Capítulo 5

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        A vida se torna extraordinariamente fácil quando se é abençoado com abundância financeira. As pessoas parecem se tornar mais eficientes, mais disponíveis e inegavelmente mais felizes. É uma realidade implacável e desafiadora, onde dificilmente encontramos alguém que nos negue algo. Dificilmente somos confrontados com a falta de vagas em hotéis de luxo, sempre há algum atalho ou uma solução criativa para os obstáculos. Acredito firmemente que não há nada que o dinheiro não possa conquistar.

Essas circunstâncias excepcionais despertaram um fascínio incontrolável em minha amada Lucy. Ela estava encantada com a esplêndida cidade de Paris, enquanto o avião sobrevoava majestosamente o horizonte. Observava através da janela, admirando os pequenos grãos de uma cidade tão magnífica.

Em seus olhos, eu podia captar a incerteza do que estava por vir. Um certo receio pairava sobre ela, como uma criança ansiosa pela chegada do Natal, cheia de expectativas e perguntas sem resposta. Minhas tentativas de me aproximar foram em vão, pois ela ansiava por um momento de introspecção, imersa em suas próprias dúvidas. Até mesmo no quarto do hotel mais luxuoso de Paris, ela se manteve em silêncio. Lucy não se deixava levar apenas pelo luxo e pela beleza que a rodeava. Acabamos dormindo em quartos separados e só quando o sol nasceu, iluminando o brilho em seu rosto, foi quando ela finalmente me procurou.

O relógio marcava exatamente oito da manhã, e eu já estava desperto, desfrutando do meu café matinal com um sabor amargo, mas revigorante. Ouvi seus passos hesitantes do outro lado da porta, cada um ecoando cautelosamente. Sem cerimônias, convidei-a a entrar assim que se aproximou.

Lucy vestia um roupão vinho que, apesar de discreto, realçava ainda mais sua beleza. Com os cabelos presos, ela puxou uma cadeira e sentou-se, pedindo com a mais doce delicadeza que eu lhe revelasse a verdade.

Eu me levantei, colocando as mãos nos bolsos, e caminhei em direção à janela. Sabia que o que estava prestes a dizer doeria, mas seria ainda mais doloroso se ela descobrisse por outras vias.

— Por favor, coloque um fim nisso de uma vez... – disse Lucy, com a voz trêmula.

Antes mesmo de começar, Lucy fez um pedido:

— Antes de você começar, apenas me responda uma coisa... você me ama? Me ama verdadeiramente?

Foi nesse momento que descobri que a amava além da aparência física. Mais do que a mim mesmo. E assim, o silêncio se quebrou...

— Você acha que pode salvar todas essas pessoas... – disse a Lucy, enquanto a encarava. – Aprenda algo, minha querida: ninguém pode ser verdadeiramente salvo. Nem eu... nem você, talvez.

O comentário a deixou apreensiva e imediatamente começou a elaborar um plano de fuga em sua mente. No entanto, antes que pudesse colocá-lo em prática, eu lhe disse:

— Não... não vá! Acredite em mim! Se eu quisesse te matar, já o teria feito antes de você entrar naquele táxi... no dia em que nos conhecemos!

E continuei...

— Sempre me questionei por que as pessoas envelhecem: por que não podem permanecer jovens para sempre? Hoje, compreendo que o envelhecimento é inevitável e necessário. Ninguém deve saber o que está além disso, o que é presenciar, a partida dos amigos, dizer adeus repetidamente. Dizer que todos eram culpados, que precisavam partir, é uma forma de aliviar a culpa. Eu não pedi para ser assim, Lucy. Apenas queria aproveitar a vida e tudo o que ela tinha a oferecer. Mas foi a própria vida que se aproveitou de mim!

Lucy levantou-se e caminhou em minha direção. Senti seus braços envolvendo-me por trás. Em um gesto delicado, ela virou-me para encará-la e me abraçou, perguntando mais uma vez quem eu era.

MY BEAUTIFUL MONSTER ( Meu Lindo Monstro) ( HÉTERO)Onde histórias criam vida. Descubra agora