"Ninguém tem maior amor do mundo do que aquele que dá a própria vida pelos seus amigos."
(Jo 15:13)"Como vencer o medo?"
Sinceramente, eu não sei responder essa pergunta. Não tenho medo de tudo, mas do que tenho sinto que é terrível e avassalador. Mas isso não tem nada de especial. Acontece com todo mundo dessa mesma maneira. Alguém pode até rir daqueles que temem aranhas, mas tremem na base ao ver uma arma e, incrivelmente, vice-versa. O medo realmente faz parte do cotidiano do ser humano. E com as pessoas de fé não é diferente.
O medo consome a nossa essência, "come" a nossa alma e nos faz parar de pensar e agir por impulso que nos diz para fugir e se esconder. É bem típico mesmo da humanidade. Quer dizer, Davi(1 Rs 22: 1-23) fugiu, bem como Elias (1 Rs 19: 1-13). Ambos homens do Senhor, liderados por Deus, que sucumbiram ao medo e que me fizeram ter a burrice de perguntar o porquê eu também não poderia fugir também.
Outros nomes também poderiam ser lembrados, como Baraque (Jz 4: 1-9), mas não é nesse ponto que eu quero conversar hoje. Apenas é importante lembrar que, mesmo fugindo por causa do medo, Jesus continua me amando. O que não significa que Ele quer que você continue fazendo isso. Por que é por Seu amor (pelo amor do Seu Nome) que ele prefere que tomemos uma posição de crente: a fuga é boa (para nós), mas o enfrentamento e a coragem são muito mais preferíveis à alguém de fé. É só lembrar que não tem como ser cristão e ser, ao mesmo tempo covarde.
Então, como posso agir ao enfrentar algum medo meu? Sinceramente, eu não faço ideia. Eu não tenho, e nem sei se é possível ter, um manual para ser um bom e valente cristão. É algo para ser trabalhado no dia a dia, luta por luta, medo por medo. Algo difícil e dolorido, até.
Bem, eu não tenho um manual, mas tenho alguns exemplos. Alguns vários, desde Gênesis até Apocalipse, mas, por agora, eu gostaria de citar três:
1. Jesus, orando no Monte Getsêmani (Mt. 26: 36-46, Mc. 14: 32-42, Lc. 22: 39-46, e Jo 18: 1-11). Naquele momento, Nosso Senhor estava tremendo de medo e angústia e pediu ao Pai para que aquele cálice se afastasse Dele, ou seja, que Ele pudesse evitar todo o sofrimento que padeceu para salvar a mim e a você. Sempre que leio essa parte, imagino que Jesus chorava durante essa oração. De qualquer maneira, mesmo com o medo, Ele complementou: "mas que seja feito a Sua vontade" e isso quebra o meu coração, por que Deus, como ser humano, sofreu tantas dores para me salvar, a mim que sou uma simples pecadora. É impossível não se render aos pés de um amor tão grande assim.
E é também impossível que essa qualidade de amor se perca por causa do medo, pelo contrário, é corajosa, imbatível e incalculável. Jesus, naquele momento de agonia, de angústia, de terror ainda escolheu seguir o Senhor e, corajosamente, legitimou-se Senhor não apenas da morte, mas dá também da vida e tem o nome mais alto do que qualquer outro, no Céu, na Terra e debaixo da terra.
Mas o problema é que algumas pessoas, podem falar sobre como Jesus é Jesus e nós, humanos, somos só, bem, humanos. E alguns podem justificar suas fugas na sua humanidade. Estão, claramente, corretos, Jesus é Jesus, mas isso não tira o mérito desse momento. Aliás, só o valoriza ainda mais. Mesmo assim, vale lembrar que foi Deus quem criou a humanidade e é Ele que, se aceitarmos, pode guiá-la. Por isso, vamos ao nosso segundo exemplo:
2. Ananias, o varão honrado (At 9). Eu ia fazer um capítulo sobre Ananias, mas não o fiz e acabei trazendo ele para cá, por que Deus me lembrou desse homem durante uma situação em que eu estava com medo. Então, decidi colocá-lo aqui porque a sua atitude chama muito a atenção de quem para para ler o nono capítulo de Atos. Em suma, sua participação no livro dos Apóstolos é curta: Deus fala com ele, ordenando que ele vá encontrar e abençoar Paulo, recém encontrado com Jesus e cego.
