9. Jantar, Diablo Red e Vinis

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Tia Mitsuki como sempre foi rápida, ajudou com o restante das coisas na cozinha, a mesa estava quase pronta, eu tinha que ser rápido, fui em direção ao banheiro e lavei o rosto, meus pensamentos estavam tão confusos, eu sei o que senti, sei que assimilei aquela voz a do bastardo do Tom. já passou, aquilo não voltaria a acontecer de novo, então por que só não esquecia esse evento de vez? Era ridículo, na sua outra vida ele havia superado, então nessa devia ser mais fácil assimilar isso.

Jogou água em seus rosto e encarou o espelho, seu rosto estava avermelhado, não poderia sair sem antes o seu rosto voltar ao normal, continuava pensando nisso, então enxugou o rosto e respirou fundo antes de abrir a porta, não tinha percebido que tinha sido seguido para o banheiro. Me deparei diretamente com Katsuki e sua expressão neutra.

-O banheiro tá liberado. - disse antes de passar por ele e tentar seguir, ele segurou meu braço, isso aconteceu tanto recentemente, mas ainda era estranho sentir ele o pegando pelo pulso sem o queimar.

-Eu não quero usar o banheiro seu idiota. - falou e me puxou pelo corredor até chegar na varanda - O que aconteceu?

Não sabia lidar com essa versão intrometida de Katsuki, se sentia na obrigação de responder sempre que ele se dirigia a si, mas sabia que isso era só uma bobeira instintiva do antigo dono do corpo, era só inocência vinda de um corpo de criança, com um cérebro de criança. Esse cara, sempre querendo saber de tudo, como se eu devesse informações para si toda vez, sentia que o garoto era muito diferente do Katsuki do seu mundo, não saberia dizer se foi pela diferença de idade dos dois, ou se ele tivesse conseguido mudar o futuro com suas ações que estão diferentes da do verdadeiro.

Não teria como saber por agora sobre isso, só teria certeza absoluta com mais alguns anos.

-Eu só fiquei um pouco tonto, nada de mais. - ele não parecia satisfeito só com isso, esse garoto era astuto para a idade, sempre soube que Bakugou era um gênio, sempre bom de mais para a idade - Eu estou bem, obrigado por estar preocupado comigo, e por ter me ajudado.

-De que merda você tá falando, eu não estou preocup-

-Katsuki, eu não teria conseguido sem você. Você é meu herói. - ele parecia ter ficado bem chocado com minha frase, eu também estava assim apesar de ter saído da minha boca.

Ficou um breve silencio, a expressão do loiro mudou várias vezes, as vezes para choque, confusão e por fim ele ficou com a irritada de sempre.

-Olha aqui seu nerd, anota o que estou falando. Eu sou e sempre vou ser o melhor, então é bom não esquecer das suas palavras. Eu sou seu herói agora, não retire isso nunca mais. - falou com a mão no peito, como se recitasse o hino nacional, com aquele sorriso largo e agressivo que só ele sabia fazer, não pode deixar de pensar em como o significado desse sorriso mudou agora, antes era o sorriso que o fazia sentir medo e se proteger, mas agora parecia aquecer seu peito - E não se engane, não somos amigos. - virou o rosto com um leve rubor de vergonha.

-Eu não quero sua amizade. - falei curto e seco, e o loiro virou novamente indignado, ele realmente se acha - Não se engane só por causa do que eu te disse.

-Eu não ligo. - cuspiu irritado.

-Tudo bem.

-Ótimo.

Saiu batendo o pé, ele sempre queria ter a última palavra. Riu com o pensamento, ele era tão difícil, estava cansado, teria que voltar para a mesa, não pode deixar de suspirar antes de sair da sacada e andar pelo corredor até a cozinha.

Sua mãe parecia ter acabado o jantar, o detetive acanhado com o ambiente onde estava começou a ajudar a por a mesa junto de Masaru, que parecia estar bem feliz em ter um outro homem adulto na casa. Podia imaginar, tia Mitsuki e mamãe conversando sobre várias coisas que não encaixavam bem com o tio, e eu e o Katsuki éramos crianças, se sentia só, pelo menos agora teria companhia de um igual novamente. Antes era o tio e seu pai, bons amigos.

Katsuki já está sentado na mesa, esperando a hora de atacar os pratos e comer, então fiz o mesmo e me sentei na cadeira próxima, quando todos se sentaram, acabei ficando entre Tanema e Katsuki, o que parecia ser ruim, já que o loiro parecia não gostar do adulto ao meu lado.

