Capítulo 4: Des(encontros)

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As coisas em sua vida, aquela mesmíssima vida adulta que jurou querer tanto na infância, estavam uma correria insuportável.

Nos últimos dois dias estava se recuperando de uma gripe inesperada, não que achasse que alguém esperava pegar uma gripe completamente do nada, até se sentia meio indisposta. Seus trabalhos vinham um atrás do outro, e geralmente não aceitava tantas sessões seguidas, tinha uma política interna muito rígida em questão de se sobrecarregar com coisas desnecessárias, amava o próprio trabalho mas gostava ainda mais de impor limites, aprendeu bem cedo que não funcionava sob muita pressão principalmente a que colocava sobre si mesma, depois de uma consulta muito longa com sua terapeuta decidiu que como dona de seu próprio negócio poderia muito bem ter horários flexíveis com folgas esporádicas sempre que achasse necessário. Mas lá estava ela, aceitando uma sessão atrás da outra nas últimas duas semanas, tudo para encher a cabeça de coisas o suficiente que a obrigasse a esquecer tudo o que Ana Carolina era em sua vida.

Isso mesmo. Um absoluto nada.

Ana Carolina. Um dia fez uma pesquisa muito movida pela curiosidade. Havia notado o letreiro da floricultura algumas vezes, "Minha doce Eva". Ah, e que nome curioso. Se pegou olhando o site várias vezes, o perfil da dona, as fotos brilhantes no fundo da galeria do lugar, descobriu todo o pouco público sobre ela, quase encomendou duzentas rosas vermelhas sem motivo algum, encarou por vários minutos uma foto bastante bonitinha dela na inauguração da loja. Tudo isso no site verde pastel disponibilizado online. Então se apavorou em uma noite fria, fechou o notebook meio zangada e deu por encerrado aquela confusão mental de como parecia entrar em overdose de pensamentos toda vez que parava para pensar nela.

E de fato. Conseguiu. Porque tinha tanto para fazer que era fácil esquecer.

E foi fácil. Por um curto período de tempo.

Era quase começo de março e esse período trazia uma coisa muito desagradável e outra agradável até de mais.

Começava um período chuvoso muito inconveniente, o tempo frio a deixava meio congestionada, de pensamentos e todo o resto, chovia como se nada pudesse impedir aquilo, água e mais água, interminável o mês inteiro.

Naquela dia em específico Taís a puxou de sua cama quentinha e muito seca, a empurrou para fora de casa e a obrigou a fazer um passeio, aquilo estava na lista de coisas desagradáveis com certeza, pelo mercado mais próximo, porque decidiu completamente do nada, em um sábado de tarde, quando caia apenas chuviscos molhados do tipo grosseiros que ardiam um pouco na pele, que deveriam começar as compras para o aniversário de oito anos de Julia.

Aquela era a coisa agradável que a formentava na última semana: Julia estava prestes a completar oito anos de vida, e com ela um monte de mudanças bruscas. Acompanhou de perto todas as evoluções da sobrinha mais nova, dês da primeira risada até o quinto dente de leite que havia caído semana passada, dessa vez um bem na frente o que a deixava com uma janelinha dupla muito adorável. Julia era para ela equivalente ao sol, brilhante, calorosa, sempre tão chamativa, o astro rei do sistema solar da mesma forma que ela era a rainha da casa; E aquilo pegava Natália meio desprevenida, porque daqui a cinco dias sua sobrinha não seria mais uma criança de sete anos mas sim uma de oito, e pode parecer nem ser tanta coisa assim porém muita coisa havia mudado de lá para cá.

Agora ela não dormia mais com o abajur ligado -havia pedido para desligar a dois dias-, suas mãos alcançavam o registro do chuveiro, ela não queria mais usar a fantasia de sua princesa preferida em todos os lugares, havia enjoado de seu sapato que brilhava, seu desenho preferido também havia mudado e não estava mais tão interessada em ter uma festa das princesas como nos últimos três anos, agora ela queria uma festa de dinossauro, e Taís havia concordado porque festas de dinossauros soavam bem mais legais.

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