tudo vai, eventualmente, ficar bem

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Hoje o céu se abriu e sorriu para mim. O sol me abraçou e me esquentou e eu pude ouvir as nuvens cantando que tudo vai ficar bem.

Pude ver, depois de muito tempo trancada entre paredes de cansaço e desistência, as cores da felicidade.

As árvores brilharam para mim com seu verde esperançoso num gesto aconchegante que me fez sentir-se em casa.

"Casa".

Eu sempre achei que tal palavra significasse uma estrutura de concreto dura e fria, vazia de sentimentos e empatia cuja colaborou para o crescente sentimento de solidão em mim desde a primeira vez que meus pés descalços tocaram seu chão áspero e gélido.

Mas só agora que estou aqui fora, junto da grama úmida e dos insetos que antes me pareciam tão asquerosos, é que me sinto verdadeiramente em casa.

Sinto a natureza me ninar e me beijar no rosto como uma mãe cuidadosa que sentiu saudades da filha, pois nos afastamos por tempo demais enquanto eu me permitia me fechar no meu próprio mundo cinza e mórbido.

Mas agora estou aqui, e talvez ainda não esteja bem, as cores talvez demorem um pouco para retornar aos meus olhos com seus tons originais fortes e alegres, pois aprendi: nada se recupera de uma hora para outra, a cura leva tempo, assim como levou tempo até que essas árvores crescessem e essas flores desabrochassem e a própria natureza se formasse diante de nós. É necessário paciência e força, pois por mais que seja algo belo e desejado, é um processo que não deve ser apressado.

Mas a certeza é de que tudo vai, eventualmente, ficar bem. As nuvens me disseram, e, diferente das vozes distorcidas e decrépitas que um dia me afogaram em águas escuras e turbulentas, as nuvens nunca mentem.

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