Capítulo 11

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Depois de se acalmar e de negar umas dez vezes para Miguel que não queria ir ao hospital, Mulan contou brevemente a eles a história sobre quando sua mãe morreu.

— Algumas semanas depois do enterro dela, eu comecei a ter alguns pesadelos muito fortes, que depois eu descobri que eram terrores noturnos — parou para respirar fundo.

Miguel segurou em seu ombro.

— Mulan, tá tudo bem se você quiser parar — Disse.

Ela balançou a cabeça em negação.

— Não, eu consigo — Tomou fôlego para continuar. — Depois eu... comecei a ter esses flashbacks que eram mil vezes piores que os pesadelos, porque eles podiam acontecer em qualquer lugar e eu não tinha controle nenhum sobre isso.

— O que o seu pai dizia sobre essas coisas? — Catarina perguntou.

— Eu demorei um tempo pra falar sobre isso com ele. Tempo até demais — Tirou uma mecha de cabelo da frente de seus olhos. — Dois anos, exatamente — Baixou o olhar, suspirando. — Chegou um momento em que eu não conseguia fazer mais nada. Nem comer, nem dormir, nem mesmo ir pras aulas de teatro que eram a melhor parte do meu dia. Então eu contei para ele, e ele me levou no médico. Depois de algumas consultas eu fui diagnosticada com Estresse Pós-Traumático.

— Esse não é aquele transtorno dos veteranos de guerra? — Catarina arqueou as sobrancelhas, curiosa.

— Geralmente, mas qualquer pessoa que passou por alguma coisa traumática pode acabar desenvolvendo — Ela tomou impulso e levantou-se sendo acompanhada pelos três, que também fizeram o mesmo. — Enfim, me receitaram alguns ansiolíticos e eu comecei a fazer terapia. Eu melhorei muito depois disso. Tanto que eu consigo falar normalmente com vocês sobre o assunto, em outra época seria bem diferente.

— E você ainda faz terapia? — Indagou Alex.

— Faço, duas vezes por semana. Meu pai fez questão que eu continuasse nela mesmo depois de nós termos nos mudado de cidade — Se apoiou na pia. — Ele também faz — Afirmou. — E bom, eu só tomo os remédios em situações muito extremas, como essa — Meneou com a mão.

— Se você já consegue controlar, por que ficou tão mal agora? — Alex questionou.

— Algumas pessoas chamam de "efeito aniversário". Quando chega o dia que aconteceu aquilo eu fico mais agitada e propensa a ter uma crise, qualquer barulho me assusta. Quando eu escutei o som da caixa caindo, meu cérebro interpretou como se tivesse sido o barulho do tiro.

Miguel colocou as mãos no bolso e a encarou confuso.

— Espera aí, "efeito aniversário"? Quer dizer que...

— Hoje faz seis anos que ela morreu — Revelou, tentando controlar a vontade de chorar. — Em dias como esse eu só quero ficar sozinha, por isso eu vim pro Olympus — Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. — Mas aí eu tive que sentar na mesma mesa que vocês, perdedores.

Eles riram incrédulos com a ousadia da garota. Aquela era a Mulan que conheciam e estavam acostumados.

— Eu sinto muito pela sua mãe — Catarina voltou a ficar séria e lançou um olhar caloroso em sua direção.

— Obrigada — agradeceu, antes de ser puxada para um abraço. — Meu Deus, você é tão pegajosa — Reclamou risonha.

De repente, a risada de Miguel ecoou pelo banheiro, alta o suficiente para assustar os outros três, que olharam para ele, confusos.

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