Capítulo 2

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Acordei com um alvoroço vindo de algum lugar da casa, o que me deixou estressada

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Acordei com um alvoroço vindo de algum lugar da casa, o que me deixou estressada. Nada pior do que acordar com barulho ou susto. Ainda mais quando interrompe sonhos bons. Assim que saí do quarto, o estresse logo virou preocupação.

- Filha! Já ia te acordar! - Minha mãe falou com entusiasmo. - Temos uma encomenda especial. - continuou enquanto me entregava um envelope. Meu pai andava de um lado para outro na cozinha revirando panelas.

- Bom dia para vocês. - Soou mais como uma reclamação do que um cumprimento mas meu mau humor não os abalou por nada. Assim que li o conteúdo, entendi o motivo. Olhei pra minha mãe de queixo caído.

- Não é demais?! - Nós duas demos pulos de alegria. Teremos a chance de fazer a comida para as comemorações de aniversário de Lille. Bem, basicamente faremos parte da equipe com outros chefs. Haja mãos para fazer comida para tanta gente né?

- Temos que correr contra o tempo. Em menos de 15 dias será dado início à festa e recepção dos representantes dos reinos vizinhos. Precisamos mandar uma amostra das nossas iguarias esta noite. Já cancelei toda a agenda e...

- Calma, querido. - minha mãe correu até meu pai que mal respirava de tão nervoso.

- Vai dar tudo certo, pai. Sempre damos o nosso melhor. - Caminhei até ele, abraçando-o. Minha mãe fez o mesmo. Senti ele respirar fundo e nos abraçou de volta.

- O que seria de mim sem vocês?

***

Nunca trabalhei tanto como naquele dia. Mas não era qualquer dia de trabalho e nem qualquer cliente. Era literalmente um serviço direto para a realeza. Fizemos três receitas diferentes onde optamos por Bolo Savarin, Mil folhas e torta Saint Honoré. Meus pais se sentiam inseguros com a escolhas dos doces, mas os convenci que nada melhor de começar mostrando as nossas especialidades. Quando deitei na minha amada cama, me senti anestesiada e cada músculo do meu corpo relaxou. Acordei dolorida naquela manhã e então tomei um banho bem demorado e me preparei mentalmente para o que vinha. Até termos retorno das amostras para a festa, tivemos que retomar nossa agenda. Bom, pelo menos iria atenuar a ansiedade dos meus pais. Nunca os vi tão eufóricos. Me arrumei rapidamente e comi um pedaço do Bolo Savarin que havia esfarelado ontem. Ao pôr os pés na rua, dei de cara com Alexy. Não o via desde a despedida dos meninos na semana passada.

- Lenna, como você está? - perguntou enquanto me abraçava.

- Estou bem, estou bem. E tenho uma super novidade. - respondi com energia.

- Eu também tenho! - disse igualmente alegre.

- Conta você primeiro! - sorrimos juntos ao perceber que falamos ao mesmo tempo.

- Você primeiro. - cavalheiro como sempre, Alexy me cedeu a vez.

Enquanto caminhávamos, passei então a contar sobre o convite que minha família recebeu e o meu amigo ficou radiante por nós. Porém, fiquei mais feliz quando ele me contou que Armin e Kentin mandaram cartas. Ele me entregou dois envelopes e, por mais curiosa que eu estivesse, resolvi ler em casa. Ainda bem que tomei essa decisão.

Ao cair da noite, fiz minha refeição com muita pressa e lavei a louça para não ser  incomodada assim que entrasse em meu quarto. Com o coração a mil, abri o envelope com o nome do Armin.

"Querida Lenna,

Normalmente não costumo  escrever cartas e você sabe bem disso, mas, depois da nossa despedida, foi bem difícil me concentrar em alguma coisa. Me vi obrigado a expressar de alguma forma. Porém, talvez seja tarde demais...  Você se lembra de quando quase tivemos um casamento arranjado por seus pais? Pois bem, para mim não seria algo arranjado. Eu estava pensando muito sobre isso antes desse dia fatídico. Eu via sua indignação pela pressão social de ter que casar-se jovem e não tive coragem de pedir sua mão. Esperava que o desejo fosse recíproco e não queria que aceitasse por pura imposição. Decidimos por manter a amizade mas, a verdade é que eu ainda queria mais. Esse recrutamento tem feito com que eu pense em muitas coisas que deixei passar e a possibilidade de não vê-la novamente me fez perder o foco. Por esse motivo, tive que passar mais tempo em treinamento e não fui designado para um posto ainda. Quero que saiba que, independente disso, estarei pensando em você.
Zelennah, ainda lembro do doce perfume que você usava e das doces melodias que cantarolava. Espero que as memórias de nossos momentos não sumam com o tempo, pois elas sempre viverão comigo e tenho certeza que serão o que me manterá de pé nas situações que estão por vir. Mas se houver a mínima chance de você se sentir da mesma forma, não quero que fique presa a isso. Se eu tiver que ser o seu amigo para sempre, serei para sempre. Tudo isso é somente para dizer que eu ainda te amo.

Para sempre seu, Armin."

Os últimos versos da carta ficaram rebobinando na minha mente e, junto com elas, as cenas de todos os momentos que tive com o Armin. São incontáveis já que nos conhecemos desde sempre. A maioria dessas lembranças tinham a presença do Alexy e Kentin e são muito, muito especiais. Voltei no tempo ao dia em que Kentin havia ido visitar os avós e o Alexy estava doente. Tínhamos 15 anos e eu já ajudava meus pais em tempo integral no nosso restaurante. Naquela tarde, porém, eu estava liberada das minhas funções por um motivo que nem me lembro mais e então resolvi passar um tempo na clareira da floresta. A gente sempre brincava ali e acabou se tornando meu local preferido. Naquele tempo, já não brincávamos mais. No entanto, o pôr do sol na clareira era simplesmente mágico e tornou-se um hábito dos meus amigos e eu assistirmos sempre que era oportuno. Nesta tarde, eu fui sozinha, mas não fiquei assim por muito tempo. Cobrindo meus olhos com as mãos sem dizer nada, automaticamente, levei minhas mãos até as dele e descobri quem era ao tocar na pulseira de contas que costumava usar. Conversamos até as estrelas surgirem. Naquele dia trocamos o primeiro de muitos beijos.

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