013

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Marina

São aproximadamente nove horas da noite de uma quinta-feira e está muito calor, muito mesmo, também está ventando e isso indica que nas próximas horas vai chover. Richard foi me buscar depois da aula e estamos desde então juntos e é incrível como eu só sou eu do lado dele, sem rótulos nem nada e ele parece não se importar com isso.

── Por quê? Brigas são normais, todo mundo discute! — Ele argumentou.

── Eu cresci em meio ao caos, Ríos, o que eu puder fugir de briga, eu fujo! — Parei de caminhar e fiquei de frente para ele. ── Se um dia a gente se desentender ou sei lá, qualquer coisa semelhante, vamos resolver com conversa!

── Relaxa, eu sou a pessoa mais tranquila do mundo em relação a isso. Com você! — Murmurou a última parte ajeitando meu cabelo.

── Comigo?

── É, não consigo brigar com você. Eu surto com meus amigos, eles me testam a paciência e a gente briga direto, mas são meus amigos! — Falou me olhando dentro dos olhos.

── Obrigada por me entender!

Richard ajeitou o meu cabelo atrás da orelha e beijou a minha testa, me abraçando. Durante os poucos segundos que fiquei no seu abraço eu me senti imune a qualquer perigo que o mundo pudesse vir a oferecer, e eu amo essa sensação.

── Gosto de você. — Falou enquanto separava o abraço. ── Mesmo!

── Eu não gosto de você. — Falei só para irritar e notei ele abrir a boca em sinal de susto, me fazendo rir. ── Muito tapado!

── Tapada é você, sua tapada.

Meu celular começou a vibrar incessantemente e peguei vendo a ligação do meu pai, atendi e no mesmo instante começou os questionamentos: "Onde você está?" "Com quem você está?" "Eu sei que você não está com a Duda, a Duda tá com o Joaquín." "A Dani tá com o Raphael, fala a verdade." "O João não está em São Paulo!"

── Ai, pai! Eu sei me cuidar, mas agradeço a sua preocupação, tá? — Falei já estressada depois de inventar mil mentiras e ele não acreditar em nenhuma.

── Marina, com quem você está?

── Eu tô com um amigo meu, pai, pronto!

── É o Richard?

── Não é o Richard! — Falei e ouvi o mesmo rir do meu lado. ── Olha só, eu já tô indo, ok? Boa noite! — Desliguei antes dele responder.

── Acho que o Abel não iria me curtir como genro dele.

── Meu pai não curte ninguém como genro, Richard, não é nada pessoal. Só que agora eu preciso ir embora antes que ele coloque a polícia atrás de mim.

── Chato isso, você já tá com vinte anos e seu pai é um chato! — Falou me abraçando e eu respondi colocando língua. ── Quem coloca língua pede beijo, sabia?

Coloquei língua novamente e Richard riu antes de grudar nossos lábios talvez no milésimo beijo do dia. Nosso beijo encaixa perfeitamente, é como se ambos houvessem sido feitos para ficarem juntos. Sua mão apertou minha cintura me puxando mais para perto dele — se é que isso é possível — e no mesmo instante eu senti um arrepio percorrer meu corpo inteiro, arranhei a onde eu alcançava e ele separou nossas bocas com alguns selinhos, me frustrando internamente.

── Se o pessoal descobre que estamos ficando agora, aí sim vão cogitar que já tínhamos algo antes. — Comentou e eu dei risada.

── É verdade! Mas não vão, nós passamos imagem de amigos grudados.

── Mas na verdade somos amigos com benefícios. Adoro você, sabia?

── Mas eu não adoro você! — Respondi só para irritar e dei risada da cara que ele ficou. ── Tapado.

── Para de me chamar de tapado, sua tapada. — Beijou minha bochecha. ── Vem, vou te deixar em casa antes que meu sogro venha atrás de nós.

O segui até seu carro e o assunto mudou rapidamente, começamos a conversar sobre as inutilidades mais sem sentido existentes e em vinte ou quinze minutos eu estava na frente da minha casa, rezando mentalmente para o tempo pausar e eu ficar mais tempo com ele.

── Deixa a janela do seu quarto aberta. — Pediu.

── Vai dar uma de príncipe encantado de filme agora? — Cruzei os braços. ── Você sabe que meu quarto é no segundo andar, né? — Ele deu de ombros.

── Mais tarde eu te sequestro, gatinha, agora vai la! — Falou antes de beijar o canto da minha boca.

Eu me despedi e fui, entrei em casa e tanto Abel quanto Ana estavam sentados na sala e nenhum deles tinha uma cara muito boa.

── Onde você estava? — Ana perguntou.

── Você não é minha mãe, não devo satisfação para você. — Fui breve. Ela não tenta nem esconder que não gosta de mim, não vou ficar sendo simpática de graça também. ── Pai, eu já te falei onde eu estava!

── Olha como você fala com a Ana, ela é sua madrasta!

── Tá, eu tenho aula cedo e quero dormir, posso subir?

── Marina, o que você acha de Portugal? — Ana questionou e eu arqueei uma sobrancelha.

── Um lixo, roubaram nosso ouro. — Fui sincera. Eu nasci em Portugal mas vivi minha vida toda aqui, eu me considero brasileira.

── Pensamos que seria bom você tirar um tempo lá. — Meu pai falou e eu franzi o cenho. ── Com seus avós! A faculdade você tranca ou faz por lá, eu pago para você, sem problemas!

── Dispenso, mas agradeço a boa intenção. Tô indo dormir! — Falei subindo as escadas, que pirados!

fútil, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora