Capítulo 6

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Ao saberem da chegada de Spider, Lo'ak e Tuk correram para encontrá-lo, sem conseguir acreditar na possibilidade.

Eles o avistaram de costas, conversando com Kiri. Os cabelos eram os mesmos que eles se lembravam, mas suas costas estavam muito mais largas. Ele estava mais alto, mas a diferença de altura entre eles ainda existia.

-Spider? - Lo'ak o chamou e ele se virou.

Seu velho amigo humano lhe deu um sorriso iluminado. Foi a vez dele reparar em quanto os Sully tinham mudado.

Lo'ak estava ainda mais parecido com o pai, havia uma tatuagem grande que ia do seu ombro esquerdo ao cotovelo. Tuk estava irreconhecível, ou melhor, diferente da menininha das lembranças dele, mas tão parecida com a mãe dela. Uma lança estava presa às suas costas.

Lo'ak foi o primeiro a abraçá-lo, deixando algumas lágrimas caírem. Tuk fez o mesmo em seguida.

-Você não devia fazer isso! - Lo'ak então chamou a atenção dele.

-Isso o que? - Spider rebateu a conversa.

-Sumir por anos e depois voltar, achamos que você tinha morrido - o Sully explicou.

-Eu sei, sei muito bem disso - Spider ergueu as mãos, em defesa - não foi justo com vocês, mas eu tinha medo do que podia acontecer se descobrissem que eu tinha salvado meu pai.

-Seu pai? Você realmente o considera assim? - Tuk levantou a questão.

-Eu sei que ele foi feito a partir do homem que me gerou, independente de DNA ou não, ele resolveu me assumir como filho - contou o rapaz - e ele não é o mesmo que vocês conheceram, eu asseguro.

-Bom, vamos ter que confiar em você, a aliança foi feita, espero que valha a pena - Lo'ak comentou.

Spider apenas assentiu, esperando que seus pais cumpririam com sua palavra.

Os guerreiros Na'vi de todos os clãs imagináveis se reuniram juntos sobre Bridgehead. A grande e poderosa cidade de ferro estava completamente coberta pelo colorido dos ikran, e um majestoso Toruk que comandava tudo aquilo. 

Quando Miles se posicionou para o ataque, sentiu um longo suspiro sair de sua garganta. Nervosismo. Estava do outro lado agora, sabia exatamente sobre o que o inimigo estava pensando e poderia fazer. O lugar que ele estava prestes a atacar tinha sido seu lar e fortaleza há anos atrás. Logo essa concepção foi trocada pela imagem da cabana que dividia com Varang, Spider, Mawey e Taykar, na agora longínqua ilha. Atacaria esse lugar de morte e opressão para defender o verdadeiro lar que tinha agora.

As aeronaves humanas se posicionaram, dispostas a atacar com todo poderio de fogo que tinham. Eles deram o primeiro tiro, e assim, sob o comando de Toruk Makto, os na'vi contra atacaram, deixando a cidade indefesa. Com tudo sob controle, sem restar outra alternativa aos humanos se renderem, Jake Sully e Miles Quaritch chegaram aos líderes. Uma ligação foi feita diretamente à RDA, deixando claro quais eram os novos termos de uma rendição. Bridgehead seria cedida aos humanos, contanto que nenhum recurso do planeta fosse explorado.

Depois de anos em batalha, a RDA finalmente compreendeu que aquela era uma causa perdida. Assim foi feito, os antigos inimigos conseguiram chegar a um acordo. Aos poucos, aquele lugar seria povoado pelos humanos refugiados da desolada Terra.

Quem ainda vivia ali, poderia obter a comida e água necessárias para viver, mas nada além disso. Cientistas foram escolhidos como os líderes de todos os grupos.

Assim, cada clã se preparou para partir de volta para casa. Até que algo impediu que os líderes do Clã das Cinzas fizessem isso.

-Me desculpe, senhora, mas precisava falar com você.

Varang ouviu a voz de uma jovem mulher a chamando diretamente. Quando se virou, viu a moça ajoelhada, com a cabeça baixa, em total posição de respeito. Spider a observou, pensando que ela deveria estar morrendo de medo.

-Não tenha medo, minha mãe vai falar com você - ele resolveu fazer sua parte para acalmá-la.

-Se levante - Varang pediu a ela, confirmando o que Spider tinha dito.

Quando a moça se levantou, eles conseguiram ver melhor o rosto dela. Era redondo, com olhos amendoados, castanhos, a boca era pequena e delicada, o nariz redondo.

-Meu nome é Carla Rodrigues - ela se apresentou - eu sou xeno botânica. Há um tempo atrás, tivemos uma doença misteriosa e incurável por aqui, perdemos muitos dos nossos. Conforme meus estudos, descobri que poderia haver uma cura nas plantas de sua ilha. Gostaria de ir com vocês até lá, com sua permissão, é claro, e trazer as plantas de lá para cultivá-las aqui.

-Proposta interessante a sua, doutora - Varang ponderou rapidamente - eu espero que seja mesmo para isso que está querendo ir para a nossa ilha. Se descobrir que tem outros motivos para isso, sofrerá as consequências.

-Não, senhora, eu prometo que meus motivos são apenas científicos - jurou Carla.

-Está bem, já estamos partindo, então não demore a nos acompanhar - Varang deu a ordem.

Carla assentiu e fez como lhe foi pedido. Arrumou suas coisas, se despediu dos poucos amigos que tinha, e foi para a ilha do Povo das Cinzas, seguindo seus líderes.

Ela tentou não se sentir ansiosa com a vida que tinha escolhido a partir de então. Pensou apenas que se esforçaria para se adaptar.

Entre esses pensamentos, ela também ponderou sobre o rapaz humano que os acompanhava. Nunca tinha ouvido falar dele e, é claro, como cientista, um pouco de curiosidade sobre ele surgiu em sua mente, como um humano tinha sido adotado por um casal de na'vi.

Um pouco depois, ela logo notou que o consorte de Varang, Miles, tinha as características de um recombinante. Percebeu que era isso o que ele era, o que jogava alguma luz sobre as conexões que ele poderia ter com Spider, mas era só apenas o começo da história. Carla esperava compreender o mistério todo.

Assim, depois de algum tempo de jornada, chegaram à ilha. O lugar parecia muito inóspito a princípio, mas para a mente de cientista de Carla, se tratava de um terreno muito fértil. Esperava encontrar as respostas que procurava ali.

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