Depois de uma manhã cheia de exames médicos, finalmente me deram alta do hospital. Já haviam se passado cerca de onze dias desde o acidente que quase me matou.
Bom, pelo menos eu sobrevivi.
Ergui meus olhos em direção ao espelho diante de mim. Me encontrava dentro do banheiro, e tinha acabado de trocar a roupa azul hospitalar por calças esporte fino na cor preta e uma blusa social — onde deixei os três primeiros botões entreabertos.
Ajeitei meus cabelos loiros para trás, sentindo a umidade recente do banho em meus dedos. Meu braço cortado estava enfaixado, mas com sorte em breve a tala seria retirada.
O corte superficial no meu lábio já desaparecia, porém ganhei uma cicatriz na mandíbula em troca. O médico me passou uma lista enorme de analgésicos, instruindo-me cada ação do procedimento pós-operatório.
Não era a primeira vez que eu sofria uma lesão grave dessas, então cuidar dos machucados era tecnicamente fácil para mim.
A única coisa que particularmente odiei foi receber a última ordem, soando clara e direta na minha cabeça a cada dez segundos: não dirija nenhum automóvel pelas próximas semanas.
Sendo quem sou, essas palavras vão evaporar assim que eu avistar meu Huracán na garagem de casa.
Tenho certeza disso. Por mais que Rydell tente até mesmo dar um tiro nas minhas mãos, vou arrumar um jeito de voltar a dirigir.
Também pedi — ou melhor, subornei os funcionários — para não avisarem os Scorpius sobre a minha saída do hospital. Eu os considero pra caralho, mas já estava me cansando do olhar severo de Rydell e da preocupação excessiva de todos sempre que me viam.
O acidente realmente foi feio e deixou sequelas nunca antes presenciadas por nós. No entanto, estar vivo já era sinônimo de salvação. Voltar para as questões passadas não anularia o momento do carro capotando diversas vezes.
Para ser bem sincero, não faço a mínima ideia de como ainda estou respirando. Segundo o que me disseram, as chances de sobrevivência eram extremamente baixas.
De qualquer forma, estou aqui. Em carne e osso. E roxos também, pensei ao tocar o curativo branco perto da minha sobrancelha.
Me afastei do espelho, saindo do banheiro e atravessando o longo corredor do hospital.
— Senhor Carpenter! — Escutei alguém gritar mais atrás de mim. Virei-me, encontrando uma enfermeira correndo em minha direção. — É melhor você não sair daqui agora.
— Eu estou ótimo. — Intervi, interrompendo seu discurso padrão de auto cuidado e paciência. — Já me deram alta.
— Não é isso. — Tentou dizer, mas meio que ignorei e atravessei as portas do saguão.
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Deusa das Sombras
RomanceEssa obra contém HARÉM REVERSO, incluindo gatilhos. Aurora Delaney sempre foi uma garota invisível para a sociedade. Vinda de mais uma das milhares famílias ricas de Houston, suas notas se mantiveram impecáveis durante os últimos dezoito anos. Ent...