Capítulo 11

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Quando a cientista se sentou ao lado de Spider, a convite do próprio, sentiu-se mais culpada do que aliviada. Talvez certo alívio viesse da sensação reconfortante de sentar ao lado da única pessoa que tinha sido amigável e atencioso com ela até então. Quando se ofereceu para acompanhar o Povo das Cinzas, não esperava encontrar pessoas um tanto diferentes das que viu em campo de batalha. Eles ainda eram guerreiros ferozes, mas em casa, podiam ser mais tranquilos.

Ainda assim, a coisa mais surpreendente que Carla encontrou ali foi o próprio Spider, um humano, que vivia como na'vi e tinha feito daquela ilha o seu lar. Isso por si só, era fascinante. Mesmo com esse fato unido à gentileza dele, ela ainda se sentia uma estranha entre eles, uma invasora, alguém de quem se desconfiar. Bem como a moça que tinha confrontado Spider anteriormente.

Só restou à cientista observar toda a comemoração que se daria como uma observadora distante. 

Spider por sua vez, se levantou ocasionalmente, se divertindo com os irmãos, que pareciam nunca deixá-lo em paz, mas ele estava gostando disso, fosse dançando juntos, ou quando Taykar subia em suas costas e o fazia cair no chão com forte impacto.

O rapaz humano pareceu não sentir nem mesmo um resquício de dor, rindo muito alto, era a imagem mais feliz de Spider que Carla tinha visto até então.

Apesar do riso dos irmãos, Mawey achou melhor interferir e acalmá-los um pouco. Ela se sentou no meio da grande roda onde o povo estava reunido, convidando os dois para fazer o mesmo. Em vez de obedecer, Taykar acabou indo com os amigos da sua idade, brincando de tiro ao alvo na árvore mais próxima com as pedras do chão aos seus pés.

Spider então, acabou tomando a decisão de voltar ao lado de Carla, sentindo-a um tanto solitária. Ele podia entender completamente bem a sensação de ser a única pessoa diferente ali, por mais que tentasse se encaixar com os na'vi, havia uma limitação clara em sua forma física. Ainda assim, com o passar dos anos, Spider se conformou com quem tinha se tornado, havia conquistado seu espaço, como ele era. Ele desejava que Carla encontrasse o mesmo.

No entanto, seus pensamentos ocuparam tempo de mais, o que fez com que Guaitani se aproximasse dele.

-Eu achei que tínhamos terminado nossa conversa - a aparição dela minou a paciência dele imediatamente.

-Eu não queria que você me tratasse assim - ela pediu, parecendo no mínimo arrependida e triste.

-Você foi a primeira a deixar claro que me queria longe - Spider rebateu, de braços cruzados, muito determinado.

-Eu sei, e sinto muito por isso - ela suspirou fundo - é que... vendo você com ela... eu pensei...

-Pensou o que? - ele se sentiu mais confuso ainda.

-Que você voltaria para os humanos com ela e nos trairia - ela falou o que pensava.

-Eu jamais faria isso, se ainda não confia que eu escolhi o Povo das Cinzas para ser a minha família, isso mostra o quão pouco entende sobre mim - Spider declarou com toda certeza.

-Eu só pensei... me desculpe por não acreditar em você - ela murmurou, ainda mais atordoada.

-Guaitani - ele suspirou fundo - eu sinto muito por todo seu descontamento comigo, eu só pensei em ser verdadeiro com você por ser o certo a se fazer, se continua com raiva de mim é algo que eu realmente não posso fazer nada para mudar, cabe a você pensar diferente sobre mim.

-Tudo bem, eu te entendo, eu sinto muito mesmo, por tudo - ela assentiu, sentindo-se derrotada, mas finalmente se rendendo.

Seus sentimentos confusos por Spider deveriam ser deixados de lado. 

Assim, ele chegou ao lugar que queria. Carla tinha observado tudo de longe, ainda sem entender quem era a garota que parecia perseguir Spider.

-Você está bem? - ele perguntou, lembrando-se de observá-la de forma solitária.

-Eu estou, está tudo bem - ela tentou disfarçar o sentimento - mas você, não me parece bem, gostaria de conversar? Claro, se estiver tudo bem.

-Eu... bom, obrigado pela oferta - ele respondeu, a princípio incerto, e depois rindo, mas de um jeito desanimado - bom, você deve ter percebido que eu e a Guaitani não temos um bom relacionamento.

-Guaitani... então esse é o nome dela - Carla refletiu - eu tinha visto vocês dois antes, de uma forma bem tensa.

-Ela tinha interesse por mim, mas eu não pude corresponder, por mais que eu tentasse a princípio - ele contou vagamente, sem detalhes.

-Ah entendi... - ela abaixou a cabeça, compreendendo tudo agora.

-Tinha um lado meu que tinha medo de ficar sozinho, de não ter alguém como eu por perto, e já que ela se ofereceu pra isso, eu tentei a chance, mas não deu certo - ele deu de ombros.

A confissão sincera fez Carla se sentir um tanto constrangida, no entanto, seu coração se abriu para um sentimento de pena. Não achou que o rapaz merecia passar por algo assim.

-Você tem a companhia dos seus irmãos e dos seus pais - ela tentou animá-lo - você é amado e querido aqui, isso já é muito bom.

-Eu sei - ele deu um sorriso curto, querendo argumentar que ainda assim, havia momentos que parecia faltar mais alguma coisa - você tem razão, deveria celebrar o que eu tenho de bom.

-Isso, é um ótimo plano - Carla tentou animá-lo.

-Será que você celebraria comigo? - ele estendeu uma mão para ela, um claro convite para dançar.

-Eu não sei se seria uma boa ideia - ela hesitou, com medo do que o clã pensaria.

-Não se preocupe, ninguém impedirá o filho dos líderes de fazer o que ele quiser - Spider brincou, rindo - mas eu também não vou impedi-la de fazer o que quiser, se disser não, está tudo bem.

-Muito bem - ela acabou cedendo, numa tentativa de deixar seu sentimento de solidão para trás.

Ela deixou com que Spider ditasse os passos, enquanto ela o seguia de forma tímida e mais desajeitada. Por um pequeno instante, Carla se esqueceu que era uma forasteira, tinha sido bem acolhida por Spider, e isso era tudo que importava.






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