CAPÍTULO 5 - ELVIS NÃO MORREU

144 40 41
                                    

Segunda-feira, mais um dia de serviço. Cheguei à loja e o meu patrão me olhou com uma cara de susto devido ao meu rosto todo deformado, nariz enfaixado e minha cara de poucos amigos. Ele mal falou quando me entregou a fantasia de Elvis Presley e me pediu para vestir. Era o dia do Reis do Rock do Asfalto e é, eu fiquei muito bizonho de Elvis.

Numa tentativa de ficar anônimo naquela roupa cheia de lantejoulas, eu meio que me infiltrei no meio dos tubos de óleo diesel e pneus, deixando os meus dois colegas de serviço muito satisfeitos por atenderem os poucos clientes da loja e ganharem a comissão.

Então, depois de poucos minutos de expediente, quem eu vejo chegando na loja? Sério, quem?

Lan Zhan. Meu vizinho. Eu fiz uma careta para o vazio em indagação e comecei a me perguntar como ele estava ali, perto, na loja onde eu trabalhava, que vendia coisas de motos e o porquê e claro que cheguei à conclusão óbvia. Ele tem uma moto. Ele estava lá por isso. E eu fazendo um torneio de artes marciais internos na cabeça por causa disso.

Eu estava bem escondido, então pensei que ele provavelmente não me veria. Inocência a minha. Lan Zhan rodou o olhar pela loja toda, olhando cada item vendido e quando o rosto dele parou nos óleos, ele olhou direto pra mim. E a sua vista foi descendo, descendo até... a roupa de Elvis.

Eu ruborizei totalmente, eu pude sentir até meu pinto ruborizar por mais idiota que isso possa soar e virei de costas, fechando os olhos e fazendo mais uma das minhas caretas idiotas para mim mesmo. Sai andando devagarzinho em direção ao depósito para que Lan Zhan não notasse que era por causa dele, então eu senti uma mão gigante pousar no meu ombro e um puxão.

– Wei Ying – Disse. – Pode me atender?

Eu balbuciei algo e pigarreei, assentindo. Engoli em seco, quase como quando se tenta evitar enjoo e encarei seus pés.

– Claro, senhor. O que o senhor deseja? – Questionei.

Ele se demorou ainda para responder. Ficou me olhando por algum momento e suspirou pesadamente.

– Queria comprar pneus novos para a minha moto. Alguma indicação?

Eu subi a vista para ele, em uma mistura de horror e desespero. Eu não entendia nada de pneus assim como não entendia nada de tudo o que estava sendo vendido naquela loja. Como eu poderia indicar algo para ele? Não era justo, ele podia se acidentar caso eu o indicasse um pneu ruim e... ah, foda-se.

– Aquele é bem barato... – Apontei para um amontoado de pneus em promoção.

– É o mais barato?

– Sim... é o mais barato.

– Isso não significa que é o melhor.

– As pessoas sempre querem comprar o que é mais barato. – Respondi com uma sobrancelha erguida.

– Engano seu – Falou, dando um meio sorriso. – As pessoas querem o que é melhor e em um preço justo. Elas podem até nem pagarem um preço justo, mas a ilusão de que aquele valor vai fazê-lo levar algo bom é o que as fazem comprar. Você desmereceu o produto que me indicou só por falar de seu preço barato.

Fiquei desconcertado com aquela. Uma bem na testa. Ele estava certo e eu era um vendedor de merda. Meio que rolei os olhos, mexendo a cabeça de forma incômoda e o olhei.

– Eu sei que sou um péssimo vendedor. Por que não pede ajuda a outro?

– Por que eu faria isso? – Me perguntou.

– Pelo mesmo motivo que uma torneira voou na minha cara? – Indaguei, aumentando o tom de voz. – Pelo mesmo motivo pelo qual você me ignorou ostensivamente no sábado? Porque eu sou um idiota!

Wei Ying Não Tem Muita Sorte!Onde histórias criam vida. Descubra agora