Capítulo 6

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Uma nova vida me aguardava, em meio a sombras e desespero. Eu havia dado minha palavra de não cometer mais nenhum assassinato, e agora me alimentava de ratos, devorando a vida pútrida dos esgotos de Manhattan. Oh, a vida de um vampiro já não me fascinava! Agora, era uma batalha pela sobrevivência, uma luta constante. No início, foi difícil me acostumar com o sangue diferente, mas o importante era que ele era quente e vivo. Embora esfriasse rápido demais, admito. Essa dieta poderia manter-me vivo, mas não tão forte. E assim, semanas se passaram, seguindo um cardápio repleto de répteis, enquanto eu tentava seguir adiante.

Não havia uma noite sequer em que Lucy não assombrasse meus pensamentos. Eu acordava com a esperança de que ela bateria à minha porta, estendendo os braços para mim. Eu já não era o mesmo. Comecei a enxergar a vida e tudo o que ela oferecia de uma maneira completamente nova. Apreciava os amanheceres e tornei-me mais generoso e virtuoso. Eu, simplesmente, tornara-me uma pessoa agradável. No entanto, o destino tinha algo mais reservado para mim.

Logo pela manhã, quando saí para minha caminhada matinal no Central Park, senti minha fraqueza devido à falta de sangue humano. Meus reflexos, quase humanos, estavam esgotados, e foi fácil para o taxista não me avistar em sua frente enquanto eu cruzava a rua, pois meus olhos estavam fixados em uma jovem de encantos notáveis.

Um simples corte. Um simples acidente fez-me perder os sentidos. Quando recobrei a consciência, eu estava deitado em uma maca, sendo levado às pressas para o hospital. Havia pessoas ao meu redor... fui salvo por seres humanos.

Adentrei a sala de emergência como um jovem que acabara de sofrer um grave acidente. Minhas lembranças são escassas, só consigo recordar que vários médicos estavam ao meu redor. E que ironia do destino: era exatamente o hospital em que Lucy trabalhava.

Enquanto eu adentrava, as enfermeiras se apressaram em avisar Lucy assim que me reconheceram. Entretanto, ela ainda não havia chegado, pois seu plantão começaria apenas à noite. Os médicos desesperadamente lutavam para ressuscitar o corpo desconhecido, desafiando todas as leis da vida. Eu me tornei um verdadeiro enigma científico naquele momento. Dentro da sala de cirurgia, eles estavam perdidos, sem saber quais procedimentos utilizar naquela carcaça desprovida de vida. Enquanto eles debatiam meu destino, eu ficava cada vez mais pálido, parecendo uma assombração. Obviamente, minha palidez se devia à falta de sangue humano, pois eu não tinha me alimentado decentemente em dias. E diante de tudo isso, mal conseguia me erguer. Sem alternativas viáveis, devido à minha notável falta de cor e ao sangue incessante que jorrava, eles me diagnosticaram com a rara "Anemia hemolítica". Era o único diagnóstico aceitável em meio a tais circunstâncias sombrias. Enquanto meus olhos permaneciam cerrados, eu ouvia ao longe, de forma confusa, os cochichos das enfermeiras ao meu redor. Elas falavam sobre mim e Lucy. Sussurravam sobre nosso trágico romance. E diziam que Lucy estava a caminho. Ah, como essa notícia me causou uma alegria sádica! Eu a veria novamente!

Como se já não bastasse a minha fraqueza debilitante, agora eu ansiava pela chegada de Lucy. Um médico se aproximou de mim, expulsou as enfermeiras e decidiu me medicar sozinho, até que a Dra. Miller chegasse. Ele me tratou com um desdém escandaloso, lançando insultos e provocando-me. Por um momento, eu não o reconheci. Só ouvia suas ameaças e maldições. Até que ele mencionou que estava "fora do jogo" e que poderia reconquistar Lucy. Foi o suficiente para eu finalmente reconhecê-lo. Aquele maldito doutor que quase perdeu a mão por minha causa.

Permaneci quieto, esperando o momento certo. Foi então que ouvi a porta se abrir e, com ela, surgiu a adorável Lucy. Sua chegada trouxe um alívio inexprimível, pois somente Deus sabe o que aquele miserável poderia ter feito em seguida. Peterson disfarçou-se habilmente e escapou da percepção de Lucy, que ficou impressionada ao me ver. Eu não era mais o mesmo. Minha beleza havia desaparecido. Eu era apenas um doente em estágio terminal de sua existência decadente.

MY BEAUTIFUL MONSTER ( Meu Lindo Monstro) ( HÉTERO)Onde histórias criam vida. Descubra agora