Vinte e seis

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Sina Deinert's point of view

Durante um tempo não consigo me mexer. Fico parada, atônita, com o vento soprando no rosto, olhando para o fim da rua onde o carro de Noah desapareceu. Ainda posso ouvir sua voz na mente. Ainda posso ver seu rosto. O modo como ele me olhou, como se não me conhecesse, depois de tudo.

Um espasmo de dor atravessa meu corpo e eu fecho os olhos, quase incapaz de suportar. Se eu pudesse voltar no tempo... se fosse mais incisiva... se tivesse levado Sabina e seu amigo para fora do teatro... se tivesse falado mais depressa quando Noah apareceu...

Mas não fiz nada disso. E é tarde demais.

Um grupo de convidados da festa sai do pátio para a calçada, rindo e falando de táxis.

— Você está bem? – quer saber alguém com curiosidade, e eu levo um susto.

— Estou – digo. — Obrigada. – Olho mais uma vez para onde o carro de Noah desapareceu, depois me obrigo a voltar lentamente para a festa.

Encontro Heyoon e Sabina ainda na salinha, Sabina se encolhendo de terror enquanto Heyoon pega pesado com ela.

— ...sua putinha egoísta e imatura! Você me dá nojo, sabia?

Uma vez ouvi alguém dizer que Heyoon era um Rottweiler no tribunal, e nunca pude entender. Mas agora, vendo-a andando de um lado para o outro, os olhos chamejando de fúria, também sinto um bocado de medo.

— Sina, faz ela parar! – implora Sabina. — Faz ela parar de gritar comigo.

— Então... o que aconteceu? – Yoon me olha, com o rosto iluminado de esperança.  Em silêncio eu balanço a cabeça.

— Ele fo...

— Foi embora. – Engulo em seco. — Não quero mais falar sobre isso.

— Ah, Sina. – Ela morde o lábio.

— Não – digo com voz embargada. — Assim eu acabo chorando. – Encosto-me na parede e respiro fundo algumas vezes, tentando voltar ao normal. — Onde está o amigo dela? – pergunto finalmente e aponto o polegar para Sabina.

— Foi expulso – responde Yoon com satisfação. — Estava tentando tirar uma foto do juiz Hugh Morris de malha, e um punhado de advogados o rodeou e colocou para fora.

— Sabina, escute. – Obrigo-me a encontrar seu olhar castanho que não demonstra arrependimento. — Você não pode deixar que ele descubra mais nada. Não pode.

— Tudo bem. – cede ela, carrancuda. — Eu já falei com ele. Yoon me obrigou. Ele não vão continuar com isso.

— Como você sabe?

— Ele não vai fazer nada que irrite mamãe. Ele tem um arranjo muito lucrativo com ela.

Jogo para Yoon um olhar do tipo "dá para confiar nela?", e ela encolhe os ombros, em dúvida.

— Sabina, isso é um aviso. – Vou até a porta e meu rosto está sério. — Se alguma coisa for revelada, qualquer coisa, eu vou tornar público que você ronca.

— Eu não ronco! – nega Sabina irritada.

— Ronca sim – confirma Yoon. — Quando você bebe demais, ronca muito alto. E nós vamos contar a todo mundo que você comprou seu casaco Donna Karan numa loja de ponta-de-estoque.

Sabina ofega horrorizada.

— Não comprei! – diz ela com as bochechas vermelhas.

— Comprou sim. Eu vi a bolsa de compras – entôo. — E vamos tornar público que uma vez você pediu um serviette e não um guardanapo.

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