É sexta-feira, seis horas da manhã. O clima da sala de aula estava diferente, há uma tensão no ar causada, claro, pelo último ano do ensino médio. O professor estava na sala há uns vinte minutos, falando sobre como o último ano era importante e o quão focados teríamos que ficar para atingir nossos objetivos. Isso teria me deixado nervosa se eu já não estivesse ansiosa com o fato de que o Kyo provavelmente ficaria preso assim que terminasse os estudos. Alguns dias atrás, houve uma reunião familiar dos Sohma e Kyo enfrentou Akito. Infelizmente, ele voltou mais cabisbaixo e apreensivo do que quando o enfrentou, e Akito, por outro lado, anda furioso desde que Momiji conseguiu se libertar dos laços, o que pode piorar a situação do ruivo. Eu simplesmente não paro de pensar em alternativas para o destino cruel dele desde que voltamos dessa reunião. Já pensei na possibilidade dele ir para Osaka, para Nagoya, Okayama e até pensei na possibilidade dele sair do Japão. Me pergunto se seria suficiente afastá-lo de Akito, já que não sei o quão forte são essas correntes que prendem os signos a ele. Todos em casa estão então apreensivos. Yuki também não anda muito normal ultimamente. Às vezes, o pego perdido em seus pensamentos. Só não está mais isolado por conta do conselho estudantil, e eles estão agitados nessa reta final do ano letivo.
— Senhorita Aikyo? – Disse o professor, me fazendo acordar de meus pensamentos.
— Pois não? – Respondi sem jeito.
— A folha, você ainda não respondeu?
— Ainda não, professor... – Falei, envergonhada.
— Você tem uma semana para trazer
Assenti com a cabeça.
A folha à qual ele se refere é aquela em que devo escolher uma profissão. Ainda não sei bem o que quero fazer e nem tive tempo de pensar nisso. Quando menos esperei, a aula havia terminado. Me despedi da Uotani e da Hanajima, que estavam na sala, mas por outro lado, não vi a Tohru durante a última aula. Caminhei pelos corredores até que, sem querer, esbarrei no ruivo que vinha na direção oposta à qual eu estava indo. O parei por um segundo.
— Ah, avisa a Tohru que eu tô indo. – Falei gentilmente, mas o ruivo me devolveu um olhar frio e seguiu seu caminho.
Imaginei que ele estivesse com muita coisa na cabeça, mas aquele olhar definitivamente não era comum.
Prossegui então minha ida até o trabalho, tentando me desfocar um pouco do Kyo, para pensar no que eu iria fazer da minha vida. Eu gostaria de fazer uma faculdade e sei que tenho notas boas o suficiente para passar em uma, mas que curso fazer? Nunca parei para pensar em qual era meu verdadeiro sonho, até porque meu verdadeiro sonho era sair de casa e deixar meu pai de vez. Eu consegui fazer isso, comecei a trabalhar, e desde então, trabalhar é tudo o que tenho feito.
Minutos se passaram e eu já estava no café onde trabalhava. Hoje estava lotado por alguma razão, e eu estava mais desatenta que o normal, já que estava pensando em alguma profissão. Passou pela minha cabeça que gosto de jogar e talvez fosse legal ser desenvolvedora. Pensei em psicologia também, mas cheguei à conclusão de que só entraria como paciente. À medida que meus pensamentos iam e vinham, eu me desconcentrava cada vez mais do que estava fazendo.
— Mesa dois!
Mais um pedido havia saído. Peguei a bandeja que continha duas xícaras de café e duas fatias de bolo de chocolate. Antes de ir para a mesa dois, ouvi o sininho que indicava que um cliente havia entrado. Como sempre, parei para cumprimentar, mas assim que vi quem era, as palavras não saíram da minha boca. Minhas mãos começaram a tremer e a bandeja foi ao chão antes que eu pudesse entregar o pedido. Fazia anos que não o via, anos sem notícias dele, mas meu pai estava em minha frente. Engoli o seco e, em uma fração de segundos, me agachei para fingir pegar a bandeja que tinha derrubado. Ele não me reconheceu, o que era bom para mim, pois caso contrário, ele teria pegado todo meu dinheiro e sumido novamente, como todas as vezes. A senhorita Yoko chegou no momento e pediu desculpas aos clientes que esperavam pela comida. Juntei os cacos à bandeja e fui direto para a sala onde ficavam nossas coisas. Ainda estava chocada e não queria que ele me visse.
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Inesperadamente seu (Fruits Basket)
FanfictionA vida de S/N Aikyo e Tohru Honda, as melhores amigas inseparáveis, toma um rumo extraordinário quando decidem compartilhar a moradia com Shigure Sohma, um dos doze signos do zodíaco chinês. A convivência com os membros da família Sohma revela uma...