Capítulo 3: Pessoas legais

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Não, para Natália nada significou um minuto a mais na presença de Carol.

Carol, aquela mesma mulher, de sorriso tímido, que andava meio acanhada, a mesmíssima que a atraia a atenção em milhares de outras pessoas. A mesma Carol que não conseguia tirar da cabeça um minuto sequer.

Era perturbador, haviam se falado uma única vez, nem por tanto tempo assim, mas mesmo sob tais circunstâncias seu interesse parecia crescer ainda mais.

Não a via a muito tempo, talvez duas semanas se contasse com certeza, era impossível esquecê-la, aquilo sabia com exatidão porque tentou muito de muitas maneiras. Se ocupou com o trabalho, teve meia dúzia de sessões longas de lá para cá, evitou sequer chegar perto da escola dos sobrinhos, regava a flor em seu quarto quase de olhos fechados e pediu gentilmente para Pedro leva-lá para o jardim para que assim pudesse enterrar em um lugar bonito todos os sentimentos que carregava em cada pétala.

Confusão.

Era só isso.

Tinha certeza que estava tão confusa e cansada que não conseguia pensar direito, mesmo que duvidasse Carol poderia ser passageira em sua cabeça, da mesma forma que foram outras dez que um dia viu de relance como ela.

Negou vinte vezes todas as súplicas de Taís, a lembrou que tinha um irmão muito disposto a fazer aquela tarefa dificílima, remou para longe o máximo que pôde, mas chegou um tempo que nem mesmo o aniversário de seu hamster era desculpa boa o suficiente. Ela nem tinha um hamster. Nunca teria. Odiava roedores.

— Natália, você está de folga hoje, o que custa? É rapidinho, é só ir e trazer eles para casa, o resto do dia você volta a viver sua vida.

— Justamente Taís, dia de folga, sabe o que isso significa? Que eu só quero relaxar, dormir o dia todo, encher a cara, assistir um monte de programas de culinária. Não ter que caminhar por não sei quantas horas para escoltar aqueles animaizinhos famintos que você cria como gente.

— Que horas o que, não são nem dez minutos direito. Para né Natália. Você vai e pronto, quem já se viu, ora essa, querendo fazer as coisas quando bem entender do jeito que bem entender. Seja uma tia boazinha — Taís começou a frase enquanto levava os pratos da mesa até a pia — Os pratos são todinhos seu, eu estou atrassadíssima. Beijos Natália. Não estamos tendo em uma discussão, mas se fosse, eu ganhei e não se fala mais nisso.

— Você sabe que não é minha mãe, não é? E eu não preciso te obedecer, não mesmo.

— Ainda bem que não sou — Soltou enquanto remexia em sua bolsa pouco entretida — Você que sabe! — Gritou da porta com todo o ar presunçoso que poderia caber em todo seu corpo alto e esbelto.

— Filha da...

Natália obedeceu. 

Primeiro porque tinha amor pela própria vida, segundo porque não via motivo nenhum em estar evitando aquele lugar, aquele local e principalmente, aquela pessoa.

Ora bolas! Quem era aquela tal de Carol na sua fila do pão hipotética?

— Ué, achei que a mamãe tinha dito que você não viria — Joaquim perguntou ligeiro coçando a cabeça confuso.

— Não, não, a mamãe disse que com certeza ela viria, lembra? — Julia pulou nos braços de Natália antes que ela pudesse pensar e se agarrou como um coala em seu pescoço — Tia Natália, quer vê o desenho que eu fiz hoje na aula de artes? Eu desenhei você.

— Sério? Espero que tenha dado jus a toda minha beleza e exuberância natural — Julia riu baixinho do pequeno charme da tia e assentiu como se concordasse seriamente — Você me mostra assim que chegarmos em casa, quero só ver essa sua obra de arte aí.

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