A Décima Sétima Hora

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        Como toda a história de Doutor, essa não poderia ser diferente. Eu nasci em Londres e até onde eu sei, sempre vivi aqui. Quem sou eu? Eu sou Allyce Clarke, tenho pele negra, cabelos crespos, olhos da mesma cor do cabelo e 22 anos. Uma saúde de ferro. Modéstia a parte, raramente fiquei doente em toda a minha vida. 

        Eu trabalhava como atendente em uma loja de roupas. Não era lá um emprego perfeito, mas dava para sustentar a minha vida simples e minimalista sem apego às coisas boas da vida... Quem eu quero enganar? Na verdade eu era pobre, ferrada e cheia de dívidas, mas eu era feliz apesar de tudo.

        Você deve estar se perguntando: se eu morri, como eu estou narrando a história? Será que sou um fantasma? Ou estou tirando uma onda com a cara de vocês? Para início de conversa, o tempo é um barato de um bagulho muito louco. Não tente buscar respostas complicadas porque tudo é bem mais simples que parece.

        Naquele dia eu acordei como uma princesa da Disney... De novo, Allyh? Imagina a cena: uma garota deitada na cama de barriga para cima e ocupando todo o espaço com os braços e pernas tudo aberto. O cabelo parece de uma vassoura e o ranho escorrendo pelo nariz enquanto ronca... Vida de trabalho duro não é fácil! Acordei e ainda tive que esperar minha alma voltar para o corpo. Sabe quando você acorda e não sabe onde está, nem qual o teu nome? Bom, sou assim todo o santo e maldito dia. O que eu prefiro quando acordo? Que não me façam perguntas.

        — O que aconteceu aqui? — A mulher de cabelos escuros perguntou. Essa é a minha mãe, Srª Clarke.

        Meu quarto estava uma bagunça. Em minha defesa, eu trabalho muito e só tenho tempo para comer algo e cair na cama.

        — Será que o apocalipse zumbi já aconteceu e a Allyh virou um zumbi? — Meu irmão de 13 anos falou. Ele é um rapaz de cabelo como o meu e um olhar de peste. Sabe aqueles adolescente que você torce para que seja só uma fase difícil? Pois então. Eu poderia matar aquele peste! Obviamente é da boca para fora. Eu amo meu irmão... Mas ainda é uma peste!

        Soma tudo isso com o fato de eu não ter acordado linda e maquiada, mas como alguém que passou horas trabalhando e só jantou e caiu no sono. Agora acordei, terei que tomar um banho, me arrumar, tomar um café preto (que foi feito em casa já que não dá para comprar em cafeteria famosa) e ir para mais um dia de trabalho.

        Como eu trabalho com o público, preciso sempre manter o sorriso no rosto. Mesmo que meu desejo seja esfolar o cliente chato ainda vivo.

        — Isso é muito engraçado, David. — Digo para o meu irmão ainda tentando me localizar. — Essa casa não tem privacidade, não?

        Eu nem tinha trocado de roupa para dormir. Dormi com a roupa normal mesmo.

        — Tive que ver se ainda está viva. Você trabalha tanto que não tem tempo para absolutamente nada da vida. — Minha mãe fala. Ela se preocupa comigo e sempre diz que preciso conhecer o mundo e coisas novas... Se ela soubesse que aquele dia não seria normal...

        — Desde que aquele homem nos deixou com dívidas para pagar e inclusive com risco de perder a casa, não me resta mais nada, mãe.

        O homem era o que alguns diriam ser meu pai. O homem, além de não fazer seu papel de pai corretamente, também contraiu dívidas com gente errada. Ele pagou, mas não com dinheiro. Também fez dívida com banco e empresas e essas não se vão com a morte.

        — Essa não deveria ser a tua função, filha. Deveria conhecer o mundo e talvez um homem bonito.

        — Eu não quero homem, mãe. — Digo me movendo quase como um zumbi. Talvez meu irmão esteja certo e eu já esteja morta.

Doctor Who - BloodlineOnde histórias criam vida. Descubra agora