Birra

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Tive vontade de segurar Cadu para que Cadu não fosse com Rodrigo.

— E aí José beleza? — disse Rodrigo de longe quebrando o transe que eu estava. — Cadu não me disse que você viria, falou que te levaria embora.

— Mudança de planos sabe como é... De boa e você? — respondi  nada de “boa” enquanto Cadu saia da piscina indo em direção ao Rodrigo.

Cadu deu um selinho bem rápido nos lábios de Rodrigo que já parecia esperar isso, e eu  agora entendi que Rodrigo era de “casa” senti meu coração partir-se em dois, por um momento pensei que fosse somente eu e Cadu, até havia esquecido que Rodrigo morava aqui há algumas casas de distância...

— Diguinho pega para eu uma toalha, tem uma ali no lavabo no armário. — pediu Cadu

“DIGUINHO” – Viro de costas passando a mãos no rosto novamente dessa vez com um sorriso puto no rosto, tão puto que queria socar a água,  o filho da puta tem até apelido carinhoso —, formou um pensamento enraivecido em minha mente. Fui tomado por um ciúme enorme que nem sabia que ainda morava aqui dentro do meu âmago e por isso não era qualquer ciúme, foi um ciúme que eu não sentia a muito tempo, mesmo tendo tudo e outras relações aquele ciúme era incontrolável e maior, um ciúme inenarrável, senti minha pele endurecer meu rosto se fechou na hora, e a chuva agora parecia  exclusivamente minha, como uma tempestade formada por minhas emoções desgostosas e aquela nuvem que rosnava seus trovões no alto estivesse fazendo barulho em minha cabeça. Me virei tentando disfarçar o olhando sair da piscina na hora em que “Diguinho” – adentrou atrás de toalha, foi como tomar uma facada ao ver o olhar de Cadu que era como se tivesse deixado vazar um segredo.

Cadu percebeu a afeição odiosa de minha cara, e eu me retirei da agua passei por ele o olhando profundamente sério, o olhando nos olhos, ele nem hesitou o olhar sobre o meu que o devorava.

— José eu ia te contar.

— Devia ter me deixado no aeroporto — respondi baixo mordendo os dentes.

Ele olhou para mim um tanto assustado agora, talvez pela bravura e tom de voz grosso e agressivo, eu entrei em casa.

— Vai molhar tudo — disse ele

— Foda-se — retorqui enraivecido seguindo em frente.

Ao ver Rodrigo não hesitei dei uma trombada proposital em Rodrigo que vinha trazendo a toalha para Cadu, e o que eu mais queria mesmo era sentar Rodrigo no murro. Estava tão enfurecido, mas tão enfurecido que parecia que ia explodir. Segui até o banheiro no andar de cima e ao entrar no mesmo finalmente explodi, quando me olhei no espelho meu reflexo e que não conseguia disfarçar aquela minha expressão raivosa, eu pirei como nunca antes há muito tempo e dei um murro certeiro contra mim mesmo acertando meu reflexo, o espelho se espatifou com o meu punho que senti queimar com as gotas de sangue que pingavam sobre a pia em micro cortes na pele, o impacto foi forte que fez imediatamente alguns dos vidros do espelho entortaram virando contra minha própria pele, e não contente dei dois murros seguidos.

Cadu fazia com que todas minhas fraquezas fossem reveladas, enquanto eu estava servindo a Marinha aprendi a lidar com a minha fúria, ser paciente, ser de certo modo não controlado pelas emoções, mas agora? Foda-se. Sinceramente foda-se eu estava fora de mim, acho que esse tempo todo na qual eu passei sendo paciente e não explosivo eu só estava sendo um alguém para não ser o homem que exatamente sou, o homem que exatamente chegou no batalhão assim, irritado, enfurecido com a vida.

Olhei para o teto, para as quinas de gesso, sentindo os olhos inundar de tanta raiva, queria gritar, estava sentindo tudo, raiva, mágoa, culpa, ciúme e tudo, era muita coisa, muita coisa em 24 horas.

Amor Azul CentáureaOnde histórias criam vida. Descubra agora