Tudo pareceu correr bem. O assunto, os sorrisos, Tanema parecia estar se enturmando bem, perguntaram muito sobre como funcionava seu trabalho e como ele começou, um assunto que tinha conhecimento da delicadeza, se sentiu culpado por saber, esperava as respostas do adulto sobre, mas sentiu um frio na espinha e quando desviou o olhar para o detetive ele o olhava de canto também, ambos cruzaram a visão, e desviou seu olhar assim que aconteceu.

-Então detetive, como soube que queria entrar para a polícia? - perguntou Inko animada.

-Bem, minha entrada na polícia foi após um caso de serial killer de crianças na minha cidade natal. - os adultos na mesa pareciam chocados e Kacchan não deu atenção - Eu tinha me casado com minha esposa a 15 anos e meio, e tiremos um filho, o Shoji, tinha 10 anos. Meu filho foi a última vítima desse Serial Killer. Não consegui justiça pelo meu filho na época, mas decidi que faria meu melhor para dar justiça a outras famílias.

Ficou um silêncio na mesa, Katsuki pela primeira vez olhou pra Tanema, um rosto Inexpressivo e com a bochecha cheia de comida, falou:

-A família Bakugou sente pela sua perda. - e pegou carne de seu prato e colocou no de Tanema.

Mitsuki e Masaru imediatamente ficaram vermelhos, e Tanema parecia muito surpreso, na verdade compartilhei do mesmo sentimento.

-Você é um garoto muito fofo e educado, Katsuki. - minha mãe falou sorrindo e serviu mais comida no prato do loiro - Coma bastante para se tornar um herói grande e forte. A família Midoriya entrega seus pêsames igualmente.

Tanema riu um pouco e agradeceu a consideração, e quando o assunto voltou toquei seu braço e ele olhou para mim, aproveitei a abertura e coloquei carne no seu prato, e voltei a comer.

-Você tem que comer bem para capturar mais pessoas más. - disse só para que ele ouvisse, admitia estar um pouco envergonhado - Obrigado. - sussurrou por último.

—Obrigado. — Tanema riu.

-Ei tia Inko, quando o Deku volta pra escola?

-Oh, não foi decidido ainda. - Inko respondeu sorrindo.

-Quero sair daquela escola. - falei e o sorriso de Inko se desfez e ela olhou na minha direção igual a todos na mesa, continuei apenas cutucando minha comida sem dar muita impotência - Assim que eu fizer o exame eu quero mudar de escola, e já estamos no início de Maio, então dia 15 é o exame.

Katsuki parecia surpreso, já os adultos pareciam ter entendido. Não era a primeira vez que eu comentava querer sair, então mamãe não se importou, na verdade pesquisamos juntos novas escolas para ir, tinha muitas opções muito boas já que mostrei resultados incomuns, eu poderia ganhar uma bolsa em uma escola de elite se eu fizesse uma prova e mostrasse resultados contínuos. Pretendia seguir por aí, e passar bem longe de Aldera. Aquele lugar podre, com pessoas horríveis.

Se iria seguir um caminho diferente, então faria direito, viveria da maneira que quisesse, dessa vez com escolhas melhores. Faria algo que goste e admire, e teria sucesso com isso, daria orgulho e uma boa vida para sua mãe, a única família que ele precisava era ela.

—Depois do exame?

—Exame para descobrir o gênero secundário, Sr.Tanema. — Masaru o informou.

—Oh, eu havia me esquecido que esse exame era feito na escola.

—Uma coisa que não entendo direito é como que o exame é feito junto da revelação quando completamos 8 anos em uma única data sendo que todos fazem aniversário em meses diferentes. — Katsuki expressou a dúvida, a fim de ser respondida, de maneira bem descontraída para seu gosto.

—Na verdade o GS pode ser descoberto até mesmo antes de se completar 8 anos, e por isso uns meses de diferença não são relevantes. — Inko tomou a frente para explicar, como profissional da saúde — O motivo para não se fazer o exame quando mais jovens que isso é porque seu corpo não teve o desenvolvimento necessário para aguentar passar pelas mudanças do avivamento do mesmo. E não é feito mais tarde para que seu corpo se adapte aos efeitos colaterais antes de completar a maior idade e não traga problemas para a sociedade.

—Em conclusão de muitas décadas de estudo essa idade é a ideal para o avivamento do GS. — Completou Mitsuki.

—Tem como descobrir o GS sem ativar? — me aproveitei da situação para também aprender um pouco mais.

—Tem sim, mas é um procedimento desnecessário e cansativo. Além de demorar para se descobrir, precisa de várias amostras de sangue a mais que um exame nacional. No exame público uma gota de sangue já é o suficiente já que eles usam a vacina para ativar. Tem várias variantes que o tornam melhor também, mas eu ficaria a noite toda explicando. — Inko parecia gostar desse assunto, e de fato era bem intrigante, poderia querer saber mais sobre esse GS no futuro.

