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Chamado para a competição

Eu ignorava o barulho, mas ele persistia, ecoando pelo silêncio sombrio do mausoléu. A curiosidade venceu o cansaço. Levantei-me da cama e segui pelo corredor escuro. As sombras dançavam nas paredes e, a cada passo, meu coração batia mais forte. Ao descer as escadas, vi uma luz fraca vindo da cozinha. Com a respiração presa, aproximei-me lentamente e, ao espiar pela porta entreaberta, deparei-me com uma cena inimaginável...

Era Cley; ele estava assaltando a geladeira de Daniela. Eu apenas ignorei, subi novamente e fui dormir.

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No outro dia, acordei e logo abri meu celular buscando nas mensagens de minha mãe algo que pudesse alegrar meu dia. Eu queria que ela me desse motivos para continuar, mas, diante da nossa última briga, isso parecia improvável.

Desci rapidamente as escadas e não encontrei meus amigos, apenas a velha, como sempre, lendo seu jornal. Dei-lhe um bom dia, mesmo sendo ignorado, e então comecei a tentar puxar assunto:

- Aquelas pessoas dos quadros eram sua família?

A velha parou de ler e ainda não me deu atenção. Engoli em seco ao ver que Uriela me mandou uma mensagem me chamando para trabalhar. Mais uma vez, me apressei para não me atrasar.

Assim que saí de casa, a velha abriu a gaveta e pegou um pequeno porta-retrato. Consegui ver de longe pela janela, mas como não era da minha conta, apenas ignorei.

Corri, chegando atrasado. No meio do caminho, encontrei a moça que também era da empresa. Não me recordava de seu nome, mas ela parecia atrasada, então comecei a tentar acompanhá-la. No entanto, parecia que ela não queria companhia e colocou os fones. Seria difícil trabalhar com alguém assim, mas ignorei e segui meu caminho até a fábrica. Quando cheguei, tudo parecia normal, todos já estavam lá esperando abrir. Ouvi a voz irritante ao fundo: "Nossa, por que estão tão cansados?" Uma enorme raiva subiu em mim, afinal, a pressa era consequência de sua chamada inesperada.

Ela abriu a fábrica e cada um foi para seu lugar. Tudo aconteceu como no outro dia, tudo parecia normal. Quando olhei para o lado, vi uma colega dormindo. Era a moça que tinha um estilo mais obscuro; ela parecia bem cansada, Layla. Tentei acordá-la, mas não podia levantar, senão a irritante mulher reclamaria. Antes que ela viesse para sua vistoria, acenei para sua colega, a mulher que correu comigo mais cedo. Mesmo entendendo o que eu queria dizer, ela não ajudou. Logo, a senhora da voz irritante chegou e bateu sobre a mesa, acordando-a assustadoramente.

- Se eu encontrar mais algum de vocês fazendo corpo mole, terei que pedir que se retirem.

Rapidamente, todos os telefones tocaram ao mesmo tempo, recebendo uma mensagem em comum da empresa que dizia:

"O contrato foi restabelecido juridicamente. Iremos começar amanhã. O endereço está em anexo. Além disso, como será em um local alugado, exigimos que vocês utilizem uniformes que sigam os padrões da empresa que forneceu as salas." - Assinado por Natalie Neuvoir.

- Um e-mail direto da Natalie, isso é incrível! - disse Uriela, animada.

- Onde fica isso? Eu não conheço a cidade. - disse Estevam, confuso.

- Uniformes? Como assim? Nós não temos dinheiro para comprar uniformes novos. - disse Martines.

"AO TRABALHO!" gritou aquela irritante voz, que nem ao menos tinha dito seu nome. Todos começaram a trabalhar rapidamente, um pouco aflitos por não saberem como iriam arrumar esses uniformes.

Então, no horário de descanso, eu, Uriela e Cley pensávamos em como pagaríamos pelo uniforme. Nisso, a senhora da voz chata ouviu a conversa e se aproximou:

- Eu tenho uma proposta a fazer. Vocês todos precisam de um uniforme para trabalhar, certo?

Todos acenaram com a cabeça. Ela continuou: "Eu tenho alguns uniformes aqui, porém a maioria deles está com muitos defeitos para serem vendidos, então..."

Todos se olharam alegres, pensando que ela os daria. "Eu vou vendê-los a vocês pelo trabalho de hoje", disse ela. Todos se olharam incrédulos, e eu, ainda com raiva, mordendo meus lábios, apenas aceitei, assim como os outros.

Aquela era a única opção que tínhamos no momento. Apesar de ser ruim, tínhamos que aceitar. Quando chegou o final do expediente, começamos a pegar nossos uniformes. Havia alguns ali que nem eram usáveis. Pegamos os melhores possíveis, juntamente com retalhos que sobraram, e começamos a adaptar nossos próprios uniformes seguindo um modelo proposto por Natalie.

Começamos a trabalhar após o horário em nossas próprias roupas, utilizando retalhos que combinavam com o que gostávamos para construir. Era um verdadeiro milagre a senhora de voz insuportável nos deixar ficar depois do horário; ainda bem que temos a Uriela e seu poder de persuasão.

Ao construir minha roupa, pensei em trazer algo mais com a minha cara. Como a modelagem era escolar, não podia exagerar como de costume nos meus croquis, então fiz apenas alguns ajustes, deixando pequenas modelagens de coração por toda a minha roupa. Aquilo era minha marca registrada desde que comecei a criar meus próprios designs.

Olho para o lado e vejo Estevam costurando sua roupa; os detalhes em couro e jeans que ele utilizou eram perfeitos, e suas criações pareciam impecáveis, sem nenhum erro na costura.

Quando olho para os lados, vejo que falta algo em minha roupa. Talvez o que eu precisasse estivesse no entulho de roupas. Então, vou na direção e começo a procurar entre aqueles retalhos não tão cheirosos. Logo percebo que a maioria já tinha terminado, e Uriela termina a peça dela.

- Cley, Rose, vamos! Nós combinamos de passar em um bar juntos.

- Eu não terminei o meu ainda, podem ir. Eu fecho tudo.

Uriela me olha e fica relutante ao me entregar as chaves, mas Cley conversa com ela, parecendo ansioso para beber com Martines, assim como ela. Ela me entrega a chave e sai, deixando apenas eu e Estevam terminando nossas peças. O clima parecia pesado e eu apenas tentava ignorá-lo, tentando não pensar em suas atitudes rudes. Então, algo me vem à mente.

Fashion'a Kill'aOnde histórias criam vida. Descubra agora