Capítulo 9

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POV Rosalya

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POV Rosalya

Hoje é um daqueles dias estranhos que a gente simplesmente liga o modo automático. O engraçado é que isso vem ocorrendo com mais frequência do que eu gostaria. Sempre fui uma pessoa caprichosa e se algum feito vai levar meu nome, tem que ser perfeito, impecável. Minha mãe nunca me permitiu ser menos que isso. Segundo ela, eu não tenho direito a errar. Não havia espaço para falhas. A verdade era que eu estava começando a sentir o peso de todas essas restrições. A cereja do bolo era o meu pai. Ele estava atrasando o meu casamento com o Leigh por, sabe Deus o motivo. Já estava tentando juntar coragem para confrontá-lo há um tempo e quando o fiz, não poderia ter imaginado reação pior.

- Meu Deus, Alteza! Está ardendo em febre! - Zelennah se sobressaltou ao tocar a minha testa. - O que aconteceu ontem depois que nos despedimos?

- Eu realmente não estou no meu melhor dia. - Ao tentar falar, minha garganta doeu.

- Vou preparar um chá de gengibre e mel agora mesmo. - Fiz uma careta involuntária ao escutar a palavra gengibre. - Sinto muito, Alteza. É para seu bem. - Concordei derrotada. Mas eu não estava gripada. A minha doença repentina eu sabia exatamente a causa: Decepção.

- Zelennah, por favor, não deixe ninguém entrar aqui hoje. Não quero a visita de ninguém. - O olhar de desespero dela me fez rir e eu completei. - Não se preocupe. Ninguém vai te devorar viva. Bem, talvez a minha mãe tente.

- Eu não vejo como eu poderia impedir qualquer membro da sua família de entrar aqui. E obrigada por avisar que a rainha pode ser agressiva. Eu quase nem percebi.

- Entendo a sua preocupação. Na verdade ela tem uma tendência passiva-agressiva.

- E isso com certeza melhorou muito a minha situação. - Ela respondeu com ironia.

- Você vai amar saber que a Ambre é exatamente igual. Mas não se preocupe. Eu vou te proteger delas. - Tossi quando tentei rir da minha piada.

- Do jeito que está, vossa Alteza não poderá nem proteger a si mesma. - Riu enquanto aninhava o cobertor em mim.

- Chega dessa coisa de vossa Alteza. Pode me chamar de Rosa. - Zelennah ficou séria.

- Não me atreveria Altez... - Olhei firme para ela. - Certo, certo. Pois bem, Rosa! Vou trazer o chá. Ainda não sei bem os protocolos de quando você adoece, mas vou cuidar bem de você.

- Tenho certeza de que estou em boas mãos. - Sorri e ela saiu apressada.

Por outro lado, eu não pretendia ficar o dia inteiro na cama. Por mais que eu quisesse negar, havia algo muito grave acontecendo debaixo do meu nariz, e pela primeira vez na vida, eu estava de mãos atadas. É muito difícil tomar decisões que possam afetar diretamente a vida dos outros, e mais difícil ainda quando isso pode afetar todo o povo de Voulon. Caminhei de um lado para outro no quarto enquanto tentava pensar, mas quanto mais me esforçava, mais minha cabeça doía. Respirei fundo, servi-me de água e sentei na beira da cama, segurando o copo. A água estava em temperatura ambiente, pois havia passado a noite na minha cabeceira. Olhei para a pequena poça de água que se formou embaixo da jarra, tentando focar em qualquer coisa que não fosse a lembrança de ontem, enquanto massageava minha fronte numa tentativa de evitar as marcas de expressão de tanto franzir a testa. Me assustei quando Branca passou correndo em direção à porta. Pela agitação dela, eu sabia quem estava lá atrás. Essa visita eu não poderia mandar embora. Tinha muitos pingos para colocar nos is.

- Oi, Rosa. - Nathaniel saudou um tanto desanimado.

- Oi. Venha, entre. - Convidei e ele pegou a gatinha no colo antes de atravessar a porta.

- Você não parece muito bem, irmã. - sua voz preocupada me irritou.

- Tenho certeza que estou melhor do que você. - Sondei-o de cima a baixo e de forma abrupta, toquei em alguns pontos do seu dorso das costas.

- O que você está fazendo? - Ele tentou se esquivar mas por estar com a Branca no colo, não conseguiu me impedir. - Ai!!

- Eu sabia! Eu sabia! Meu Deus, Nath! A quanto tempo isso vem acontecendo? - Ele colocou a gata na cama e me segurou pelos ombros.

- Você precisa se acalmar, Rosalya.

- Me acalmar? Por que raios você manteve segredo sobre isso?

- O que te faz pensar que isso já aconteceu antes? - Ele rebateu.

- Você tá de brincadeira? Eu escutei o que você disse! "Eu não vou deixar você fazer isso com ela também!". O que você acha que isso significa? Fora a discussão que se seguiu depois. Eu não escutei mais nada de tão transtornada que fiquei.

- Eu não quero falar sobre isso. Não quero te envolver nessa história. - Ao dizer isso, meu sangue ferveu mas consegui não levantar a voz.

- Eu já estou envolvida. Você é meu irmão, ele é meu pai. Um rei que até então eu só considerava ser muito exigente ao desempenhar o seu papel de pai, mas agora descubro que ele abusa fisicamente do seu herdeiro? Você não está percebendo o absurdo que isso é? - Eu não conhecia muitos palavrões mas a minha vontade era usar todos possíveis. Nesse momento, um barulho nos sobressaltou.
Diante da porta estava Zelennah que recém deixou a bandeja cair. O cheiro de gengibre invadiu o quarto à medida que o líquido escorria em direção ao tapete. Ficamos os três em silêncio e quando ela se abaixou para coletar os cacos de vidro, Nathaniel prontamente foi ajudá-la. A porta havia ficado aberta quando o meu irmão entrou e esse descuido acabou deixando a situação mais delicada do que já era. Lenna estava tão vermelha quanto seu cabelo e era óbvio que ela tinha escutado a última parte da discussão. Após Nathaniel colocar os cacos maiores na bandeja, os dois se levantaram e parecia que ninguém sabia o que dizer.

- Sinto muito interromper, Altezas. Que desastrada que eu sou. Vou pedir para limpar essa bagunça agora mesmo. Devo...Devo trazer outro chá ou Vossa Alteza deseja o seu desjejum? - Era quase palpável a vergonha que Lenna estava sentindo e eu também não sabia onde enfiar a minha cara. Nathaniel manteve o seu olhar nela e parecia tão aflito quanto eu.

- Não se preocupe. Eu não estou com fome, mas não vou recusar um café bem forte e sem açúcar, por favor. - Respondi o mais casual possível, mas sabia que era inútil fingir que nada aconteceu.

- Providenciarei imediatamente. O senhor deseja algo? - Dirigiu-se a Nathaniel.

- A senhorita é muito gentil, mas não, obrigado.

- Não por isso. Peço licença. - Dito isso, fez uma breve reverência e se virou para sair. Meu irmão se precipitou indo em sua direção.

- Senhorita Zelennah, espere! - Parando diante da minha dama, coçou a cabeça parecendo pensar.

- Sim, Alteza? - Nath soltou o ar e buscou o meu olhar por um instante antes de dizer:

- Contamos com sua discrição e...

- Não se preocupe, senhor. Eu não ouvi nada. - Zelennah o interrompeu claramente nervosa.

- Certamente, senhorita. - Com isso, meu irmão deu passagem para ela, fechou a porta e se sentou no sofá com as mão na cabeça. Agora duas pessoas sabiam o seu segredo. Juntei-me a ele e ficamos assim por um instante. À medida que a respiração dele diminuía, a minha também se acalmava.

- Você sabe que sabe que precisamos resolver isso, não sabe? - Quebrei o silêncio.

- Sei mais do que qualquer um. Eu só... não sei como.

- Juntos nós podemos encontrar uma solução. Nath eu só lhe peço que não me esconda mais nada. Você pode contar sempre comigo.

- Eu sei que posso. - Seus olhos dourados levemente marejados encontraram os meus. Abracei-o e tudo que eu mais queria naquele momento era que o tempo parasse. Seu abraço foi reconfortante, mas algo nele me fez estremecer.

- Você está ardendo em febre, Rosa. - Nathaniel segurou-me com delicadeza, sua preocupação palpável em cada palavra.

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