Capítulo 02| O inédito

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"Me leve de volta à noite em que nos conhecemosEu não sei o que devo fazerAssombrado pelo fantasma da sua existência

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"Me leve de volta à noite em que nos conhecemos
Eu não sei o que devo fazer
Assombrado pelo fantasma da sua existência."
The Night We Met

Houston, Texas
Estados Unidos
06h28

Alexander Delaney sempre foi a pessoa mais próxima de mim. Ao contrário da pressão psicológica que minha mãe cobrava a todo momento, meu pai era o tipo de pessoa que servia como refúgio sempre que as coisas desmoronavam.

Se mamãe ordenava a todos os criados a me alimentar apenas com comida saudável todos os dias, era meu pai quem me levava escondido aos sábados para comer besteiras.

Enquanto Julie Delaney não se cansava de brigar comigo quando eu sujava meus próprios vestidos ou me comportava mal, Alex apenas abria um sorriso travesso e me levava para andar a cavalo enquanto minha mãe passava horas no salão.

Era ele quem me abraçava toda vez que eu tinha um pesadelo, ou então quando eu ficava triste por causa de algum comentário maldoso sobre meu cabelo.

Meu pai não se importava de chegar em casa cansado do trabalho e mesmo assim se ajoelhar ao lado da minha cama, abrir um livro e ler para mim.

Ele me ensinou tudo o que pôde: andar de bicicleta, me defender fisicamente dos outros, roubar os batons da mamãe, jogar baralho e ainda dar mortais enquanto brincava em pula-pulas.

Quando quebrei o braço direito fazendo isso, Julie ficou desesperada, pensando que o fim do mundo estava acontecendo bem naquele instante.

Ele só deu risada, abraçou ela e disse que eu iria ficar bem.

E eu fiquei bem. Depois de alguns meses, exames e remédios, meu braço voltou ao normal. Mas qualquer um poderia adivinhar o óbvio sobre a vida: uma vez modificado, aquilo nunca voltaria ao normal.

Era assim que eu me senti quando atravessei as portas do hospital correndo naquela manhã.

Minha mente estava perdida em algum oceano caótico de sentimentos. Desespero, aflição e choque foram os primeiros a me receber.

Logo depois, a negação me atingiu com tanta força que não consegui chorar. Não podia. Porque se chorasse, estaria admitindo que aquilo era verdade. Que aquilo era dolorosamente real.

E nada era mais pesado e cruel do que a verdade. Não havia para onde fugir quando ela surgia em sua frente. A realidade era tão devastadora que ceder à doce ilusão de que estava "tudo bem" parecia muito mais fácil.

Porque não poderia ser real. Alexander Delaney era apenas mais um homem com dinheiro entre muitos outros. Quarenta e cinco anos, sua saúde impecável e sempre esbanjando sorrisos calorosos. Seria impossível alguém vê-lo como um alvo de homicídio.

Deusa das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora