Nos levantamos e Cadu aproveitou para segurar minhas mãos vendo os cortes nos nós dos dedos e espiar o que eu fizera no banheiro, o vidro do espelho quebrado os cacos espalhado a pia do lavatório e o chão manchados de sangue, que estrago! Observou o ferimento que agora nem parecia arder de tantas formas. Cadu negou com a cabeça e um olhar preocupado e depois levou uma das mãos até o meu rosto acariciando o mesmo e limpando a minha bochecha suja de sangue, fechei os olhos morosamente e me aproximei sentindo o toque o contato de sua mão na pele, eu também aproveitei e encostei minha testa na dele e então sentimos um ao outro como se nossos cérebros estivessem conectados, eu conseguia sentir seu hálito, sua respiração, seu corpo, seu amor, eu o amava tão qual quanto ele me amava. Os olhos mesmo fechados se encheram e não só isso, os de Cadu também, notei antes de fechar os meus, como se contivessem as lágrimas, e quando nos afastamos Cadu engoliu os lábios cerrando os mesmos, e seus olhos verdinhos pareciam mais brilhosos da lágrima e também um tanto irritados e avermelhados.
— Eu não sou mais noivo, não cheguei a casar de verdade — murmurei do nada, eu estranhamente senti vontade de dizer aquilo.
Mas Cadu caiu no riso, e abriu um sorriso e lágrima saltou de seus olhos, ele gargalhou limpando a lagrima que não devia ter caído e eu fiquei confuso, mas ri também, percebendo que não devia ter dito isso, não era sobre isso, era um momento inoportuno, é estranho para mim rir quando estamos emotivos e chorosos, mas Cadu ficava lindo sorrindo e aquilo alegrava o meu coração espantando qualquer tristeza, observei os dentes brancos e retos, ainda se lembro de que quando fora embora Cadu ainda usava aparelho odontológico, usou por mais tempo que eu, Cadu secou as próprias lágrima e me abraçou forte, agarrou em mim colocando sua cabeça no meio do meu peito, e eu que não esperava um outro abraço o abracei, mas esse abraço foi menos demorado logo ele mesmo se desfez e me empurrou sutilmente.
— Precisamos de um banho, estamos ensopados e gelados — ele falou com a sua mão em sob o meu peito e eu senti todos os dedos por cima da camisa quase como se tocasse minha pele e olhei para sua mão ali por cima de minha camisa azul marinho. Tão simples e bonitas, no final eram só mãos, como qualquer outra mas não para mim, aquelas eram as mãos de Cadu e Cadu era único, e é exatamente disso que eu sentia falta da paixão por detalhes bobos, e por Cadu eu estava sempre apaixonado. Ele me empurrou mais forte para dentro do banheiro — Tome um banho e eu vou tomar outro no banheiro do quarto, e depois podemos conversar acho que temos muito para conversar, né?
Eu fiz que sim com a cabeça sem saber o que dizer, era como se eu tivesse ficado hipnotizado e realmente estava! Eu estava olhando nos olhos de Cadu, mas também vendo todos os detalhes sua sobrancelha ruiva, os cílios curvados a barba falhada e por fazer (de modo desleixado como se estivesse enrolando para fazer) de fios tão claros que mal cresciam corretamente em seu rosto, os fios que cresceram entorno dos lábios bigode mais escuro e ruivo, ah, Cadu nunca gostou de barba em si mas eu lembro que Cadu adorava a minha barba e até tentei manter, mas na base militar não era algo comum, mas mantive algo em mim, algo justamente para lembrar de Cadu, o bigode de fios grossos e grande que me entregava a cara de militar – já Cadu ele era meu oposto em tudo, desde os pelos ralos, a cor ruiva avermelhada e a pele clara diferente da minha que era morena, pois eu era a mistura de duas etnias e já Cadu não, “ele parecia ter sido planejado” as vezes quando mais novo eu pensava e falava isso e minha mãe odiava quando isso era dito, o quão eu achava ele perfeito por ser branco feito papel na infância.
“Não há essa diferença aqui José, vocês dois são filhos da mesma mãe e do mesmo pai, não tem essa de achar ele mais bonito por ser branco” – mas ela nunca entendeu, nunca entendeu por que Cadu nunca falou, mas Cadu também sempre dizia que eu era mais lindo, acreditava que eu era como um galã de novela, até por que eu sempre levei jeito para as meninas, minha pele parda, da cor do brasil, feito no verão e gostava de tudo que havia em mim, gostava do ar rústico, das tatuagens, dos olhos castanhos amarronzados e claros, Cadu adorava o fato de eu ir para o sol de sunga e ficar bronzeado, e como minha bunda ficava branquela em contraste com o corpo, enquanto ele somente ficava vermelho - por isso detestava praias.
Para Cadu eu era perfeito tão qual eu o achava perfeito, e Cadu dizia isso para mim, dizia que queria ser igual a mim, mas eu nunca iria querer isso... não, não, o mundo é preconceituoso de mais, se eu fosse bem mais escuro como meus avós por parte materna, por exemplo, eu estaria na merda com as oportunidades nesse mundo horrível – sempre chegava nessa conclusão e por isso também tinha a certeza que Cadu era dengoso de mais por passar por situações como ser parado pela polícia ou perseguido por em mercados por seguranças - mas algo a confessar, quando você é bonito as vezes o tom de pele não importa muito, nesse caso eu fui parado muito poucas vezes, não querendo me gabar mas eu era muito engomadinho e o corpo grande e forte, o rosto harmônico ajudava para caramba, vivemos em um mundo de seleção natural e cultural pela beleza, e Cadu e eu estranhamente tínhamos isso, éramos ambos bonitos – mas quer saber de algo? Éramos mais bonitos juntos! Claro que éramos, a gente era o terror da meninas quando éramos mais novos, e Cadu causava ciúmes tão qual eu causava nele quando saiamos para uma simples festa, sempre fomos uma dupla implacável até mesmo nesse sentido. Mas isso só depois da adolescência, pois na adolescência todo mundo é feio...Então sempre fomos perfeitos um para o outro, isso era um fato inexplicável, sempre fomos como unha e carne, éramos bons em se complementar, tudo que eu não tinha Cadu tinha e tudo que Cadu tinha eu também queria, tudo que eu sou, sempre foi o que Cadu precisou. Cadu era uma obra prima, ah era, e eu sei que ele me descrevia da mesma forma, Cadu sempre fazia menção do quão grande eu era, do quão queria o meu corpo para que toda vez tomasse o tiro por ele – eu era um trouxa por ele, que ele me usava eu botava medo em qualquer um desde novo, sempre encarado como o vil público, arteiro, brigão, vingativo, e eu era mesmo, já Cadu era um santo exemplo, educado, gentil, e eu aceitei que sendo a peste que eu era por Cadu eu era o dobro pior, por que no final das contas eu sempre o protegia de tudo que eu podia.
Quando ele tinha pesadelos a minha cama de era a dele, quando ele chorava a minha blusa era o seu lenço, quando ele estava em encrenca eu era seu salvador, quando alguém o machucava eu era a vingança, ser o irmão mais velho sempre me fez ver que eu tinha a obrigação de cuidar da fragilidade de Cadu, isso nunca mudou, embora Cadu não fosse tão frágil eu sempre o protegi de tudo e o meu amor por ele sempre foi algo inenarrável, inexplicável, inescrutável, meu amor por ele parecia perene pois mesmo longe e o evitando no fundo, lá no fundo eu sabia que eu o teria em meus braços nem que fosse uma única vez nessa vida, na minha cabeça: Cadu foi feito para mim, não há outra razão para termos nos cruzados nessa vida, afinal ele me foi dado como irmão e o amor que eu sentia por ele foi esse, mas também foi mais estranho possível pois o amava como irmão mas o amava como parte de mim, como algo que nasceu só para que eu existisse, antes de Cadu não existia José!
É inegociável o amor que eu sentia por ele.Terminava de dobrar algumas roupas empilhando-as na cama para guardar, não sabia quanto tempo iria ficar por aqui então estava desfazendo uma só das malas, a toalha molhada após o banho estava em meu pescoço, no som de uma playlist de músicas aleatórias norte americana. Eu estava distraído quando Cadu empurrou a porta de meu quarto.
— Oi — disse ele baixinho entrando.
— Ah, oi — respondi confuso — Oi — concertei a voz falha o olhando
— Quer ajuda? — perguntou Cadu
Eu simplesmente não consegui responder. Merda, como ele consegue me deixar tão nervoso com essa sensação confusa?
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Amor Azul Centáurea
RomanceAlerta de gatilhos história para +18 Suas pernas encaixaram-se em minha cintura e eu estava muito apressado, eu queria muito explorar o seu corpo, mas também queria muito tirar o atraso de algo que queríamos e nunca tivemos, eu queria comer ele ali...