Wei Ying Não Tem Muita Sorte!

CAPÍTULO 4 - MOTO ENVENENADA

Eu tive que explicar pro meu pai sobre à casa toda molhada, sobre meu rosto enfaixado e sobre... A carona do meu vizinho. Sim, o velho me viu descendo da garupa da moto dele. De boa?

De todas essas coisas, o velho só encucou com o fato de que eu havia estado com o tal vizinho maloqueiro, mal ligou pra minha cara inchada. Para ele, que se danasse Wei Ying e seu nariz. Eu podia ficar que nem o Michael Jackson e ele não estaria nem aí.

Meu pai deu uns gritos escandalosos ao saber que o vizinho do lado esteve em nossa casa. Eu tentei persuadi-lo a falar mais baixo, mas ele apenas aumentou ainda mais o tom de sua voz. Quem ouvisse poderia pensar que era um cara super forte e másculo devido a sua voz áspera, mas meu pai era um gordo de 1,59cm chato pra burro que não tinha força para trocar o gás da cozinha.

Depois de me passar um sermão de uns dez minutos, meu pai me deixou ir para o meu quarto. Eu fui completamente irritado, desabotoando a minha camisa de oficial de polícia fajuta e entrando no aposento. A janela estava coberta pela cortina que eu havia puxado para me esconder do meu vizinho. Não havia mais necessidade daquilo. Eu apenas afastei o tecido fino e fiz a minha vista bater no quarto de Lan Zhan.

Ele estava lá, não que eu o estivesse vendo. A luz estava apagada e eu podia ver a TV que estava no armário ligada, fazendo sombras aleatórias na parede – já que estava tudo escuro. Eu também estava no escuro e procurei a tomada para ligar a luz e quando o fiz, o reflexo da luz bateu fraquinha na parede da casa dele e talvez por isso ele tenha se levantado e olhado em minha direção.

Eu meio que sorri, acenando. Gesticulei um me desculpe pela gritaria do meu pai – pois apenas um surdo não ouviria aquilo – e ele deu de ombros, fingindo-se de desentendido. Isso foi muito legal de sua parte, principalmente para eu poder relaxar de meu constrangimento. Assenti para ele mais uma vez e fui ao banheiro tomar um cuidadoso banho e me deitar.

Ainda demorei a dormir naquela noite. Muitas coisas passavam pela minha cabeça, como a vida que eu queria ter, o homem que eu queria ter e o fato de minha cara estar latejante. Nada muito surpreendente para mim.

Quando eu finalmente cochilei, ao abrir os olhos de forma assustada pouco tempo depois, percebi que havia sonhado com o Lan Zhan e isso havia mexido comigo. Tudo bem que eu sentisse alguma atração pelo cara e que ele havia sido gentil, mas isso não significava nada... ao menos eu esperava que não.

Eu estava muito cansado de sofrer por amor. Nunca fui do tipo sortudo no quesito relacionamentos. Yang, meu ex-namorado, costumava dizer que eu era um imbecil mulherzinha por achar que os relacionamentos deveriam ser mais romantizados em vez de envolver apenas sexo e companheirismo.

Okay, sexo também era importante e eu gostava disso, mas era como se faltasse esse romance de tirar o fôlego, toda essa...energia que faz alguém levantar de manhã e se olhar no espelho e falar: hey, eu sou fulano e sou feio, mas tem quem queira! Nada melhor, só dizendo.

Não queria me apaixonar pelo Lan Zhan, mas era o que estava parecendo que estava acontecendo. Eu estava caindo de amores pelo fortão que jamais me olharia – eu pensava que ele jamais falaria comigo novamente também – e isso estava me matando e matando a minha autoestima que já era pouca. Tanto fazia também. Eu tinha decidido a muito tempo que ganhar não era a minha praia.

**

O fim de semana me pegou desprevenido e eu estava em casa num sábado à tarde ajudando a minha mãe a cozinhar um bolo que ela aprendeu na TV. Estava um pouco quente e o aquecedor da casa teve que ser regulado, porém, eu estava chateado era com o fato de não ter para onde sair.

Minha mãe perguntou onde estavam meus amigos de escola e eu apenas dei de ombros. Eu tinha realmente bons amigos nos tempos de escola, mas eles provavelmente tinham mudado de situação e não estavam como eu, morando com os pais e trabalhando num emprego vagabundo.