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A origem dos nossos poderes [pt.1]

Nayeon

         Acordei com um raio de sol nos olhos. Levantei-me rapidamente e eles arderam mais do que eu achava que arderiam. Fiquei por alguns segundos com eles fechados e o ardor foi aliviando aos poucos. Quando olhei em volta, percebi que Mina já havia acordado e arrumado o seu canto do saco de dormir, mas as outras ainda estavam dormindo. Só então que finalmente me olhei no espelho e me dei conta de que ainda estava de vestido e com a maquiagem borrada - boa parte dela, aliás, havia ficado no travesseiro.

       Com grande dificuldade em não acordar as meninas no caminho, fui até o banheiro. Por sorte, Mina nos conhecia o suficiente para saber que não conseguiríamos nos trocar depois do baile e deixou uma camiseta e uma calça jeans para mim e para Jeongie. Depois de me trocar, peguei um removedor de maquiagem e alguns algodões e comecei a tentar tirar o que ainda restava no meu rosto. Mas todo o meu esforço foi em vão quando, numa tentativa desesperada de tirar o rímel de debaixo dos olhos, eu acabei derrubando com o cotovelo quase tudo o que tinha encima da bancada da pia.

       O baque certamente acordou as meninas porque tudo o que eu consegui ouvir em seguida foram alguns gemidos de sono e gritos desesperados. Dahyun apareceu na porta do banheiro assustada.

- Ah, foi você quebrando tudo de novo - ela soltou um suspiro ao mesmo tempo de alívio e decepção e voltou para a cama.

- E você nem para me ajudar? 

- Eu te ajudo! - Jeongie falou do quarto - Afinal, nós não podemos dormir até muito tarde senão as cabines para ouvir os discos vão estar lotadas - ela disse alto propositalmente para que Dahyun e Momo ouvissem. 

      As duas levantaram em um pulo e começaram a se arrumar, enquanto Jeongyeon me ajudava a recolher as coisas, e depois enquanto eu a ajudava a se arrumar também. Pegamos nossos discos e saímos do quarto exatamente às 7:03. No meio do caminho topamos com Mina, que já havia comido e estava com seu disco a caminho das cabines. Decidimos então acompanhá-la e depois ir tomar café da manhã, mesmo não sabendo o quanto aquilo duraria.

       Nos apressamos, e valeu a pena. As cabines estavam completamente vazias. Eram quatro delas e cinco de nós. Me lembrei então que Jeongie ficara de nos contar o que havia acontecido com seu disco, mas como não podíamos perder a vaga nas cabines, perguntei apenas se ela tinha um. Ela respondeu que não sabia a longo prazo, mas que naquele momento definitivamente não tinha um. Em seguida, disse que iria até a cafeteria comer e que nos esperaria lá quando acabássemos. Assentimos e entramos cada uma em uma cabine.

        Assim que entrei, fechei as cortinas do vidro que dava para o corredor e tentei entender minimamente como tudo funcionava. Não podia ser muito complicado. À frente da poltrona onde estava sentada, havia uma pequena bancada com nada além de uma elevação circular exatamente do diâmetro do disco. Fiz o óbvio e coloquei-o sobre ela. Assim que o fiz, meu cabelo começou a flutuar assim como o panfleto com a história que eu tinha em mãos, que ficou na altura dos meus olhos e se abriu sem que eu o tocasse.

       Uma suave melodia vinda diretamente de uma taberna em uma pequena vila na idade média preencheu o ambiente, que foi aos poucos sendo colorido com cores que transmitiam o mesmo sentimento. Antes que eu pudesse sequer processar o que estava acontecendo, uma voz na minha cabeça começou a ler o panfleto; não era a minha própria voz, mas também não se parecia com qualquer voz que eu já tivesse ouvido. 

       "Amélie sempre soube que não era comum. Mesmo que não haja uma definição correta para 'comum', ela conseguia não se encaixar em nenhuma das possíveis. Desde pequena, ela vivia na floresta com sua avó, em uma cabana aconchegante entre as árvores antigas. Amélie adorava a floresta, seus segredos e a vida selvagem que a cercava. Mas o que a tornava verdadeiramente especial era seu dom peculiar: ela tinha breves visões do futuro.

       Eram flashes rápidos, imagens desconexas que surgiam em sua mente sem aviso prévio. Às vezes, eram cenas simples, como um pássaro caindo de seu ninho ou uma flor desabrochando. Outras vezes, eram visões mais complexas, como um acidente de carro ou um incêndio na vila próxima.No início, Amélie não entendia o que estava acontecendo. As visões a assustavam e a confundiam. Ela não sabia o que significavam ou o que fazer com elas. Mas com o tempo, ela aprendeu a confiar em seu dom e a usá-lo.

      Um dia, enquanto Amélie brincava na floresta, ela teve uma visão terrível. Viu a cabana de sua avó em chamas, com a avó presa dentro. O medo a dominou, mas ela sabia que precisava agir rápido. Correu de volta para a cabana o mais rápido que suas pernas podiam aguentar. Ao chegar, encontrou a casa empoeirada e com muita fumaça saindo das chaminés. A avó estava lendo em seu quarto enquanto o fogo da lareira estava se espalhando pelos móveis mais próximos. Amélie a alertou a tempo, e juntas conseguiram apagar o fogo antes que se espalhasse.

      A partir desse dia, Amélie se tornou a heroína da vila. Todos a admiravam por sua bravura e por seu dom especial. Ela continuou a usar suas visões para ajudar os outros, evitando acidentes, prevenindo doenças e até mesmo ajudando a encontrar pessoas perdidas. Mas com o tempo, ela foi amadurecendo, assim como seus pensamentos. Amélie se tornou egoísta e passou a trocar visões por recompensas. Desesperada pelo dinheiro, ela inventava visões e iludia as pessoas da vila, que passaram a não confiar mais nela. Assim ela foi banida para a floresta onde não poderia ter visões que afetassem ninguém além dela própria, e onde ela viveu até o fim de seus dias.

-

     Esse poder será confiado a você, para que o use apenas para fins altruístas e caridosos, não apenas para você, mas também para a sociedade. Caso não o use com responsabilidade, seu direito de possuí-lo será revogado e você o perderá. Quem quer que tenha transcrito esta história e criado esse disco tinha como propósito deixar esses poderes tão valiosos nas mãos de alguém que consiga resistir às tentações, e que não acabe como Amélie. O mundo estará contando com você. Boa sorte.

Caso queira ouvir a história novamente, remova e recoloque o disco na bancada.

"

       E todas as cores e sons se dissiparam.

      O panfleto se fechou e caiu novamente em minhas mãos.

      Eu ainda precisaria de mais um tempo para processar tudo, mas vi que uma fila já se formara do lado de fora e não queria deixar as pessoas esperando mais, então saí e me dirigi à cafeteria.

E aí? O que acharam do capítulo?

Não se esqueçam de votar e compartilhar a história <3

Como as histórias delas não são pequenas, eu dividi tudo nesses 2 capítulos que foram lançados juntos !!

Espero que vocês tenham gostado, tenham um ótimo dia, e até o próximo capítulo 🍓