No fundo, iguais

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Killua Zoldyck

01/01** Tokyo/Shibuya 19:56

  Eu poderia negar, poderia acreditar que talvez não fosse capaz nem mesmo de sair de casa. Mas, eu tenho uma vida, e por mais que não queira, tenho que continuar.
  O tempo passou tão rápido, e já eram oito da noite. Alluka já havia chegado, e comentou que iria fazer janta, então retruquei:
- Faça só para você.
-Hum? -Olhou para mim com dúvida - Mas você sempre come...
Dei de ombros, e subi para o quarto:
- Pois hoje eu não vou.

  Fechei a porta, e logo após decidi colocar uma calça de moletom escura, uma blusa xadrez vermelha e preta, tênis beje, e uma camisa escarlate. Peguei uma toalha e fui para o banheiro.
  Me despi, e liguei o registro, adentrando em baixo da água, fechei meus olhos:
- Vamos todos juntos, em uma aquarela... Que um dia enfim, descolorira. -Cantarolei essa frase, a minha música preferida desde a infância. Nunca deixei de cantar, nunca a deixei.
  Depois de um tempo, sai do banheiro com a toalha entrada na cintura, e percebi que já eram 20:15 da noite, coloquei a roupa,  peguei meu celular, e minha carteira.
  Quando deci as escadas, Alluka me barrou:
-Para onde vai? E com quem vai?
-Quando é você quem sai, não me dá nem uma satisfação.
A respondi, e abri a porta, com minha chave. Ela pareceu irritada, mas era a pura verdade.

  Fui até minha moto, e a liguei, colocando a chave em seu determinado local. Assim, fui até onde Leorio informou.

  Desci da moto, encontrando o moreno que estava a espera, ele parecia desinteressado em tudo que o rodava. Fui até ele:
-Boa noite.
-Killua! Você veio mesmo.
Apertei sua mão e comentei:
- Não viria. Só vim porque não tinha nada para fazer.
- Que bom! Kurapika e Gon já estão vindo.
Olhei curioso, e perguntei:
-Quem é Gon?
-É o irmão de Kurapika, ele é do Brasil. Pelo que eu saiba, a mãe dele morreu, e teve que vim pra cá.
Apenas olhei para o lado, havistando Kurapika e um garoto de cabelos esverdeados, com um short preto colado, e uma camisa verde, junto a um tênis branco. Usava um colar, e umas quatro pulseiras duas de cada lado. Seus olhos eram tão radiantes, mas parecia que faltava algo... Deixei isso de lado, e o loiro falou:
- Boa noite! -Sorriu e cruzei os braços - Gon, esse aqui é o Léorio, e esse, é o Killua.
Ele olhou para o moreno, e logo após fui eu quem foi fitado, nossos olhos se encontraram por alguns segundos, sem nem uma palavra dita, mas com muitas ao mesmo tempo. Não entendi nada o que estava acontecendo, mas sabia que aquele garoto não era igual a Kurapika e nem Leorio.:
- Vamos entrar, daqui a pouco começa a festa.
Comentou o moreno, e Kurapika junto ao mesmo foram para dentro da casa de festas, deixando apenas nós dois ali.

  Com certo receio comecei uma conversa:
- Você... É o irmão de Kurapika, né?
Ele olhou para a casa e afirmou entristecido:
-Sim...
-Aconteceu alguma coisa?
Perguntei preocupado, só levanto no ritmo o que estava ali. Ele negou e sorriu fraco, era lindo aquele sorriso, por mais que não seja animado, o fitei como se quisesse vê-lo sorrir mais vezes.:
- Na verdade, eu aceitei vir, porque Kurapika é meu irmão, não queria o decepcionar... Mas eu não gosto de festas, assim.
-Pelo visto, somos dois.
Sorri para o moreno, ele era um pouco mais baixo que eu, mas não tanto. Como descreveria o que estava encarando? Não sei... Só sei que me perdi nos olhos que implicavam faltar algo. E veio uma ideia besta na cabeça, que eu não sei porque a comentei:
- Quer... Ir para outro lugar? Mas calmo.
Gon, me encarou por um tempo, provavelmente com dúvida, mas surpreendentemente ele afirmou.

  Sorri, e fui até ele:
-Vamos andando, eu conheço um lugar lindo aqui.
Assim, depois de algum tempo, fomos para um campo, que tinha uma relva brilhante, com a lua cheia e várias estrelas no céu. Me aproximei, e sentei no meio no local, o outro fez o mesmo ficando ao meu lado.:
- Por que aceitou?
Perguntei curioso, Gon olhou para o céu... Seu olhar tão cintilante, tão belo, maravilhoso. Aquela vista, foi tão linda diante de meus olhos. E por fim ele comentou:
- Sei que você não quer meu mal, no fundo, talvez seja corrompido. Seus olhos demonstram tudo.
Me senti, de uma vez por todas, correspondido, ninguém me entendia, ninguém, nem mesmo o vento, sabia o que eu queria, e onde queria chegar. Mas ele sabia, Gon me entendia.

  -É Killua, né? -Afirmei, e ele me olhou - Sabe, no Brasil, tinha um campo assim também. Minha mãe me levava nele, e sempre me contava histórias com morais. -Riu fraco- Ela era um amor. Pena que não pude mais vê-la.
- Eu te entendo, minha irmã se afastou muito de mim. Nunca pude deixar de pensar quando ela iria me abraçar, pedir para mim contar histórias para ela. -Sorri mínimo - É engraçado, que a gente sente falta do que não pode mais voltar.
Gon suspira e afirma:
- Sim. Eu consigo entender perfeitamente.
Ficamos em silêncio por um tempo, e me virei para encarar seus olhos, o incrível é que ele fez o mesmo.:
- Killua, você conhece, aquarela?
-Sim, é minha música preferida.
Ri de leve, e Gon fez o mesmo:
- Eu aprendi com a minha mãe. -Dessa vez, ele sorriu verdadeiramente e feliz.
Com isso, suspirei, e comecei a sussurrar a letra. Gon me olhou atentamente, e finalmente comecei a cantar.
A melodia era tudo que eu precisava, naquele momento, era ela. Eu só não gostava do toque, mas o som da letra, era bom de ser escutado.

  Gon prestava atenção na letra, e começou a lacrimejar, parei de cantar, logo olhei desesperado:
-O-o que aconteceu? Eu fiz algo de errado?
Perguntei tocando em sua face, por conta do desespero, ele negou e sorriu:
-V-você... -Segurou as minhas mãos - Canta muito bem.
-Mas, isso é motivo para você chorar!?
Ele riu fraco, e retirou minhas mãos de seu rosto:
- Na verdade, eu chorei porque você se parece com a minha mãe. -Suas mãos tão perto das minhas, isso fez um leve choque eletrocutar todo meu corpo- Você me entende.
Olhei para Gon, e ele fez o mesmo, assim, nós encontramos qualquer outro lugar, que não seja o rosto um do outro:
-Melhor voltarmos. -Comentei, me levantando- Mas, isso não impede de nos conhecermos melhor.
- Acredito que não.
O ajudei a levantar, e fomos para o local de festas novamente.

Kurapika e Leorio se preocuparam e perguntaram onde estávamos, depois de responder, ficamos apenas na conversa boba mesmo. A única coisa que eu sabia, era que Gon, tinha uma grande personalidade, a mesma que quero adentrar e conhecer.

02/05/24

As letras que escrevi a você. •Killugon•Onde histórias criam vida. Descubra agora