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A origem dos nossos poderes [pt. 2]

Mina

       Assim que entrei na cabine e coloquei meu disco na elevação circular da bancada, meu panfleto começou a ficar cada vez mais transparente até quase desaparecer nas minhas mãos. Enquanto ele desaparecia, uma sólida melodia protagonizada por flautas e violinos transmitia tamanha calma que quase dormi. Quando estava fechando os olhos, acordei novamente assustada; uma voz parecia estar lendo o panfleto. Parecia a voz de uma simpática senhora, mas que eu nunca havia ouvido antes. Á medida que ela narrava, as imagens se materializavam com um brilho peculiar e eu ficava também cada vez mais maravilhada. 

       "Em meio às muralhas e ruas de pedra de uma pequena vila no extremo sul, vivia Felie, uma menina de olhos perspicazes e um dom peculiar: ela podia distinguir a verdade da mentira nas palavras dos outros. Desde pequena, Felie percebia um leve tremor em seu estômago quando alguém mentia, como se o próprio ar vibrasse cada vez que alguém dizia algo inverdadeiro.

       Com o passar dos anos, Felie aprendeu a confiar em seu instinto. Sabia que, se o tremor não surgisse, as palavras eram verdadeiras. Essa habilidade a tornava muito querida em sua vila, pois todos buscavam seus conselhos para evitar enganos e injustiças. Ela era frequentemente consultada por comerciantes, que queriam saber se os preços eram justos, por camponeses, que desconfiavam de promessas vazias, e até mesmo pelo governante da vila, que buscava a verdade entre os sussurros da corte.

       Mas o dom de Felie também trazia a ela desafios. Saber a verdade nem sempre era fácil, e muitas vezes ela se deparava com mentiras contadas por boas intenções, para proteger alguém ou evitar conflitos. Nessas situações, sempre ficava em dúvida, mas acabava quase sempre revelando a real verdade. Um dia, um forasteiro chegou à vila, pedindo abrigo e contando suas histórias de bravura e riqueza. A garota, no entanto, sentiu o tremor familiar em seu estômago. As palavras do forasteiro eram inspiradoras, mas algo não se encaixava.

       Decidida a descobrir a verdade, Felie investigou o passado do forasteiro. Depois de algum tempo, descobriu que ele era um criminoso procurado pelos mais diversos crimes nas vilas vizinhas, e que queria, na verdade, se esconder das autoridades. Com a ajuda dos habitantes da vila, o criminoso foi entregue à polícia, e passou toda a sua vida atrás das grades.

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      Esse poder será confiado a você, para que o use apenas para fins altruístas e caridosos, não apenas para você, mas também para a sociedade. Caso não o use com responsabilidade, seu direito de possuí-lo será revogado e você o perderá. Quem quer que tenha transcrito esta história e criado esse disco tinha como propósito deixar esses poderes tão valiosos nas mãos de alguém que possa agir da mesma forma que Felie, em prol de sua comunidade. O mundo estará contando com você. Boa sorte.

Caso queira ouvir a história novamente, remova e recoloque o disco na bancada.

"

        Ouvi o disco algumas vezes mais, mas parei ao perceber que os alunos que já formavam fila do lado de fora começaram a ficar impacientes. Não sabia ainda como meu poder funcionava, mas certamente estava ansiosa para descobrir.

Dahyun

       Quando meu disco começou a tocar, o ambiente foi preenchido por uma música pop animada que me dava vontade de pular e dançar. Antes que pudesse considerar fazê-lo ou não, meu panfleto o fez por mim e começou a quicar por toda a cabine. Tentei pegá-lo, mas ele era muito rápido, e eu não conseguia sequer encostar nele. Assim que finalmente desisti de tentar, me sentei e, de repente, uma voz começou a narrar uma história. Era uma voz de criança, que de alguma forma me lembrava a de alguém que conheci quando era pequena, mas não consegui me lembrar de quem.