1. Welcome to Mônaco

1K 35 1
                                    

Catherine

Antes mesmo de abrir os olhos meu despertar já começava aos poucos, sentindo o tempo passando devagar e a manhã que ainda não tinha começado de fato lá fora.
Me espreguiço na cama quente e observo os primeiros raios do dia querendo entrar pela varanda do meu quarto, dando o sinal de que eu já deveria estar de pé.
Ao me levantar de vez, abro a porta da varanda e me deixo distrair brevemente com a vista de mais um dia começando, me dando o pequeno prazer de sentir uma leve brisa enquanto o sol cora meu rosto. Mais um dia se inicia no paraíso.
Mas, conscientemente me retiro de lá para me organizar para mais um dia intenso de trabalho, ainda mais sabendo que hoje era o dia que eu faria minha primeira apresentação de investimento na empresa, então, mais do que nunca teria que estar preparada para tudo.

Ao descer as escadas do apartamento, reparo que sou a primeira a descer para o café, e já vejo Helena, nossa governanta, do outro lado da cozinha, concentrada em algo que cheirava doce.
Ao chegar mais perto da mesa e pegar uma xícara considerável de café, antes mesmo que pudesse raciocinar a primeira interação do dia, escuto um tosse de atenção do outro lado da sala. E lá estava ele. Meu pai.

- Achei que desceria mais cedo Nina, está quase atrasada. - disse ele sem tirar os olhos de várias folhas que estava lendo.

- Bom dia pra você também, pai. - Respondi ainda com a voz embargada. - Bom dia Helena! - Aproveitei a oportunidade para já vê-la.

Ela acenou com a cabeça e um sorriso radiante, enquanto não tirava sua atenção do que estava fazendo na cozinha.
Enquanto isso, meu pai se levantou e veio em minha direção, me vendo tomar todo o café que restava no recipiente.

- Não exagere, você sabe que não é bom pra você. - Ele disse tirando a xícara da minha mão - Preciso de você cem por cento bem hoje.

Fico em silêncio, sabendo que ele está certo mas não querendo consentir a informação.
Apesar da minha apresentação ser feita na empresa do meu própria pai, isso não me deixava mais tranquila, já que exatamente por isso sempre tinha que estar um passo a frente dos outros funcionários, ainda mais sabendo que um dia seria eu em um lugar como o do meu pai.
Na verdade, seria meu irmão mais velho, Léo, mas ainda assim não tira minha grande responsabilidade.

Ele me dá um beijo na cabeça e sai em silêncio também, deixando a chave do Audi na mesa para eu poder usá-lo. A gente se entende nesses silêncios do dia.
Observo ele saindo do apartamento, e reparo o quanto de mim existe nele: os cabelos grisalhos que um dia já foram loiros como os meus, a postura quase impecável e os óculos de grau grossos que usava. Era um homem muito elegante pra idade.

*

Chegando em um dos prédios da Laroche Voiture, o nervosismo começa a me apertar mais, agora já estacionando em frente um dos maiores prédios da empresa.
Desço e me encaminho rapidamente para o elevador principal, onde já chegaria praticamente na sala de reuniões.
Aproveito para me olhar rapidamente do espelho e ver se não tinha nada fora do lugar. As calças de alfaiataria pretas presas com um cinto marrom com metais dourados e uma blusa branca um pouco mais larga presa dentro da calça de gola alta e mangas na altura dos ombros. Os cabelos presos lateralmente por presilhas igualmente douradas compunham o resto do look. Com os sapatos de salto curto marrons da mesma cor do cinto.
A porta abre. E agora eu ando confiantemente em direção ao matadouro.
Um segredo que guardo de todos, é exatamente a confiança, acho que ela é a chave para quase tudo na vida.
Posso estar na pior situação imaginável, mas ainda assim vou me manter confiante e inabalável por fora, é assim que são construídas grandes coisas. Assim como nesse exato momento.

*

- Então, senhorita Laroche - Disse Francesco, um dos maiores investidores externos da empresa, principalmente em ações do mercado automobilístico no exterior - Você está certa de que essa seria uma maneira segura de ingresso nesse mercado? A senhorita deve saber, com seus conhecimentos, de como ele é volátil.

Sinto meus dentes rangerem dentro da boca enquanto vejo todas aquelas caras tensas ao redor da mesa após minha apresentação.
Respiro fundo, retomo o que foi ensaiado.

- Bom, com certeza é um mercado volátil - disse enquanto andava para o outro lado da sala olhando para todos - Mas, eu estudei sobre o tipo da aplicação do dinheiro nesse caso, e com toda certeza o retorno é garantido.

- É uma ideia ousada. - outro senhor argumentou do outro lado da mesa.

- É sim - disse triunfante - Aqui é Mônaco senhores, o lugar onde somente os ousados sobrevivem. - estudo o peito com um sorriso - E o que faz esse país ser esse país são os carros. E, é ai que estão todas as minhas apostas.

Silêncio na sala. A tensão aumenta a cada segundo que as minhas palavras pairam no ar. Até Francesco quebrar o silêncio com um sorriso.

- Então todas as suas apostas estão em investir na compra das ações da Scuderia Ferrari? - ele desafiou sorrindo ainda, então o sinal era positivo.

- Exatamente, senhor. - respondi retribuindo o gesto.

*

Mais tarde no dia, depois de passar bons tempos organizando papeladas documentos necessários para fazer essa grande transação escuto um toque na porta de meu escritório.
Ainda concentrada, sentada embaixo da mesa cheia de papéis em volta, peço que a pessoa entre, e ainda sem dar conta de dar atenção escuto a voz característica.

- Você não cansa de surpreender, não é? - Léo disse - Desse jeito vai me fazer perder meu cargo.

- Léo! - eu falei enquanto levantava desastradamente, acabando por bater a cabeça na mesa.

Ele riu e me puxou pra cima enquanto chutava algumas das pilhas de papeis inúteis que tinha acumulado no chão.

- Recebi o sinal positivo de Francesco, fiquei surpreso por ter conseguido arrancar alguma novidade do velho. - eu ria do seu jeito.

Léo sempre foi muito mais descontraído que eu, apesar de estarmos em posições profissionais muito diferentes, já que ele estava se preparando para assumir tudo em breve e já tinha metade das coisas sob seu comando.
Mas ainda assim, não perdeu o jeito que tinha quando era menino, o humor, a descontração que podia invadir uma sala inteira.

- Eu ainda vou ser sua funcionária do mês, me aguarde. - ele ria sutilmente.

- Papai está orgulhoso de você, e eu também. - ele falou sério - Agora, acho que deveria ir pra casa, está liberada mais cedo, funcionária do mês. Vá comemorar a sua nova aquisição.

- Aquisição? - eu disse em tom debochado.

- Bom, não é todo dia que alguém compra um pedaço da Ferrari.

Style (Charles version) Onde histórias criam vida. Descubra agora