—Por que alguém que desperta mais velho se torna um problema para a sociedade? — Katsuki soltou sorrateiro, parecia estar tão interessado como eu, mas Inko parecia ter ficado desconfortável com a dúvida dessa vez, quando abriu a boca para possivelmente desviar o assunto, Tanema tomou a frente.

—Pessoas mais velhas tem dificuldade maior em aprender algo, e nesse caso seria aprender a se controlar. Dependendo do GS da pessoa, ela pode se desgovernar por não saber como conter seus novos instintos, e acabar machucando outras pessoas ou a si mesmo, já que quando se é mais velho seu GS já estaria totalmente formado ele viria com toda a potência, mas quando novo ele cresce e desenvolve junto com você. — Tanema parecia entender sobre essa parte dos GS, talvez por fazer parte do seu trabalho de certa maneira.

—Ah tá, entendi. — e Katsuki parecia ter voltado ao seu desinteresse.

—Eu gostei da comida, estava tudo ótimo. — elogiou Tanema — Fazia tempo que eu não comia algo caseiro tão bom.

—A comida da Inko é sempre ótima, parece uma cozinheira profissional. — Mitsuki parecia um fã vibrante no momento.

—Sua esposa não cozinha bem? — o loiro não tinha nenhum filtro por ser criança ou porque era babaca?

—Eu e ela estamos divorciados. — Tanema respondeu não parecendo ter pesar em sua voz, e Mitsuki fuzilou o loiro da sua cadeira — Mas nenhum de nós era bom na cozinha de toda forma.

—Pode vir comer em outras oportunidades Tanema, será sempre bem vindo nesta casa. — admirava a rapidez de sua mãe.

O assunto parecia correr normalmente durante o resto da noite, até dar a hora dos Bakugou se despedirem e irem embora. Estava com sono, era tarde, Tanema e sua mãe estavam lavando vasilhas juntos na cozinha, e por um instante viu as costas de seu pai na do detetive. Talvez estivesse sentimental demais esses dias.

Até que por fim, Inko deixou as vasilhas de lado e levou Izuku para o quarto, que apenas adormeceu sem dificuldades. Talvez esse corpo fosse a causa de sua facilidade dm dormir. Assim que a esverdeada desceu, Tanema enxugava suas mão em um pano de prato.

—Você não precisava se dar o trabalho. — Inko disse ao chegar na cozinha.

—Eu me sentiria mal se não ajudasse a arrumar a bagunça. Você também deve estar cansada depois de tudo. — falou ambos indo para a mesa já limpa — Como ele está?

—Ele praticamente desmaiou no colchão assim que deitou. — sorriu um pouco, antes de ter uma ideia — Detetive, está com pressa?

—Não. — falou vendo as horas no pulso, já era quase 1h — Peguei dois dias de folga, então hoje estou bem.

—Isso é bom. Então se importaria de me acompanhar em uma taça de vinho? — falou já indo em direção ao armário e puxar um Diablo Red de 8 anos.

—Já faz anos que não tomo vinho acompanhado. — sorriu nostálgico.

—Eu também.

Em um temporal parecia-se que ambos falavam de seus ex pares amorosos, talvez em um tom de luto. Inko  então pegou duas taças e abriu a garrafa e serviu os dois, da geladeira ela pegava um pouco de queijo e os cortava habilmente em cubos, Tanema enquanto isso explorava os vinis da estante, e se impressionando ao ver o disco Easily do Bruno Major. Gostava desse, então pediu consentimento ao por a música, e assim o pós, sentiu uma melodia de Soul, gostava desse estilo, era muito parecido com um jazz clássico, suave.

—Também gosto dessa. — a esverdeada comentou colocando o prato com queijo e azeitonas espetadas na mesa.

—Eu não me lembrava da última vez que aproveitei uma taça de vinho, ou a última vez que escutei um vinil. — se sentou na cadeira pegando a taça e saboreando.

—Acho que temos isso em comum. Depois do acidente eu estive tão ocupada tentando manter nossas vidas estáveis que me esqueci do mais importante. — seu olhar era distante, se lembrando de Hisashi, e depois voltando para os eventos recentes, sentindo-se culpada — Se eu não estivesse tão distante, tão inerte no trabalho eu poderia ter evitado tudo isso e ele estaria bem. Me pergunto quantas vezes tenho que errar com ele para aprender a lição.

—Srta.Midoriya, nada disso é culpa sua.

