Capítulo XII

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Estou sentado na poltrona do avião, observando as nuvens brancas e macias passarem pela janela enquanto o avião sobe aos céus. O barulho constante dos motores serve como uma trilha sonora distante para meus pensamentos agitados. Ajusto o cinto de segurança e tento me acomodar, mas meu corpo está tenso demais para relaxar.
Minha mente está presa no que deixei para trás. A conversa com Arthur na praia não sai da minha cabeça. O olhar profundo e triste de Arthur, suas palavras hesitantes e a interrupção do celular, tudo isso roda na minha mente como um filme repetitivo.
“Será que ele estava prestes a me contar algo importante?” Penso, mordendo o lábio inferior. "O que poderia ser tão complicado que ele não conseguiu dizer antes de eu ter que sair correndo?"
Olho ao redor do avião, observando as outras pessoas que parecem tranquilas, algumas já adormecidas, outras entretidas com seus livros ou dispositivos eletrônicos. Sinto um leve toque de inveja por aquela paz. Fecho os olhos, tentando me afastar dos pensamentos turbulentos, mas a imagem de Arthur insiste em voltar.
“Eu e a Isadora terminamos.” Aquelas palavras ecoam na minha mente. A notícia deveria me deixar indiferente, mas sinto um misto de alívio e preocupação. Mesmo depois de tudo, ainda sinto um carinho enorme por ele.
Revivo cada momento da nossa conversa. O pedido de desculpas de Arthur, sua confissão de que estava confuso e fez escolhas erradas. Minhas próprias palavras soam distantes agora, como se pertencessem a outra pessoa. "Eu também sinto muito, Arthur. Eu também fiz coisas que não deveria..."
Solto um suspiro pesado e tento me concentrar no que está por vir. Estou a caminho das férias, longas semanas longe de tudo isso. Talvez a distância me ajude a clarear a mente e entender melhor meus sentimentos. Mas, no fundo, sei que não importa para onde eu vá, meus pensamentos sempre voltarão para ele.
Afinal, é possível consertar tudo isso? Podemos realmente reconstruir nossa amizade? E o que ele queria me dizer antes de eu sair correndo? Essas perguntas ficam sem resposta, me deixando com uma sensação de inquietação.
Eu só espero que, quando eu voltar, as coisas estejam mais claras. Que Arthur e eu possamos encontrar uma maneira de seguir em frente, sem mais segredos, sem mais arrependimentos.
Fecho os olhos novamente, tentando encontrar algum descanso. Mas sei que até encontrarmos uma resolução, essas questões continuarão me assombrando, mesmo a distância.
Porque parece que tudo vai melhorar, só que na minha cabeça alguma coisa está errada, alguma coisa nos impede de continuar isso, como se fosse uma força de algum acontecimento que nem eu sei o que é. Ou realmente isso pode dar certo, mesmo com essa força, ou pode dar tudo errado.
Era tantas coisas a se pensar, enquanto estava observando a imagem monótona das nuvens se passando, minha mãe estava em um grande e longo cochilo.  Ela tinha tomado remédios para conseguir dormir naquele voo. Não é fácil para nós ter que viajar todo final de ano só para ver minha família, ela sempre tem que se dopar de remédio para dormir.. Eu realmente gostava de ir ver minha avó, só que eu realmente queria passar um tempinho com o Arthur nas férias.
Às vezes me pergunto se minha mãe não tivesse ido morar no rio de janeiro, eu não conheceria o Arthur, muito menos a Laura.
Minha vida seria tão diferente..
Da última vez que fomos ver minha vó, eu e minha mãe estávamos de luto pelo meu pai, então fazia um tempo que não víamos ela.
Não sabia como ela estava, só sei que estava ansioso para vê-la e talvez isso me ajude a não pensar muito no Arthur.
Entramos no avião cerca de 3 horas da manhã. Como minha família morava em Fortaleza, no Ceará, eram cerca de 3 a 4 horas de voo, então, iríamos chegar às seis, sete horas da manhã..
Tentei dormir, já que ao chegar na casa da minha avó, provavelmente não teria tempo para dormir. Já que tinha que cumprimentar toda minha família, era algo cansativo, mas eu fui ensinado a fazer isso desde pequeno.
Tentava encontrar uma posição confortável para dormir. O assento era apertado e minhas pernas estavam dormentes. Olhei novamente pela janela, mas as nuvens não ofereciam distração suficiente para acalmar minha mente agitada.
“Vamos lá, Luke, tente dormir,” murmurei para mim mesmo. Mas os pensamentos sobre Arthur continuavam a me assombrar. Ele parecia tão vulnerável naquele dia na praia. E agora, eu estava a milhares de quilômetros de distância, sem poder fazer nada para ajudar.
Quando finalmente fechei os olhos, minha mente começou a vagar para lembranças da infância. Como eu e meu pai juntos em um restaurante italiano, minha prima mais velha que eu indo em um shopping, que eu não lembro especificamente qual foi, mas era muito legal. Momentos simples que pareciam tão distantes agora, mas que me traziam um calor ao coração.
Essas memórias me ajudaram a relaxar um pouco, e minha mente finalmente começou a desligar. Quando estava prestes a cair no sono, uma comissária de bordo passou pelo corredor, oferecendo lanches e bebidas. Recusei com um aceno de cabeça, não querendo abrir mão da pouca tranquilidade que havia encontrado.
A lembrança de Arthur confessando seu término com Isadora voltou à minha mente. Será que ele estava realmente bem? E o que ele queria me dizer antes de eu sair correndo? A frustração por não saber as respostas me corroía por dentro. Mas eu sabia que, de alguma forma, precisávamos ter aquela conversa. Precisávamos resolver o que quer que estivesse pendente entre nós.
Minha mãe se mexeu na poltrona ao meu lado, ainda profundamente adormecida graças aos remédios. Olhei para ela, lembrando-me do quanto ela também estava ansiosa para essa viagem. Ver a família era importante para nós dois, especialmente depois da perda do meu pai. Essas visitas nos ajudavam a manter um senso de normalidade, de continuidade.
Suspirei e tentei me concentrar no presente. As férias em Fortaleza seriam uma boa oportunidade para me desligar de tudo. Talvez o mar e o sol do Ceará ajudassem a clarear minha mente. Talvez a distância realmente fosse a resposta que eu precisava.
Finalmente, o cansaço venceu e meus olhos se fecharam. Minha mente começou a desacelerar, permitindo que o sono tomasse conta. Mas mesmo enquanto caía no sono, a imagem de Arthur e suas palavras continuavam a ecoar na minha cabeça. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, teríamos que enfrentar tudo isso de frente. Mas por agora, eu só queria descansar.
Quando acordei, o avião já estava em descida. Acordei com uma sensação de leveza, como se o sono tivesse levado embora parte do meu peso emocional. Minha mãe estava ao meu lado, arrumando suas coisas, e me deu um sorriso sonolento.

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