Style (Charles version)

2. Everybody here wanted somethin' more

Catherine

Na realidade, não sou a pessoa mais sociável do mundo, apesar de gostar muito de companhia,
mesmo no auge dos meus vinte e quatro anos
Mas se tratando de sair de casa para ir em festas e lugares cheios de gente desconhecida e baderneira, eu tinha outras preferências.
A mensagem irritada de Bianca me mostra que eu já deveria ter descido para encontrar com ela na rua, mas ainda estava conferindo os últimos detalhes, já que é para sair eu preferia sair com a certeza que eu seria o brilho da noite.
Meu vestido verde de cetim até a metade das minhas pernas marcava um pouco mais meu corpo do que eu gostaria, mas ainda era a melhor opção da noite com os acessórios prateados carregados.

Chegando na porta ouço Bianca buzinando loucamente de seu conversível.

- Você acha que eu não tenho vizinhos? - disse descendo as escadas da porta da frente.

- Acho, e to pouco me fodendo pra eles. - ela disse rindo - Agora vamos, temos muito o que comemorar hoje.

Bianca era basicamente o que se espera de uma dupla de série de comédia comigo, ela sempre foi minha melhor amiga desde a escola e estudamos juntas no ensino médio em Paris.
Passamos a maior parte da nossa adolescência juntas apavorando todos os turistas que queriam conhecer mais do nosso país, indo na praia e dormindo uma na casa da outra.
Ela era meu maior alicerce, minha alegria diária e minha paz.
Ainda assim, somos muito diferentes. Ela tem uma personalidade muito mais parecida com
a de Léo, só que bem mais ácida e impulsiva que ele. Ela falava, eu ouvia. Sempre funcionou.

E agora ela estava me arrastando para mais uma das incontáveis baladas monegascas, coisa que eu perdi o costume nos últimos tempos.

- Fique sabendo que o que vamos tomar hoje é banho de champagne - ela disse enquanto dirigia e fazia movimentos com uma mão só referente aos pódios da Fórmula 1 - Da Ferrari.

- Até porque você corre como se estivesse nos circuitos.

- Nos literalmente vivemos em um circuito, Nina, se liga! - nós irmos juntas enquanto ela de fato corria.

Chegando no local, encontramos com mais outros amigos e conhecidos e logo já entramos.
Enquanto descia no local, via um rosto familiar no meio da multidão, que para mim era impossível não reconhecer. Louis.
Meu ex.
E assim que ele viu a minha chegada, já se dirigiu pra me encontrar.

- Olha só ela - ele fez uma análise completa de mim antes de me abraçar - Está perfeita, mas pelos burburinhos não deveria já estar usando vermelho?

- Você sempre acreditou em todas as fofocas que te contam por ai - eu disse e me aproximei - cuidado, um dia você vai acabar caindo em um golpe. - ele riu sutilmente e se aproximou também.

Era inegável que Louis era bonito. Era alto, tinha os cabelos escuros e bem cortados, barba bem feita e olhos azuis. E ele sabia disso.

- Nina, você está linda hoje - ele ia falando e eu sentia me rosto esquentar um pouco - queria que você dançasse comigo hoje.

Claro que ele sabia que ainda eu ainda cedia um pouco ao seu charme, era quase impossível evitar. Mas se tinha alguém que não cedia era Bianca.
Vi ela cruzando o ambiente todo pra chegar até mim e me puxar pra longe dele e ir pro meio do bar.

- Eu sei muito bem o que estava pensando - ela chamou minha atenção me entregando um aperol spritz - pois saiba que a única coisa que você vai levar a boca hoje é seu drink.

Com um sorrisinho eu tomei do drink e ela franziu a testa vendo a cena, ela estava certa, eu não podia me deixar levar por uma carência acumulada e falta de senso de preservação.
Louis podia ser muito bonito, mas também era um canalha.
Aparentemente todos os homens dessa cidade são, inclusive são famosos por isso.

Com o passar da noite a música aumentava e quantidade de drinks também, até perceber que as coisas já estavam ficando um pouco embaçadas e resolvi parar.
Bianca saiu para o bar de novo me deixando dançar na pista, e foi ai que eu senti a aproximação dele de novo, mas dessa vez não lutei contra isso.
Eu mentiria se dissesse que não estava com saudade de ter alguém.

- Sabe, você poderia vir embora comigo - ele disse colocando as mãos na minha cintura enquanto dançamos no ritmo - Como nos velhos tempos.

- Nos velhos tempos? - respondi rindo, já que ele tinha feito parecer que um ano atrás era muito tempo.

- É Nina, posso te deixar na sua casa, ou podemos ir para minha, você que sabe......

Mas ai antes mesmo de ver Bianca enfurecida, lembrei do meu bom senso. Me afastei e balancei a cabeça negativamente, deixando ele para trás na multidão.
Sai andando até encontrar com minha amiga, que assim que viu a cena já estava pegando a chave do carro para irmos embora, apesar de nenhuma das duas estar na melhor condição para dirigir, mas no desespero de fugir daquele homem fomos assim mesmo.

Ela não estava muito melhor que eu, mas ainda assim insistiu em dirigir, e eu deixei, já que sou uma péssima motorista.
Ao largar nas ruas de Mônaco, dava pra ver a direção sem sentido dela, mas como a rua na madrugada estava vazia, não vimos problema em seguir.
Até que, chegando mais perto do centro da cidade um carro vem na direção contrária para estacionar na nossa faixa, e Bianca perde um pouco o controle e esbarra no carro já parando.

Nós duas nos olhamos rapidamente assustadas e notei que se tratava de uma Ferrari nova, e o desespero de lidar com a consequência disso chegou.

Com o conversível atravessado na rua, foi o tempo do motorista da Ferrari sair do carro enfurecido para reclamar, enquanto isso minha amiga fazia a manobra mais desengonçada da vida dela para sair antes da reclamação.

E foi ai que nós o vimos.
Charles Leclerc estava caminhando em nossa direção quase bufando de raiva.

Assim que Bianca conseguiu virar o carro novamente ela já engatou a marcha para acelerar e ir embora.

Enquanto isso, eu estava lá do lado, perplexa com a situação e não conseguindo tirar os olhos dele em momento nenhum.
Até que ele em algum momento nesse meio tempo ele só parou no meio da rua e sua expressão mudou drasticamente.

Ele parecia muito mais fascinado do que raivoso agora, e admito que fiquei um pouco hipnotizada com isso.
Mas antes que eu pudesse raciocinar, Bianca arrancou com o carro em velocidade total e foi embora, deixando o famoso piloto para trás na escuridão da rua.

- VOCÊ FICOU MALUCA BIANCA? - exclamei o mais alto que consegui - ERA O LECLERC!

- Ele vai superar a batida no retrovisor, agora nós não iríamos superar amanhecer presas por dirigir acoolizadas.

Ainda com raiva dela e confusa com tudo, ficamos em silêncio até ela me deixar em casa.
E assim eu subi e já fui deitar na minha cama, tentando processar todas as informações da noite com a tontura.
Vários questionamentos apareceram na minha mente: O que ele estava fazendo essa hora sozinho na rua? Será que estava sozinho? Será que ia chamar o polícia para nós duas? Será que isso de alguma forma afeta o relacionamento da empresa?
Mas me acalmei pensando que mal mal, ele sabe quem eu sou.
Ainda não sabe, pelos menos.