Seguro meu coração tão forte por entre as mãos que o vejo ficar roxo, sem dar chance de que ele volte a bater algum dia porque sei que vai doer, e por agora eu cansei de sentir dor.
Meus dedos estão tingidos de um sangue escuro e seco dos dias em que ele ainda pulsava, desde então não o soltei para nada: não tenho comido, ou tomado banho, ou mesmo olhado para mim mesma – e não preciso, a cena é tão estática que é fácil formar as imagens na minha cabeça.
Continuo sentada no meio da cama, com as costas arqueadas e fios emaranhados do meu cabelo sujo caindo no meu rosto apático; tenho um buraco no peito e sangue por todo lado, sangue seco e de odor desagradável mas do qual não consigo me livrar porque para isso eu precisaria soltar o órgão prestes a morrer nas minhas mãos.
Meus amigos desistiram de me visitar porque a cena é grotesca demais para que consigam aguentar, e minha mãe continua rezando baixinho do outro lado da porta esperando que um dia alguma entidade divina me salve de mim mesma.
E a verdade é que ninguém pode me salvar a não ser eu, mas talvez eu não queira ser salva.
Pelo menos não agora.
Ou talvez eu só não tenha a energia e força de vontade necessária para sair desse mesmo ciclo nocivo de pensamento de que estou melhor do que nunca, porque pelo menos agora sou a única capaz de me machucar, se eu morrer será pelas minhas próprias mãos e orgulho, e eu juro que prefiro isso do que ter um coração pulsante e ansioso e frágil de novo.
É melhor assim, é melhor que não cheguem perto.
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twilight flowers
De TodoPequenas flores cultivadas por sentimentos confusos que insistem em desabrochar em madrugadas complicadas, regadas por ansiedades, alegrias, assuntos mal resolvidos ou o que quer seja, desde que baste para o nascimento das mais belas entre estas.