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Quando criança, Miguel era curioso sobre diversas coisas. Queria saber o porquê de o céu ser azul e o motivo de a terra ser redonda. Por isso, passava horas em frente à televisão, assistindo a documentários e matérias jornalísticas sobre os mais diversos assuntos.
Seu pai costumava incentivá-lo bastante nesse quesito. Levava livros para o filho ler e dizia que ele deveria conhecer o mundo das palavras desde pequeno.
E então, em uma manhã de verão, Miguel passou a se questionar sobre o motivo de seu pai ter ido embora.
Ele recordava-se perfeitamente do dia em que acordara com os gritos de sua mãe e seu pai. Esfregou os olhos, calçou seus chinelos e levantou da cama. Se aproximou furtivamente da cozinha, de onde vinham os gritos, e observou seus pais em uma discussão calorosa.
Pensou estar sonhando quando viu o homem que lhe dava livros, dar um tapa no rosto de sua mãe e sair em disparada para fora de casa, puxando uma mala.
Aquela foi a última vez que Miguel o viu.
Depois disso, passou a esperá-lo todas as noites, na esperança que ele voltasse para casa ou pelo menos fizesse alguma ligação. Nenhuma dessas duas coisas aconteceram. E então, depois de dois anos, o garoto cansou de esperar.
Ao decorrer dos anos, Miguel passou de um garoto curioso e energético, para um que raramente falava em sala de aula ou em reuniões de família. Ele pensou, que no final das contas, era tudo mentira e uma perca de tempo tentar desvendar as coisas do mundo, quando o homem que havia lhe ensinado aquilo também era.
Naquela noite, havia prometido para sua mãe e para sua avó que iria tentar se divertir, por isso aceitou a oferta de seu amigo, Pedro, de ir a uma festa na casa de um de seus amigos. Ele tentou, tentou de verdade, passou quase uma hora na maldita festa, mas no fim, o tédio venceu e inventou uma desculpa esfarrapada — mas que funcionou — de que precisava ir para casa.
Então, para Pedro, ele estava com sua família, e para sua família, ele estava com Pedro. Sabia que era errado mentir, mas não sabia o que fazer para eles entenderam de uma vez por todas que ele não gostava de sair. Que só queria ficar em casa, lendo um livro e escutando alguma música de Arctic Monkeys.
Felizmente, o destino parecia gostar dele, unicamente aquela noite, fazendo-o conhecer Catarina, Alex e até mesmo Mulan, que agora não saía de sua cabeça depois daquele beijo.
Ela acabou convencendo a todos de que o beijo havia sido válido, já que Miguel era um garoto e estava no Olympus àquela noite. Mesmo com alguns protestos, todos acalmaram os ânimos depois de um tempo e voltaram a conversar como se nada tivesse acontecido.
Todos, menos Miguel.
Ele não conseguia parar de encará-la e estava se sentindo o maior idiota do mundo por aquilo. Jurou odiar Mulan desde o dia em que ela havia derrubado seu exemplar de Fahrenheit 451 no chão e pisado nele logo em seguida. Tinha que detestá-la, precisava fazer isso. Mas não conseguia.
— Sem chance, "Clube dos Cinco" é o melhor — Protestou Catarina, fazendo com que Miguel saísse de seus devaneios e focasse no novo debate da mesa: qual era o melhor filme de John Hughes. — Nada supera aquela cena final do John erguendo o punho.
— "Clube dos Cinco" pode até ser bom, mas o que nada supera é a cena de Ferris Bueller cantando Twist and Shout — Mulan retrucou.
— Esse cara não é aquele mentiroso compulsivo que enganou todo mundo e no final ainda se safou? — Miguel questionou.
— Mais cuidado ao falar de "Curtindo a Vida Adoidado" — Respondeu apertando os olhos.
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É Só O Vento Lá Fora | ✓
Ficção Adolescente[Conto] Quatro jovens estudam na mesma escola, mas raramente se falam. Convenientemente, o inesperado acontece quando, em um sábado à noite, todos eles vão parar no Olympus, a lanchonete mais famosa da cidade. Obrigados a sentar na mesma mesa, eles...