Capítulo 1: Eu vejo tua cara

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Era uma noite chuvosa de janeiro, como outras repetidas noites, Natalia revisava seu trabalho fotográfico ao som de sua música favorita, Sangue Latino com um bom vinho branco enchendo sua taça. Sentada sobre o grande carpete de sua sala, observava cada foto, admirava cada detalhe capturada por sua câmera, selecionava os melhores sorrisos, os fragmentos mais naturais, afinal, em uma semana sua exposição deixaria de ser um sonho e se tornaria uma realidade.

Perdida em pensamentos e fotografias, uma, muito específica lhe chamou mais atenção, a mais antiga de seu trabalho atual, tirada a exatos dez anos atrás, de longe a sua favorita entre centenas de outras, era a foto de Carol, atras de uma árvore, tirada em uma de suas visitas na clínica em que Natalia ficara em tratamento após uma recaída. Carol era sua amiga desde os 15 anos, mais que amiga, agora Natalia entendia que Carol era o amor de sua vida, finalmente conseguiu entender esse sentimento graças a meses de terapia com a Drª Lídia, que além de terapeuta se tornou uma grande amiga.

Mas infelizmente quando descobriu a clareza de seus sentimentos, já era tarde demais, Carol havia decidido aceitar ir trabalhar no Canadá, e lhe faltou coragem para assumir seus sentimentos pela melhor amiga, e desde então Natalia guarda pra si seus sentimentos, vezes esperançosas que Carol volte, vezes a esperança lhe faltava, afinal, fazia dez anos que ela havia ido embora sete anos depois de sua partida ja raramente elas se comunicavam, o pouco que Carol sabia de Natalia era pelas amigas, que falavam como a rotina de Natalia estava um loucura, o que não era mentira, mas omitiam a verdade, que a amiga havia decidido de afastar de seu amor platônico, afim de diminuir a dor de tê-la longe de si.

As amigas nunca foram a favor dessa decisão de Natalia, desde que descobriram dos sentimentos da amiga apoiaram ela a confessá-los, mesmo que a distância, o que nunca aconteceu.

Longe com seus pensamentos mal percebeu a presença de seu irmão mais velho Pedro atrás de si.

- Pensando nela de novo – Finalmente se manifestou fazendo a irmã sair de seu transe.

- Pedro? A quanto tempo está ai? – disse assustada com a mão em seu coração suspirado fundo – Poderia ter me matado do coração sabia?

- Tempo suficiente para saber que você ama a Carol, já faz três anos desde sua ideia mirabolante de não falar com ela, por que está se machucando assim meu amor?

- E já faz dez anos que ela resolveu me abandonar Pedro, eu demorei muito para entender que a Carol jamais será minha, dessa forma talvez eu consiga esquecer ela um dia – Observava melancólica a foto em sua mão – Ou eu simplesmente vou amá-la para sempre sem ser correspondida.

- Você nunca vai saber se será correspondida ou não, se não falar para ela.

- Nove mil quilômetros Pedro, é apenas isso que nos separa, de que adianta agora? – Lagrimas se formaram em seus olhos castanhos escuros, mas não ousaram cair – Eu vou para o meu quarto, boa noite Pedro – Levantou deixando seu irmão ali.

- A irmãzinha, você merece tanto ser amada, espero que não seja tarde demais – Pensou alto.

UMA SEMANA DEPOIS

Finalmente chegou o grande dia da exposição, Natalia estava a todos os nervos e ansiedade, havia acordado quatro horas mais cedo a fim de não se atrasar para sua própria exposição, mas ali estava ela a duas horas experimentando vestidos e ao seu ver nenhum lhe caia bem, ela queria que fosse perfeito, afinal, era a realização do seu maior sonho.

Lara, Renée e Adriana se encontravam impacientes na sala esperando a amiga descer – Lara já faz duas horas, ela vai se atrasar...De novo – Adriana falava andando de um lado para o outro ansiosa.

- Será que não deveríamos falar para ela? – Renée como sempre a mais preocupada do grupo – Pode ser um choque para ela.

- Nós prometemos que seria surpresa, não cabe a nós isso Renée – Lara

- Talvez a Renée tenha razão Lara, você sabe como a Natalia pode ser instável.

- Já chega, não vamos falar nada, vou lá em cima chamar ela, Mario acabou de me mandou mensagens falando que já estão todos esperando ela – levantou do sofá em que estava e subiu as escadas até o quarto da amiga – Natalia? Esta pronta? Já estão todos te esperando.

Ao entrar encontrou a mais velha em frente ao espelho observando sua imagem alisando seu vestido azul de alças mais finas, com uma fenda na perna direita, o cabelo natural um pouco bagunçado e uma maquiagem leve que sempre usava.

- Você está linda, o que tanto te incomoda? – Lara chegou de mansinho abrasando a amiga por trás.

- Eu não selecionei a foto dela

- E você está arrependida?

- Não, eu não quis expor tudo o que aquela foto me remete, ela não está aqui, esse momento é meu Lara, mesmo assim eu não consigo tirar ela da minha cabeça, é como se eu sentisse a presença dela aqui mais forte.

- Ela te apoiou muito Natalia, a voltar a fotografar e realizar seu sonho, é claro que você vai sentir ela nesse projeto, você a ama – essa última frase fez Natalia se virar de frente para a mais nova mudando totalmente sua expressão para um semblante sério.

- Não a amo mais, ela não está aqui, ela foi embora, vamos logo, não quero me atrasar – pegou sua bolsa e saiu acelerada do quarto.

- Aí Natalia quem você ta querendo enganar – suspirava sorrindo – Me espera Natalia !! – gritou.

O evento estava impecável, a artista foi recebi aos aplausos por todos ali presentes, suas fotos ali expostas, seu sonho sendo realizado, seus amigos e família brindando seu sucesso, parecia realmente um sonho, e se fosse, ela não queria acordar.

- Tia você arrasa muito, que orgulho de ser seu sobrinho – Marcos abraçava a tia sorridente.

- Eu tenho tanta sorte de ter vocês aqui comigo – Se emociona – Queria propor mais um brinde, a todos aqui presente, que vieram me prestigiar e ao meu trabalho, é uma emoção muito grande finalmente estar realizando esse projeto que eu tanto almejei, e que não seria possível sem o apoio das pessoas mais especiais em minha vida – ergueu a taça em sina de iniciar o brinde – a todos nós

- Esse momento merece um brinde especial né meninas – Lara puxou as amigas para fazerem o brinde delas desde adolescência – Vamos lá todas, Arrib- Até que foi interrompida.

- Vocês não estavam pensando em brindar sem mim, não é? – Aquela voz... Era irreconhecível, por alguns segundo Natalia acreditou que aquilo não passava de um sonho, um turbilhão de pensamentos e sentimentos passou por sua cabeça.

O tempo parou ao seu redor, suas pernas bambearam, seu coração acelerado, sua mão tremula se esforçava para não derrubar o líquido dentro de sua taça. Percebeu os olhares voltando para atras de si, alguns felizes, outros assustados e chocados, era real, estava acontecendo, ela estava ali.

Dentro de si, juntou todas as forças que restavam dentro de seu peito e virou lentamente pra onde os olhares indicavam, e quando seus castanhos se cruzaram com a imensidão verde, queria chorar, queria muito chorar, dez anos, ela não tinha esse direito.

- Oi Natalia

- Oi Carol


Espero que gostem dessa história e se empolguem assim como eu estou para escrever ela <3

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