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Costura do medo

Vou na direção dos montes de roupas e retalhos velhos e começo a garimpar. A sala de costura é pequena, com iluminação fraca e paredes cobertas de tecidos pendurados, que parecem observar cada movimento meu. Meus dedos exploram a pilha até encontrar uma jaqueta de couro. Ao vê-la, percebo que está cheia de buracos, o que me entristece. No entanto, uma ideia me anima: costurar retalhos nela. Pego alguns tecidos e vou em direção à minha máquina de costura.

"Clack!" Um estalo repentino ecoa no ar - a agulha quebrou. Trabalhar com couro não é nada fácil, especialmente para alguém inexperiente como eu. O silêncio que se segue é quase opressor, e a sensação de estar sendo observada aumenta. Estevam me olha de longe, com um olhar de julgamento que parece perfurar minha confiança. Sinto meu rosto corar de vergonha. Suspiro e vou buscar tecidos mais finos, talvez algum funcione melhor. Quando volto da montanha de retalhos para a mesa, percebo que Estevam já se foi, deixando-me sozinha. Minha jaqueta, no entanto, parece finalizada, exatamente como eu havia desenhado. Me surpreendo, mas logo pego todas as peças e tento ir o mais rápido possível para fora para agradecê-lo.

Termino de arrumar tudo, pego minhas roupas e vou para casa, trancando a fábrica que não tem nada de muito valor. Caminho sozinha pela praça, e não acho Estevam em lugar algum, então ignoro e sigo andando. Já está escuro e as ruas estão desertas. A iluminação pública é escassa, criando sombras dançantes que aumentam minha ansiedade. Um jornal voa em minha direção, pego-o e leio a manchete: "Modelo assassinada, a volta do assassino da moda?" Meu coração aperta ao pensar naquela modelo. Provavelmente tínhamos a mesma idade e sonhos similares. Se ela estivesse viva, poderíamos ter nos encontrado muitas vezes.

Um barulho repentino vindo da direção de uma árvore faz meu corpo inteiro suar frio. Paraliso por um momento, tentando ouvir qualquer outro som. A brisa fria da noite arrepia minha pele enquanto meus olhos varrem a escuridão em busca de movimento. Minha mente corre, imaginando todas as possibilidades terríveis. Então, respiro fundo e tento continuar andando, mas a sensação de estar sendo observada não me abandona.

Passos. Passos rápidos e leves atrás de mim. Meu coração dispara, e uma onda de pânico me atinge. Acelero o passo, mas os passos atrás de mim também aceleram. Viro a cabeça brevemente e vejo uma sombra se movendo rapidamente na minha direção. O medo me toma por completo, e começo a correr desgovernada. Meu coração bate tão rápido que parece querer sair pela boca, e o suor turva minha visão. Tropesso, deixando cair minhas roupas e alguns croquis. Quando percebo que a sombra ainda está me seguindo, pego as roupas e continuo correndo, minha respiração ofegante e irregular.

- Socorro! Socorro! - grito, esperando que alguém me ouça. A cidade parece deserta, e meu grito ecoa nas paredes dos prédios, retornando a mim como uma lembrança distante do que poderia ser ajuda.

Viro uma esquina e dou de cara com alguém, grito de susto, mas logo sinto alívio ao reconhecer Layla Lavric, uma das minhas colegas. Ela estava espiando nossos amigos no bar. Layla vê meu desespero e me acompanha até um banco. Ela não fala muito, e quando fala é quase inaudível.

- Você está bem? - pergunta Layla, com os olhos arregalados de preocupação.

- Sim, agora estou. Layla, né? Por que está aqui? Por que não entra? - pergunto, ainda ofegante.

- Eu não sou tão divertida como as outras pessoas, Rose. Sinto-me melhor sozinha - diz ela, com um leve sorriso triste.

Suas palavras me lembram de meu irmão Rian, que também era doce e reservado. Respeito sua decisão, mas a aconselho a tomar cuidado, pois a cidade é perigosa à noite. Ela sorri, surpresa com minha aceitação, e me despeço, indo em direção ao bar.

- Rose? ROSEEEE! - grita Uri, aparentemente bêbada, balançando-se perigosamente.

- Cley? O que houve? - pergunto, tentando entender a situação.

- Ela bebeu demais - respondem, com um olhar de desculpas.

Pegamos Uri nos braços e a levamos para casa. No caminho, tento contar o que aconteceu, mas eles estão bêbados demais para prestar atenção. Provavelmente, terei que explicar tudo para a senhora Daniela mais tarde. As luzes das ruas piscam, criando um efeito estroboscópico que aumenta minha sensação de irrealidade.

De longe, olhos cerrados nos observam. No escuro, quase nada é visível, exceto a intensidade daquele olhar. Em uma mão, alguns rascunhos perdidos são segurados. A pessoa sorri, um sorriso macabro, feliz ao ver as anotações de Rose sobre a competição. Um bêbado cambaleia em direção ao bar, já fechado.

- Senhor, me leve até o bar, por favor - ele mal termina a frase, a voz afetada pela bebida.

- Olha, eu até te deixaria vivo e ignoraria sua existência patética, mas você estava assustando as crianças. E o pior... me chamou de senhor... - A voz do agressor é baixa e fria, carregada de desprezo.

Uma agulha de crochê voa e perfura seu olho. Ele cai, desesperado, tentando correr e pedir ajuda, mas a dor e a escuridão o imobilizam.

- Seus olhos parecem estar pulando para fora - diz a figura sombria, sorrindo.

- Por que está fazendo isso? Pare, por favor - suplica o homem, sua voz um sussurro agônico.

- Preciso chamar a atenção de alguém especial. Então, fique quietinho e morra logo.

Ela enfia uma pequena agulha no outro olho do homem, enquanto canta uma canção de ópera. Em seguida, pega uma roupa de sua mala e veste o corpo caído. Depois, se afasta, suas pegadas manchando a grama com sangue. A figura desaparece na escuridão, como se nunca tivesse estado ali, deixando um rastro de mistério e terror no ar silencioso da noite.

Fashion'a Kill'aOnde histórias criam vida. Descubra agora