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Madeleine Morgan

Acordei com um zumbido no ouvido e bem ao fundo, conseguia ouvir alguém chorar.

De repente, senti aquele cheiro de novo e vi flores brancas espalhadas pela capela, meu estômago doía e minha boca tinha gosto de cobre.

E eu queria gritar, mas não conseguia.

Subitamente, abri os olhos estudando todos os lados da sala.

Não estava na capela, não estava, não estava.

Faziam-se anos que esse pesadelo não me atormentava. Desde que tinha ficado enterrado em uma cova profunda no fundo da minha cabeça.

Mas ver as paredes perturbadoramente brancas do quarto de hospital não fez com que eu me sentisse melhor.

Minha cabeça começou a latejar como se um martelo a tivesse atingido.

Perturbada e desnorteada, apertei as mãos em ambos os ouvidos e só percebi que Amaya estava ali e que falava comigo quando apareceu em meu campo de visão, borrada, pelo pouco que meus olhos estavam abertos.

Estava com a mesma roupa de ontem e o cheiro forte de álcool me deixava mais nauseada.

Vi quando ela correu até a batente da porta antes de voltar para perto de mim e segurar a mão que eu mal sentia.

Seus olhos estavam inchados e levemente marejados.

- Como você tá, Maddy? Consegue me ouvir bem?

Franzi o cenho com meu corpo e minha mente ainda me machucando.

- Quem me trouxe até aqui?

Sua expressão ficou ainda mais alarmada - Você não se lembra de nada?

Sacudi a cabeça o pouco que consegui.

Tentando acalmar mais ela mesma do que a mim, respondeu lentamente - Maddy, você desmaiou ontem na festa.

Percebi que queria estar em coma a anos quando um tiro de consciência atingiu minha mente.

Fios dourados ocuparam toda minha lembrança.

Não o garoto bonito do corredor, o qual se apresentou como Kelvin.
Não a demissão.
Não o desmaio.
Nem as provas de admissão com as quais eu vinha me torturado nas últimas semanas.

Mas, ele.
Ele, o sangue, e Nichole.

Uma mulher adentrou a sala e deduzi que fosse a enfermeira, por mais que não tenha me preocupado o suficiente a ponto de olhar para ela.

Quando ambas se aproximaram de mim e começaram a falar simultaneamente, queria mandar calarem a boca e não me senti mal por esse pensamento como vinha me sentindo por todos os que tinha, uma culpa constante.

- Senhorita Morgan?

Quero trocar essa roupa, o cheiro vai me matar.

- Senhorita Morgan?

Fiz o esforço de virar a cabeça quando respondi - Sim?

Dezessete dias para amar vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora