Quase meia-noite e eu estou aqui, escondida sob as cobertas, com o telefone apertado contra o ouvido enquanto minha melhor amiga, Sofia, planeja nossa escapada noturna. É incrível como uma simples ligação pode ser o ponto alto de um dia tedioso e previsível.
- Anna, você está me ouvindo? - A voz de Sofia soa ansiosa do outro lado da linha, sua empolgação quase palpável. - A festa vai ser épica, você não pode perder!
Eu rolo os olhos, mesmo sabendo que ela não pode me ver.
- Claro que estou ouvindo, Sofia. Você sabe que nunca perderia uma festa, especialmente não essa.
Sofia ri, um som contagiante que me faz sorrir apesar da seriedade da situação.
- É por isso que eu te amo, amiga! Sempre pronta para a diversão.
Antes que eu possa responder, ouço um leve clique vindo da porta do meu quarto. Meu coração pula no peito enquanto viro a cabeça para ver meu pai, Giovanni Di Marco, parado no batente da porta. Seus olhos escuros encontram os meus, uma mistura de preocupação e desaprovação brilhando neles.
- Bem, parece que a diversão terá que esperar, pelo menos por hoje. - Sua voz é calma, mas há uma firmeza subjacente que eu conheço muito bem. Ele não precisa gritar para fazer sua vontade ser respeitada.
Suspiro dramaticamente, sabendo que não há como escapar da conversa que está por vir.
- Poxa, pai, eu só estava conversando com a Sofia. Não é como se eu estivesse saindo escondida ou algo assim.
Ele arqueia uma sobrancelha, um gesto que eu herdei e que nunca falha em me fazer sentir como se estivesse sendo interrogada.
- Anna, nós já conversamos sobre isso. Você sabe que não é seguro sair à noite sozinha.
Reviro os olhos, embora saiba que ele está certo. A vida de uma Di Marco não é exatamente um mar de rosas, e sair por aí sem proteção é pedir para encrenca.
- Eu sei, pai, mas eu só queria...
Minha voz morre quando ele levanta a mão em um gesto de silêncio.
- Eu entendo, querida, mas precisamos ter responsabilidade. Você é minha filha, e eu não posso arriscar sua segurança.
Respiro fundo, sabendo que não adianta discutir. Meu pai pode ser durão, mas é só porque se preocupa comigo.
- Tudo bem, pai, eu entendi. Eu só...
Outro clique, desta vez da janela sendo fechada, me faz parar no meio da frase. Meus olhos se arregalam quando percebo que ele já estava um passo à frente de mim.
- E a propósito, querida, seria melhor você dormir cedo esta noite. Amanhã é um dia importante.
Eu engulo em seco, sabendo exatamente do que ele está falando. A reunião da família é uma das poucas tradições que meu pai leva a sério, e eu sei que não posso me dar ao luxo de chegar atrasada.
- Claro, pai, vou dormir agora mesmo.
Ele assente, um leve sorriso se formando em seus lábios.
- Bom. Boa noite, filha.
- Boa noite, pai.
Eu desligo o telefone e me deito na cama, meu coração ainda acelerado pela emoção. Talvez Sofia tenha razão e a festa seja épica, mas nada se compara à adrenalina de quase sair escondida e ser pega no ato pelo meu pai.
Com um suspiro, eu fecho os olhos e deixo o sono me envolver, sabendo que amanhã será outro dia cheio de surpresas e, espero, um pouco menos de repreensão paterna.
O som estridente do despertador me arranca do sono, interrompendo meu encontro com os sonhos e me trazendo de volta à dura realidade. Com um gemido, estendo a mão para desligá-lo, desejando poder me enterrar novamente sob as cobertas e escapar da inevitável monotonia do dia que se inicia.
O almoço em família. A maldição de todo membro da família Di Marco. É engraçado como uma refeição pode ser tão temida, mas quando você é a filha fracassada, a única mulher entre homens duros e impiedosos, a perspectiva de enfrentar seus olhares de julgamento torna-se quase insuportável.
Eu me arrasto para fora da cama, os pés descalços afundando no carpete macio do meu quarto imenso. Ter um banheiro particular no meu quarto é uma das poucas vantagens de ser a única filha de Giovanni Di Marco. Mas mesmo isso não compensa a solidão que muitas vezes me consome nesta mansão fria e imponente.
O espelho me encara enquanto eu me olho, os olhos ainda pesados de sono e o cabelo bagunçado emaranhado em todos os lugares errados. Suspiro, tentando me convencer de que hoje será diferente. Que hoje eu não serei a filha fracassada, a decepção da família.
Mas então lembro que sou a única mulher no almoço, além da minha mãe. Ah, minha mãe... Aquela que fugiu com um maluco há anos e nunca mais olhou para trás. Não é de admirar que eu seja um desastre ambulante. Não tenho ninguém para me ensinar os truques do jogo, ninguém para me mostrar como ser uma verdadeira Di Marco.
Sacudo a cabeça, afastando os pensamentos sombrios. Não há tempo para autocomiseração agora. Preciso enfrentar o dia com a cabeça erguida, mesmo que meu coração esteja pesado de dúvidas e inseguranças.
Com um último suspiro, saio do banheiro e me visto com uma combinação que espero que seja aceitável para o almoço. Se eu tiver sorte, talvez ninguém perceba a quão desanimada estou por estar ali.
E assim, entre pensamentos tumultuados e esperanças frágeis, começa mais um dia na vida de Anna Di Marco, a filha fracassada de uma das famílias mais poderosas da Itália.
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DiMarco: O peso do sobrenome
RomantizmNo coração da Itália, a poderosa família Di Marco reina sobre o submundo, com Giovanni Di Marco como seu patriarca inabalável. Mas entre os segredos sombrios e os laços de sangue, surge uma figura improvável: Anna Di Marco, a filha rebelde que desaf...