Capítulo II: Vazio

14 1 0
                                    


A criatura que nascera da união de forças desconhecidas chega ao mundo com visível confusão, em seu ser existem predisposições de naturezas conflitantes, sua mente é uma angústia cada palavra que ali habita é repleta de significados e experiência que não foram sentidas, observadas e absorvidas, esse emaranhado faz o autodenominado PIT passar 200 anos imóvel no deserto brigando com a sua própria consciência sem conseguir se mover, ao passar dos anos ele estabiliza seus pensamentos um pouco a ponto de conseguir manter autoridade sob seu corpo, ele sem pensar em muita coisa pega a foice que estava diante deve e vaga pelo deserto gélido daquele lugar inóspito, um passo de cada vez Pit começa a apertar seu ritmo andando sem rumo.

PIT depois de muito tempo andando e aumentando seu ritmo aprende a correr e ao adquirir tal habilidade dispara em uma velocidade elevada cruzando o planeta, até que ele depois de tanto correr ele cai em uma cratera imensa no meio do planeta, a habilidade de freio ainda era desconhecida para a criatura, após cair de uma distância quilométrica tomado por sua curiosidade ele institivamente anda suavemente por aquele conjunto peculiar de cavernas, seus pensamentos ainda não funcionavam da maneira que deveria mas seu instinto de criatura ainda era afiado e temia o desconhecido que poderia espreitar naquele complexo labirinto, se aprofundando Pit se deparava com criaturas quadrupedes, sem olhos, com dentes e garras afiados, calda larga e porte físico esguio, eles apenas espreitavam nas sombras, sem sinal de hostilidade, apenas reconhecimento, até as criaturas conseguiam reconhecer a natureza dúbia daquele ser que andava calmamente, adentrando muito profundamente PIT encontra um cadáver de uma garotinha, seus sentidos apurados se atiçam e ele institivamente mantém distância mas a sua consciência fala mais alto e aos poucos se vê atraído por aquela visão, ele para perto e contempla, um sentimento nostálgico vem ao ser, contemplar aquilo que se assemelhava a visão distorcida que ele tinha de si mesmo o fascinava, era o maior traço do que outrora ele conhecia como "humanidade", depois de uns minutos de contemplação PIT segue seu caminho, mas um tempo depois de ter dado distância do cadáver ele ouve barulhos, eram as criaturas elas aproveitaram a saída de Pit para terminar o serviço, ao sentir os primeiros barulhos ele institivamente retorna rapidamente ao local do cadáver, e ao chegar lá ele se depara com uma cena grotesca, as criaturas profanando seu EU, dilacerando partes por partes, aquilo despertou sentimentos, á dádiva se vai e no fim só restou o desamparo, o cordão umbilical de Pit foi cortado ao presenciar aquela cena, as criaturas ao presenciar aquilo fogem, como se o predador natural delas estivesse presente naquele instante, inútil, a foice emana uma energia estranha mas que parecia tão familiar para Pit, e com simples movimentos desajeitados mas precisos as criaturas sucumbem e o restante foge, ao se deparar com os restos espalhados no chão o primeiro ato desesperado é tentar de algum jeito montar aquele quebra cabeça, lágrimas descem incessantemente e grunhidos em um tom de voz estridente são promulgados, grunhidos que lentamente se transformam em palavras (Derfd, Derts, Descv... Desculpa....), ao perceber que aquilo não voltaria ser o que era ele grita ainda mais alto (DESCULPA) e no seu último ato perante aquela que não está mais aqui ele decide cavar um buraco, gentilmente colocar os restos mortais da garota dentro dele e fechar o buraco, ele fez isso porque ele simplesmente não podia mais olhar aquela figura deformada sem ficar perplexo e desamparado, com sentimentos que ele próprio não sabia nomear e nem ao menos lidar, enterrar e tampar aquilo com terra foi o jeito que ele encontrou de não lidar com as dores que o afligiam, de lidar com a mudança, a desfiguração, a queda das suas crenças e o luto da seu EU que ele via refletido na face daquela menina, após esses acontecimentos ele pega sua foice, seus pensamentos estão mais esclarecidos, ele entende seu EU, se vê através daquela visão e esse evento o atormentaria por toda vida mesmo que posteriormente ele esqueça sobre esses eventos, a sensação de vazio e desamparo, a desfiguração, a profanação, todos os aspectos agora eram partes dele, e ajudaram ele a sentir a necessidade de busca de algo, uma busca eterna para preencher seu vazio.

Após muito caminhar e ter seus primeiros sinais de reflexão sobre si mesmo e sobre os outros e finalmente no fim do túnel ele encontra os primeiros sinais de vida e civilização inteligente.

Crônicas do EspaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora