Ele o segurou em suas mãos, era úmido e quente. Ele já fez isso antes, agora, mais vezes do que gostaria de ter feito. Seu nome, no entanto, nunca saberemos, permanecerá enterrado na caverna onde ele se encontra, junto à peça em suas mãos.
Havia um sabor amargo em seus lábios, quase temeroso demais.
Em sua curta vida, ele acreditou em muitas coisas. Muitos deuses, sacrifícios, promessas, anseios e desejos, mas acima de tudo, medo.
Ele sabia como o medo agia, da sensação agonizante de senti-lo rastejar por sua barriga, da vaga sensação de coragem que ele lhe proporciona par fazer o que era necessário para sobreviver, de senti-lo paralisar seu sangue, tanto quanto o fato de que o medo lhe obriga a rezar.
Não é que ele cresse em algo que pudesse salvá-lo, suas esperanças jazeram no momento em que o primeiro corpo pereceu. Era apenas a forma como ele foi ensinado. Rezar para que algo pudesse se compadecer, para que o sofrimento terreno fosse o suficiente para aplacar o sofrimento eterno. O céu pede por sangue, afinal, e disso ele já estava coberto.
O fato é, ele já havia aceitado que morreria, que esteve preso naquela caverna por tempo suficiente para que alguém pudesse salvá-lo. Quem estava do lado de fora, já havia desistido e ele também.
No início, era fácil ter esperança, quando não havia se passado um dia ainda, e a fome não havia apertado. Mas isso faz tempo.
Os feridos foram os primeiros a morrer.
Ele não repartiu o pão como lhe foi ensinado, não deu de comer em sua última noite, mas não é possível dizer que em algum momento ele se arrependeu disso.
É amargo, macio e sangrento, tão familiar que deveria ser um crime, embora, seja um crime. Seu último sopro de vida.
Foram cinco longos anos servindo, cinco anos que ele dedicou a salvar pessoas, matando outras. Cinco anos se banhando de tanto sangue que o que ele fez naquela caverna sequer deveria lhe importar. Ele sobreviveu, foi treinado para isso.
Ele foi um soldado, nunca um herói.
- Me perdoe - Foram suas preces finais.
AUTOR: James8Harondalle
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Surto Literário: Devaneios da LC
Casuale- Um, dois, três, testando... Já posso começar? {Pausa dramática} Quê? Você acha que só porque eu decorei o roteiro, eu não tenho o direito de errar? Tá bom, tá bom! Posso fazer o MEU serviço? Já estão me esperando aqui... (Aff) {Cena reinicia} ...