Esse Capítulo é uma piada.
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Se dissesse que aquele tal encontro a fez parar de necessitar estar pensando a todo momento em Ana Carolina provavelmente estaria mentindo, mentindo muito descaradamente. Agora era uma necessidade quase biológica, levantava todos os dias, suspirava e pensava sem parar pelo resto da manhã, tudo para que finalmente notasse o quão estranho era o status de relacionamento delas.
Não, não tinham nada, provavelmente nem perto daquilo, o pouco de interação romântica que presenciaram foi por debaixo dos panos, nas entrelinhas, quase em susurros. Mesmo sendo muito óbvio, ainda sim, era extremamente incômodo notar o quão próximas estavam e o quanto terrivelmente errado aquilo era.
Naquela manhã havia sido levantada bem mais cedo do que o habitual, estava odiando cada momento em que o sol batia em seu rosto e era obrigada a carregar bandeijas para lá e para cá até Taís ter uma boa visão do lugar perfeito para montar a mesa do bolo naquele enorme jardim. Pedro havia tirado folga e estava cheio de sorrisos fazendo o café da manhã das crianças, da varanda ensolarada conseguia ouvir as risadas e sentir o cheiro de pão de queijo. Estava morta, petrificada, quase pedindo para ser levada para o paraíso ou inferno tudo o que queria era se livrar daquela tarefa torturante.
O sol parecia ainda mais forte, a grama tão quente que pinicava em todo canto, Taís estava incansável, tão acelerada e agitada que deixava Natália tonta apenas em observá-la, nada parecia satisfazê-la e aquilo já estava enchendo o saco.
— Por favor Taís, apenas escolha um lugar logo, tudo é mato, grama e parede não tem muito diferencial para ser pensado por tanto tempo, tem nem o que refletir aqui.
— Não se atrapalha uma artista Natália você mais do que ninguém sabe disso. Agora fique quietinha e deixa eu me concentrar.
— Oh céus, não terminaremos nunca! — Reclamou se sentindo tentada a se jogar na grama e nunca mais sair dalí — E por que eu? Não sei se notou mas não fui eu que fiz nenhuma dessas crianças.
— Você resmunga como um bebê chorão, pronto Natália, vá de uma vez, se está tão ansiosa para sair, sai — Sua impaciência aumentava gradativamente junto com o estresse e o sol em sua pele.
— Você não me parece muito contente. Tá zangada? Você comeu? — Bufou como um touro esperando as provocações do toureiro. Estava firmemente raivosa e Natália jurou ver uma veia saltar em sua testa de uma forma ameaçadora.
— Se não quer ver uma tesoura sem ponta destruir sua vida é melhor dar o fora daqui.
— Tem certeza que está tudo bem?
— Vá embora Natália!
— Uau, quanta agressividade. Está bem, está bem, estou saindo — Com um sorrisinho muito presunçoso Natália sumiu pelos corredores da grande casa cheia de coisas espalhadas por todo canto.
Mesmo estando extremamente cansada de toda aquela atividade tão cedo, não poderia negar, amava todo aquele caos que se estaurava em cada festinha infantil que davam naquela casa. Nunca teve aquilo, nem mesmo na infância quando completava ano e insistia muito para ter uma comemoração mesmo que minúscula, seus pais não eram do tipo de comemorações em família ou qualquer comemoração no geral, sempre foram bastante sérios, centrados, achavam tudo uma grande bobagem ou perda de tempo, foi daquele jeito sua vida inteira, então de certa forma era um conforto ver aquela casa se transformar do cinza vazio e solitário em um caloroso lar familiar, e devia muito daquilo a Taís, principalmente a ela, que aos poucos foi tornando tolerável à Natália a convivência com mais de duas pessoas ao mesmo tempo, que a fez ver de repente que era bastante anormal uma estrutura familiar tão apática quanto a que viveu por uma vida inteira. E agora, já adulta, cheia de dores nas costas e menos energia, entendia um pouco sobre como deveria realmente funcionar as coisas e enchia o peito de emoção ao presenciar, de maneira tão singela, vidas imensamente felizes se formando naquelas paredes cheias de brilho, confetti por toda parte e bandeirolas festivas.
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Todas as Flores
Hayran Kurgu🌼 Edição Narol ; Natália havia prometido uma única vez a sua cunhada que buscaria seus sobrinhos na escola. Não era uma tarefa difícil e soava extremamente normal apenas acompanhar a dupla de crianças até em casa por um curto caminho em um tempo c...