casa

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O silêncio dessa casa é ensurdecedor, machuca, grita e me despedaça por dentro, afogando meus cacos na dor da ignorância, de ser tratada como um cachorro de rua, uma visita indesejada.

Eu tento gritar mais alto que ela, implorando para ser ouvida e enxergada, mas os meus sons são abafados por um travesseiro que esconde minhas lágrimas, dores e inseguranças.

Não há lugar como o nosso lar. Mas que lar é esse, que para ser feliz preciso me esconder e me deixar ignorar?

Adultos também sentem falta de amor, adultos também são carentes, tristes, filhos. E isso não faz ninguém mais fraco ou mais forte, nos faz apenas humanos, e eu me orgulho disso, de ser humana.

É orgulho poder chorar, rir, sentir raiva. Vergonha é ignorar e rebaixar quem sente, quem precisa de uma mão, de atenção ou de um abraço amigo.
E essa casa me ignora. Ela nunca me abraçou.

Eu gostaria que ela gritasse, me batesse, me olhasse nos olhos com fúria e repulsa. Nenhum soco doeria mais do que esse silêncio, essa falsa solidão de estar sozinha mesmo quando outra pessoa está sentada à mesa junto à mim.

Mesmo minha depressão, meus maiores medos e anseios que me jantam viva na madrugada se sentem intimidados por esse vazio e esse silêncio que me matam, me cortam, espalhando o sangue transparente de sentimentos escondidos vazados pelo chão e pelas paredes que, antes de testemunharem tamanha tragédia, foram palco e cenário para uma infância onde essa casa fazia sons.

Eu ouvia sons de amor, de felicidade, de amizade e companhia. Éramos uma família.
Me pergunto onde isso foi parar, se tudo não passou de invenção da minha cabeça numa última tentativa desesperada de ainda defender esse lugar.

Mas por que se esse lugar nunca me defendeu?

Por amor.

Eu ainda o sinto e o grito o mais alto que posso mesmo que esses travesseiros, junto à minha insegurança, tentem me calar, mesmo que essa casa me quebre e afogue até mesmo o último e mais fraco dos meus cacos.

Porque eu sou humana, eu sinto, e um dia ainda vou pintar essas paredes não com manchas invisíveis de sangue e dor, mas com as cores vibrantes e gritantes dos sentimentos que também gritam dentro de mim – talvez até mais do que esse silêncio grita por fora.

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