Conhecer Paulo, o apóstolo, faz com que a gente esqueça um pouco a existência de Paulo, o assassino, mas Ananias lembrava muito bem. Na verdade, ele viveu com medo desse matador que matou, creio eu, muito de seus amigos e poderia, inclusive, matar o próprio Ananias. Mas mesmo assim, ele foi seguir a ordem de Cristo, com dores e angústias. Ele não era Deus, e não poderia saber que Paulo se converteria. Também acho que ele não leu esse capítulo de Atos, em específico. O ponto é que, mesmo com medo, Ananias seguiu a ordem do Senhor e foi abençoar aquele que nunca o tinha abençoado antes. Ele seguiu a Deus em sua humanidade e, por isso, sempre será lembrado como "um homem de Deus".
Mas aí, eu também poderia pensar que Ananias seguiu o Senhor por ter ouvido a voz de Cristo, dizendo que Paulo "era um vaso escolhido por Ele para levar o evangelho aos gentios" (mesmo que isso não tire a coragem que ele teve). Então, vamos para o último exemplo escolhido.
3. Josafá, a peleja não é tua (2 Cr. 20: 1-34). No segundo livro de Reis, conhecemos o rei Asa que reinou durante quarenta anos em Judá e, o seu filho, Josafá. Ambos foram reis que escolheram servir ao Senhor de todo o seu coração e lutaram contra os pecados do Reino do Sul.
Inclusive, a Bíblia fala, no capítulo, sobre como Josafá se esforçou para agradar a Deus, terminando a obra de seu pai com alegria e força. O irônico é que justamente no capítulo seguinte, está escrito que veio um batalhão contra Judá e que o ataque viria forte e procurava não só roubar, mas também invadir e destruir completamente o rei e seu reino. Completamente sem reação, Josafá escolhe orar ao Senhor e convoca todo o povo para ter a mesma atitude, jejuando e suplicando misericórdia.
O engraçado é que, quando estamos em uma situação parecida com a de Josafá, muitas vezes escolhemos reclamar e falar sem parar sobre como sempre fazemos tudo para Deus e ele parece nem olhar isso. Ás vezes, nós (e eu ressalto muito o 'eu' incluso em 'nós') encaramos mais o batalhão do que a profecia. E não foi isso que Josafá fez.
Pelo contrário, o rei orou a Deus e suplicou misericórdia e foi respondido por uma profecia que veio do meio do povo. O Senhor respondeu que a luta não era do rei, e que ele não lutaria, pois a batalha seria vencida pelas mãos sagradas do Senhor e seria Ele que resolveria essa situação. E, mesmo com medo, como todos os outros que me serviram de exemplo, ele preferiu confiar em Deus e não no que via. Melhor, não no que sentia naquele momento. E Deus o honrou por isso.
Não se enganem, o medo não é ruim, mas a confiança absoluta nesse medo é o que te faz ser separado de Deus por ele. E sim, claro, existem fobias que precisam ser tratadas com especialistas, mas, no nosso cotidiano, muitas vezes, nós escolhemos escutar as nossas dúvidas antes de escutar o Senhor, eu, muitas vezes, escolho as dúvidas antes de Jesus, e isso tem que ser combatido. Como todo pecado é díficil, conturbardo e muito esquisito, mas a paz que o Senhor nos traz é muito mais avassaladora do que qualquer medo que o ser humano pode sentir.
Amém.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MEU PAI E EU: Uma série de reflexões sobre fé, amor e religião
SpiritüelEssa é uma coletânea de reflexões minhas, inspiradas por trechos da Bíblia, o meu livro favorito. É um trabalho íntimo, bonito e confortador. Tem o confronto, claro, que atinge quem lê, mas que, principalmente, afeta quem escreve.