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Cap.14 | Más Lembranças

[ POV - NOAH ]

Meus olhos se abriram assim que meu corpo despertou. A forte luz me cegou, a sensação de dormência em minha garganta me troxe um incômodo estrondoso e a dificuldade de respirar deixou-me em estado de desespero. Comecei a me mexer com afobação, olhando em volta para entender onde eu estava e o que havia acontecido.

— Se acalme, se acalme! — A mão em meu ombro e a voz calma da mulher me surpreendeu, interrompendo minha agonia. — Você teve uma crise alérgica muito forte, ainda está sob efeito de remédios, preciso que respire devagar.

— Onde eu tô?! — Com dificuldade e uma certa dor, pronunciei.

— Hospital Ebara, em Tokyo. Você deu entrada ontem à noite, dia 23 de abril, às 21h37 da noite. Agora são 14h13 da tarde de 24 de abril, seu diagnóstico apontou choque anafilático desencadeado por um alimento alérgeno.

Choque anafilático...?

O bolinho de nozes... — Constatei num sussurro que apenas eu pude ouvir.

O bolinho de nozes que Suna havia me dado quase tinha me matado! Havia chances dele ter feito isso de propósito?! Seria possível que seu ódio por mim fosse tão grande ao ponto de literalmente tentar me matar...?

Aquele filho da puta desprezível! Eu vou denunciar esse arrombado de merda por ter feito isso comigo! Vou acabar com a vida e a carreira desse imbecil!

Como pude ser tão idiota e pensar que alguém como ele pudesse ser agradável? Abri uma pequena brecha para que ele se aproximasse, porque o modo como se prontificou a resolver a situação de nossas provas trocadas me cativou. Porque foi afável comigo quando ficamos presos naquele armário. Porque me presenteou e me agradeceu com sinceridade...

Como pude pensar... que talvez eu pudesse abrir o meu coração para ele...?

— Você está com muita dor? — Ela volta a questionar.

Não tá doendo... — A voz falha saiu de minha boca.

Foi então que notei o motivo de sua pergunta, visto que eu tinha começado a chorar sem ao menos perceber.

— Tem certeza? Posso buscar um analgésico pra você.

Não precisa. Não busque mais remédios, por favor. — Esfreguei minhas mãos em minhas bochechas, recolhendo as lágrimas ali. — Eu não tenho plano de saúde. Não sei nem como vou pagar a conta do hospital.

— Pelo o que eu soube, todos os seus custos aqui no hospital foram pagos pelo seu responsável.

Me mantive inerte em estado de choque por um momento após seu dito, ponderando sobre o que ela falou.

Moça, acho que pagaram por engano...

— Você é Noah Collins?

Sim, sou eu.

— Não foi engano.

Mas eu não tenho responsável aqui no Japão! — Aleguei, com medo de ter que acabar tendo que devolver um dinheiro que eu não tinha para alguém que cometeu alguma confusão. — Quem pagou?

— Aquele homem logo ali. — Ela apontou.

Virei meu rosto no mesmo instante para a direção indicada e enfim notei a figura adormecida de Suna no sofá de visitante no canto do quarto. E, neste momento, absolutamente nenhum pensamento se estabeleceu em minha mente e eu já não tinha mais idéia alguma do que realmente ocorreu.

— Você não reconhece esta pessoa? — Ela soou preocupada.

Eu reconheço ele! — Afirmei no mesmo instante. — Mas não tô entendendo mais nada do que tá acontecendo...

— Ele trouxe você aqui. — Ela explicou. — Ficou até de madrugada esperando por notícias suas. Saiu por um tempo e voltou ainda de manhã, bem cedo. Ficou do seu lado até que eu chegasse.

Enquanto ela falava, alguns acontecimentos vinham à tona, me fazendo questionar a realidade dos fatos. Lembrava do homem me pegando no colo e correndo pelo estacionamento até seu carro, dele dirigindo em alta velocidade e dizendo coisas como "já estamos chegando no hospital" e "vai ficar tudo bem, eu prometo".

Ele realmente não fez isso de propósito...?

— Você parece confuso com o que ele fez. — A mulher analisa. — Quer que eu o acorde?

Não precisa. Você disse que ele saiu de madrugada e voltou de manhã. Deve estar cansado. Vou esperar ele acordar.

— Tudo bem. — Ela acatou ao meu pedido. — Agora já chega de falar. Seu rosto e pescoço ainda estão um pouco inchados e sua pele ainda está bem avermelhada. Vou fazer mais alguns exames agora que você acordou, te trazer o almoço e, depois, quero que descanse. Tudo bem?

Tudo bem, muito obrigada.

As coisas aconteceram assim como a mulher programou. Fiquei deitado naquela cama hospitalar por um bom tempo após comer, esperando Suna acordar para que pudéssemos conversar. Contudo, eu ficava ansioso a cada hora que se passava e ele não despertava de seu sono profundo. O dia terminou quando o relógio chegou à meia-noite e, já sem paciência, levantei-me do leito e andei até ele.

Suna! — Chamei baixo de modo falho devido a dor e também por eu ter apenas pronunciado algumas palavras de manhã com a enfermeira.

Não obtive nenhuma reação de sua parte. Permaneci em pé olhando para ele por um tempo, até que me sentei na outra extremidade do sofá, não tirando os olhos dele nem por um minuto.

Que intenção você teve, Suna? — Balbuciei em meu monólogo.

Ficou esperando por notícias minhas por horas, voltou ao hospital de manhã e ficou do meu lado até que algum funcionário chegasse... Como devo interpretar isso? Seria somente culpa? Por que ele faria isso por mim?

Além disso, qualquer pessoa um dia já fez algo assim por mim...?

Suna, acorda. Preciso falar com você. — Pedi e, de novo, não obtive retorno. Em seguida, apoiei um dos joelhos no sofá e me inclinei sobre ele. — Ei, acorda!

Com hesitação, aproximei minha mão de sua bochecha para tocar seu rosto, nervoso por ele não estar acordando. Mas, assim que toquei sua face, ele mexeu a cabeça instintivamente, se aconchegando em minha palma.

Fiquei sem reação de primeiro momento. As batidas de meu coração ficaram mais fortes em meu peito e um frio na barriga me atingiu de forma tão intensa que ocasionou uma sensação de dormência no corpo todo, me fazendo levar minha outra mão para seu rosto.

Meus olhos analisaram até os mínimos detalhes de sua face enquanto eu tomava coragem para chamar por ele novamente.

Ei, Suna. — Falei e ele finalmente demonstra começar a despertar. — Suna!

Lentamente, seus olhos se abrem e encontram os meus. E, naquele momento, o único pensamento que me veio foi: "É...talvez eu possa abrir meu coração para ele."

Eu te chamei várias vezes, mas você não acordou. — Iniciei. — Fiquei preocupado.

(...)

Love  to  hate •  [Suna Rintarou]Onde histórias criam vida. Descubra agora