Relacionamentos

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Um bom relacionamento deve ser construído com verdade

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Um bom relacionamento deve ser construído com verdade. E a verdade, nua e crua, nem sempre é bonita. Tem o lado ruim, tem a briga, tem a discussão, tem aqueles dias em que parece que vocês estão completamente fora de sintonia.

E tem o silêncio.

Iara, como uma boa psicóloga, sempre preferiu ouvir mais do que falar. Principalmente em sua vida pessoal. Evitava criar discussões, pois às vezes dizia coisas que tocava fundo e doía demais. Ricardo parecia também seguir essa filosofia, pois desde que ela encerrou a ligação com a gerência de seu setor no clube Beskitas, ele se manteve em um mais profundo silêncio.

Em um ato louco e movido pela a mais pura emoção, Volkan teve vontade, sim, de fazer suas malas e abandonar sua vida para acompanhar Quaresma em sua mais nova empreitada. Mas quando via a sua frente Ricardo, fingindo não estar ansioso enquanto encarava o relógio pendurado em seu pulso, ou esfregando as mãos sobre a calça jeans em uma tentativa frustrada de parar sua perna esquerda de bater no chão, tinha certeza que precisava ser a parte racional daquele relacionamento.

— Ricardo! — Iara se pronunciou logo após colocar a xícara de café sobre a mesa, limpando os lábios com a língua e o fazendo encará-la daquele jeito cabisbaixo.

De novo.

Não era novidade para ninguém que relacionamentos não eram só prazer. De maneira alguma era só festa, viagem, risada. Diversão, beijo, cumplicidade. Ou só sexo. O relacionamento tem a fase chata. Ocasionalmente tem briga, discussão, chatices. Tem rotina, implicâncias, ciúme, bate boca. E o elefante branco que estava tomando café com eles aquela manhã: como manter um relacionamento a distância.

O brilho da íris de Quaresma já trazia traumas e dizia que eles tinham que lidar, conviver e amar uma pessoa que veio de outra família, de outro mundo. Tem outra criação, outros costumes, outros pensamentos, outro jeito de viver. Transbordava o amor lindo que ele tinha, e poder compartilhar esse afeto com alguém como Volkan, era uma recompensa para alguém que tinha medo de enfrentar os próprios medos e sentimentos.

Ele a olhava como se não pudesse perdê-la, esticando o braço e encostando os dedos na mão que Iara ainda mantinha na xícara posta a mesa. Pegando-a para entrelaçar os dedos sobre os seus e a tocando como se nunca tivesse que partir.

— Nem toda despedida é triste. Terminar após o amor esfriar é como sair de uma banheira cheia de água morna. É revigorante. Porém, para um novo casal, uma despedida é como esperar um café ficar pronto por cinco longos minutos. — Iara indagou, levantando a xícara que tinha em mãos e afastando o toque do jogador. — E então quando finalmente está pronto, você derrama. É de partir o coração.

— Eu não estou entendendo aonde queres chegar, Iara. — Ricardo se pronunciou.

— Te pergunto, para ti, como deve ser uma despedida bonita?

— Acha que devemos terminar? — O jogador entornou a voz, vendo-a piscar lentamente e bebericar seu café.

— Não foi o que eu disse, Quaresma. — Ela também firmou seu tom. — Mas entenda, uma despedida bonita pode parecer tão ridícula quanto um odorizador com aroma de privada, um círculo angular ou um arco-iris transparente. Mas essas despedidas só acontecem entre aqueles que sentem algo genuíno e verdadeiro. Há também aqueles casos em que não se sabe dizer quem está preso a quem. Nessas situações até dizer adeus é impossível.

Lusitano • Ricardo QuaresmaOnde histórias criam vida. Descubra agora