[Bônus 1] você também me deixa sem ar

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"Ela descasca uma laranja, separa em metades perfeitas e me dá uma. Se pudesse usar como pulseira da amizade, usaria. Mas só engulo pedaço a pedaço e digo para mim mesma que significa mais assim. Ficar mastigando e engolindo em silêncio com ela. Sentindo o gosto da mesma coisa no mesmo momento."

Nina LaCour
Estamos Bem

ᴘᴀʀᴛᴇ ᴜᴍ: 𝟿 ᴀɴᴏs ᴀᴛʀᴀ́s

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ᴘᴀʀᴛᴇ ᴜᴍ: 𝟿 ᴀɴᴏs ᴀᴛʀᴀ́s

Ela deveria ter virado à direita.

Se tivesse virado, esconderia-se em uma das cabines do banheiro feminino — a do meio, porque era a mais arrumada e a que tinha a melhor tranca. Então, esperaria alguns minutos até que todos fossem embora, saindo quando tivesse certeza de que a barra estava limpa. Por fim, ligaria para sua mãe e voltaria para casa sã e salva.

Mas ela não virou à direita.

A velha história de que se arrependimento matasse, já estaria morta, fez muito sentido naquele momento; mesmo que uma garota de oito anos não tivesse muitas coisas do que se arrepender, pareceu se encaixar perfeitamente na situação em que se encontrava. Pela terceira vez, tentou forçar sua passagem, mas as duas meninas foram mais rápidas, formando uma grande muralha à sua frente.

— Me diz, você vai trazer outro lanche amanhã?

Cassandra sempre era a primeira a falar. Ela era alta, alta demais para qualquer criança da sua idade, e a não ser pelas iniciais de seus nomes, ela e Catarina não possuíam muita coisa em comum. Seu pai era dono de um escritório de advocacia no centro da cidade, algo assim, então provavelmente sua família tinha muito dinheiro. Estava sempre acompanhada por Sarah, de quem também conhecia pouco, e as três estudavam na mesma classe, a sala 8, da 3ª série.

— Você precisa dizer pra sua mãe caprichar mais no presunto, o sanduíche de hoje não tava muito bom — Sarah falou. — Ou ela passa tanto tempo tentando arrumar seu cabelo que acaba se esquecendo disso também?

Eram os insultos mais antiquados e clichês que alguém poderia formular, e não deveriam atingi-la de qualquer forma. As duas meninas não eram muito criativas. Mas a frequência com a qual escutava aquelas frases, todos os dias da semana, o dia inteiro, estava aos poucos começando a produzir efeitos. Sem pensar corretamente, Catarina tocou em seus cachos.

Cassandra sorriu.

— Cuidado pra não prender a mão. — Alertou, passando um dos braços ao redor de seu ombro. — Seu cabelo é como uma teia de aranha, você pode acabar se enrolando todinha.

— Olha só isso aqui — exclamou, puxando algo lá de dentro. Catarina tentou se levantar, mas foi empurrada de volta. — E.T. O Extraterrestre — leu pausadamente. — Esse filme é antigo, mas vai ser bom rever, obrigada.

— Não é meu — disse, finalmente tomando coragem. — É alugado, eu preciso devolver amanhã, você pode pegar outra coisa, eu não me importo.

— Acho que não, acho que prefiro esse aqui. — Sorriu mais uma vez. — Parece que você vai ter que inventar uma boa desculpa pro dono da locadora. Boa sorte.

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