal de namorados, ali naquele instante, Lena Luthor percebeu que estava perdida naquele toque e na imensidão daqueles malditos olhos azuis.

"Maldita seja Kara Danvers!" , Lena repetia esse mantra, na enganosa esperança de poder amenizar a dor que sentiu ao descobrir a verdade pela boca de alguém tão desprezível quanto Lex. "Malditos sejam aqueles olhos!", ela pensou. Eles tinham um poder tão hipnótico e entorpecedor sobre a Luthor, que eram capazes de roubar-lhe o coração com apenas um piscar. Céus como doía receber a traição de alguém amado. Como era doloroso ser apunhalado por alguém tão íntimo. Sentir-se usado é uma das piores sensações que alguém pode ter.

Não obstante, verdade seja dita: no fundo do seu coração, Lena sempre soube da verdade. É tão fácil enganar-se sem o perceber. Afinal, ninguém consegue enganar-nos melhor que nós mesmos. É natural de pessoas apaixonadas enxergarem apenas aquilo que desejam na pessoa amada. Definitivamente, a verdade não é para os fracos.

Sozinha, depois de uma garrafa de whisky, Lena se amaldiçoava pelo tempo que se deixou ludibriar. Era tão evidente que Kara Danvers e Supergirl eram a mesma pessoa, que chegava a ser ridículo de tão obvio. O mesmo sorriso. O mesmo timbre de voz. O jeito afetuoso de se dirigir as pessoas. O olhar capaz de trazer a salvação ao coração gelado de um Luthor.

 A mesma pessoa...  repetiu, quase como um sussurro.

No coração da jovem Luthor, escondido nos seus desejos mais profundos, estava o genuíno motivo de toda a sua dor: o medo de ser abandonada por alguém amado. Sim, cogitar a ideia de ser excluída de algo tão importante para Kara Danvers a fez perceber que jamais teria espaço em sua vida. Não importava o quanto se esforçasse, de modo algum, Lena Luthor seria digna de estar ao lado de alguém tão poderoso quanto um deus.

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