—Eu não tenho tanta certeza detetive, Izu mostrou que estava desconfortável quando estava perto dele, e eu ignorei achando que era só birra. Colocar ele tendo aulas sozinho com aquele monstro, eu concordei com os método dele, me deixei ser encantada por alguém tão nojento. Ele só estava me manipulando e agindo como eu queria que os professores agissem com o Izu, ganhando minha confiança. — apertou os lábios firmemente irritada e enojada, se lembrando do vídeo de seu filho sendo tocado por aquele monstro — Ele tocou no meu bebê, machucou ele, eu poderia ter evitado tudo isso se tivesse aprestado mais atenção nele, ao invés disso outra criança o salvou, ele se pós em perigo.

Já era tarde, quando percebeu já estava chorando de novo. Era tão fraca, estúpida, sempre chorando por tudo, já tinha passado da hora de virar adulta e deixar essas manias infantis, sentia falta do conforto de Hisashi, das suas palavras gentis, pelo visto ela ainda o amava muito.

Sentiu uma mão em suas costas, tímida e sem graça, uma tentativa de conforto partida de Tanema, admitia não ser bom nisso.

—Quando meu filho se foi, eu me culpei pelo que aconteceu. Apesar de não ter como eu saber o quer iria acontecer, se eu tivesse buscado ele como sempre fazia ao invés de ligar para a escola o liberar, isso não teria acontecido. — o olhar de Tanema mirou em direção a sua taça, brincando com o líquido — Eu vi um homem estranho algumas vezes por aquelas bandas, eu achei que estava só sendo paranoico já que ele nunca tinha feito nada de fato, eu ignorei esse sentimento, ignorei meus sentidos me avisando, e o resultado foi perder o meu bem mais precioso. — ele tirou sua mão das costas de Inko e a subiu para seu ombro — Eu fiquei mal, não consegui lidar, minha ex esposa superou melhor que eu, e tive que a ver me deixar por estar exausta de me carregar. Eu não consigo esquecer, não consigo superar, então eu entendo esse sentimento de culpa. Mesmo que a culpa não seja nossa, sentimos que podíamos ter feito algo minimamente diferente que poderia mudar o resultado.

Ele tirou sua mão e voltou a encarar o próprio copo, e Inko suspirou alto, o vinil já havia parado de tocar. Só um silêncio pesado.

—A culpa não é sua detetive. — Inko falou e Tanema sorriu.

—Você também não teve culpa, Srta.Midoriya. — riu baixinho, e ela fez o mesmo.

—Pode me chamar de Inko.

—Eh, meu nome é Tanema, Kai Tanema. — ele parecia constrangido, seu nome era incomum e nada criativo, Inko por outro lado estava totalmente surpresa.

—Seu primeiro nome é Kai? — viu o policial mudar de cor e depois riu — Eu nunca iria imaginar um nome tão fofo.

—Vai zombar de mim agora?

—Oh, me desculpe. — pegou um dos seus espetos de queijo e azeitona e levantou para colocar mais um disco vinil, dessa vez uma melodia bem impactante.

—Isso é Sam Smith?

—Acertou em cheio, é Pray.

—Você tem bons gostos musicais.

—Obrigado, eu acho.

O assunto correu, dessa vez para coisas mais positivas, logo suas taças de vinho estavam vazias, e o queijo pela metade no prato, e de novo a taça cheia. Eles ouviram muitos discos, a maioria lembrava Inko de Hisashi, a maioria era dele no fim das contas. E quando ambos já estavam meio altos, eles compartilharam resolveram ouvir um último som um pouco mais calmo, um instrumental de Nicholas Britell e um pouco Daniel Caesar.

—Já está tarde, é melhor eu chamar um táxi e ir para casa. — falou o homem recolhendo sua jaqueta perto da porta — Eu me diverti muito hoje, então obrigado Srta.Inko.

—Eu também me diverti, Sr.Kai, agradeço por aceitar o convite. — a esverdeada andou em direção a porta passando por Kai e a abrindo para que o homem passasse — Eu falei sério sobre poder voltar quando quiser, sempre será bem vindo aqui. Obrigado por tudo, por ter feito um ótimo trabalho, e por me fazer companhia hoje.

—Foi bom ouvir um vinil depois de tantos anos, eu deveria fazer isso mais vezes. — sorriu passando pela mulher, colocando seu casaco já do lado de fora.

—Pode pegar emprestado alguns qualquer dia, tenho mais daqueles no outro quarto onde ficava o escritório. — ofereceu, de certa maneira prolongou o diálogo para que o homem não fosse embora, mas já era hora de ir.

—Se não se importar. Bem, então estou indo, tenha uma boa noite Srta.Inko. — por último se despiu e seguiu pelo corredor até chegar no andar de baixo e por fim sumir da vista de Inko.

Ele continuou andando, sentindo seu rosto queimar a cada passo que dava para longe, e quando percebeu já estava na estação de trem, respirou fundo e passou a mão pelo rosto checando sua temperatura. Pediria um táxi de lá.

BNHA - Depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora