Cozinha

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Sentada  por sob a bancada da cozinha, balanço os pézinhos para frente e para trás, aguardando quase que impacientemente o timer apitar.

O timer apita. Ele abre o micro-ondas com um leve sorriso no rosto, retira duas tigelas e... Au revoir! Temos brownies!
Animado, espalha a cobertura de chantilly com um cuidado excepcional. Mal me dou conta de que o estou observando há horas. É tão interessante vê-lo se mover de um lado para o outro preparando a massa, com o calção sujo de trigo. Os olhos atentos ao livro para não errar a receita. E agora a expressão amorosa que mostra-me ao fazer um rostinho no meu brownie.

Desvio o olhar e me atento à noite fria e escura através da janela acima da pia. As estrelas lá fora brilham tanto quanto ele. Gostaria de dizer-lhe isto. Então pulo da bancada e o puxo para encará-lo.

- Querido...

- O que foi? Aconteceu alguma coisa? - interrompe

Ponho uma mão em seu peito para acalmá-lo.

- Está tudo bem. Quero apenas dizer que você é uma estrela

- Como assim? - pisca algumas vezes confuso

- Você é a minha estrela... - suspiro - Sempre que tudo parece escurecer, você me ilumina. Me ajuda a superar as tempestades. Por isso sou extremamente grata.

Abre a boca tantas vezes, que me pergunto se o que acabei de dizer foi demais. E se for o caso, não tenho ideia do que fazer a seguir.

Sinto o piso gelado aos meus pés. Olho para baixo. Tento pensar no próximo passo. E se fingir que nada aconteceu? Soltar uma piada do nada? Elogiar o seu trabalho culinário? E se eu só sair correndo? E se...

- É você a estrela.

Ergo o cenho e o vejo de novo. Mas há algo de inesperado. São lágrimas descendo pelo seu rosto.

Seguro seu rosto com as mãos. E antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ele se adianta.

- Quando me encontrava atormentado... quando quase cheguei à beira do precipício. Foi você que me reergueu. Me motivou. Me deu esperança. Eu, querida, é que sou extremamente grato.

Então me puxa para mais perto, me envolvendo num abraço apertado. Depois nos voltamos à mesa para admirar a obra de arte do século: dois rostinhos de chantilly.

- Não é que parece com alguém que conhecemos? - brinca

- Jura? Com quem?

- Conosco - ri

- Concordo plenamente. - balanço a cabeça. - Inclusive esse bigode aqui lhe caiu muito bem - prendo um sorriso

Ele me encara confuso.

- Bigode? Querida, é a boca dele!

Minha gargalhada é tão alta que nem os pássaros da noite ousam pousar em nossa janela.

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