Ele percorria os corredores de cor neutra em uma passada lenta enquanto mantinha as mãos no bolso fino da bermuda de poliéster. Tinha a cabeça erguida, encarando fixamente a porta branca no final do corredor, sabendo que aquela sexta-feira seria o último dia que faria aquele caminho.
Ou não.
Alcançou a parede paralela ao consultório de um dos psicólogos que havia sido contratado aquele ano pelo time turco para fazer o acompanhamento emocional dos jogadores. Se encostou sobre o concreto frio olhando rapidamente para o seu relógio de pulso, constatando estar adiantado.
Muito adiantado.
A ansiedade em vê-la pela terceira vez consecutiva só aquela semana parecia não ter fim, fazendo com que conseguisse ser liberado mais cedo do treino daquele dia. Ainda bem, pois se encontrava em um estado de espírito em que ia do agitado para o apreensivo, beirando o desespero. Desespero esse que era domado pela vontade ensandecida de encontrá-la mais uma vez. Mas aqueles sentimentos não iriam se perdurar por muito tempo.
Pode ouvir o barulho do chaveiro que ela carregava todas às vezes em que desfilava por aqueles corredores, fazendo-o bisbilhotar sorrateiramente a silhueta mediana, caminhar apressada e distraída com o celular em mãos. Aquele dia, ela resolveu sair de casa com um vestido preto, longo e com uma estampa floral, de um tecido que aparentava ser leve e deixava-o solto em seu corpo. O impedindo de matar sua curiosidade sobre o que ela tanto escondia por baixo das vestimentas.
A pele queimada e dourada da Psicóloga Iara Volkan o atiçava numa proporção tão gigantesca, que havia esquecido da perturbação que havia sido seus últimos meses. E só precisava ser grato a diretoria do Besiktas por tê-lo encaminhado àquelas consultas semanais.
Óbvio que a princípio, em seu lugar, havia um turco maluco que achava que falava inglês ou uma espécie de português de outro planeta, deixando-o mais confuso e irritado. Porém, quando entrou naquela sala na semana passada e a encontrou no lugar do psicólogo Devrim Özkan, agradeceu aos céus aquela benção.
Benção em todos os sentidos.
Pode vê-la movimentar o rosto para olhar para frente, fazendo-o sobressaltar e voltar a sua posição de quem não estava prestando atenção em nada. A viu alcançar a porta de madeira branca, colocando a chave na fechadura para que pudesse abri-la sem ao menos notar a sua existência parada ali, feito uma assombração à sua espera. Ou certamente estava ignorando-o, coisa que achava que fazia muito bem, mas ele sabia que era só pose.
Decidiu assim por pigarrear e falar:
— Tão ansiosa para a consulta, que resolveste chegar cedo, doutora?
Ouviu a risada debochada dela, fazendo-o sorrir ao perceber que ela estava só tentando ignorá-lo.
— Acho que quem está ansioso para se livrar de mim, é você, senhor Ricardo Quaresma! — Questionou, abrindo a porta e girando seu corpo para que pudesse ficar de frente para ele, despejando aquele olhar escuro e misterioso em sua direção.
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Lusitano • Ricardo Quaresma
FanfictionQual a importância e quanto vale um sigilo médico? Bom, o lema de Vegas também pode se aplicar nessa história: O que acontece em um consultório, fica em um consultório. Ou será se fica na cama? No carro? Nos corredores do Besiktas? A obra está mar...