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Garotinha da Mamãe
Querido leitor, você tem me deixado preocupado. Não suma mais desse jeito. Venha, chegou a hora da história.
Mamãe estava na sala, com um cigarro aceso em suas mãos, encarando o nada. Ela fazia isso quando as coisas não iam bem. Seu cabelo era longo e preto como a escuridão, seu batom estava borrado e ela tinha fundas olheiras, indicando que não tinha dormido naquela noite.
Eu queria fazer algo para animá-la, talvez um cartão a deixasse feliz. Rapidamente, a pequena garota pegou seus giz de cera e começou a rabiscar com rapidez. Ela passou um tempo concentrada nisso. Às vezes, sua mãe tinha esses momentos de tristeza, e a pequena criança estava acostumada a eles, mas seria a primeira vez que ela tentaria fazer algo. Talvez, se pelo menos pudesse mudar o humor da sua mãe, ela pensava tristemente, poderia fazer alguma diferença. Finalmente, ela terminou.
Ela caminhou hesitante em direção à sua mãe, atravessando a sala até a poltrona preta que ficava no centro da sala, em frente à TV, fazendo com que a mulher mais velha dirigisse seu olhar vazio para a pequena criança. A mãe pegou o desenho que lhe foi entregue, olhou para ele e depois para a garotinha, que agora tinha um sorriso no rosto. Romênia se sentia satisfeita por ter sido corajosa naquele momento. Ela esperava que a mãe visse suas reais intenções através do cartão, sentisse todo seu amor e que esse gesto pudesse mudar o humor da mãe.
Ela sentiu quando sua mãe bateu em seu rosto com as costas da mão, ouviu o som do papel sendo rasgado e também sentiu a indiferença daquela mulher em relação a ela. A menina encarava a mulher com uma expressão horrorizada, se perguntando o que tinha feito para merecer aquilo, e por que as mães dos comerciais eram tão boas com suas filhas, enquanto a sua só a maltratava.
No chão frio daquela grande casa, que agora cheirava a cigarro, a pequena criança se encolheu em seu próprio mundo, balançando-se enquanto abraçava seu ursinho. Ela chorava, mas ninguém vinha acolhê-la. Ela sentia dor, mas ninguém prestava socorro. Ela queria gritar, mas gritar para quem? Quem a ajudaria?
Ela permaneceu no chão até o anoitecer, quando sua mãe se levantou. Ela sabia o que estava por vir, mas realmente acreditou que, se fechasse bem os olhos, bem apertados, acordaria fora dali, em um lugar diferente. Mas a realidade a atingiu com uma dor aguda quando sentiu a primeira pancada, direto na barriga. Ela colocou as mãos ao redor da cabeça como forma de proteção, mas a mulher mais velha não parou de desferir chutes sobre a pobre criança. A mãe se abaixou e suas mãos rodearam o pequeno pescoço da menina. Ela apertava como quem aperta um travesseiro. A garotinha colocou as mãos sobre as da mãe, chamando assim sua atenção.
"Me ame, por favor", a garotinha praticamente implorava enquanto as lágrimas desciam pelo seu belo rosto. "Me ame, por favor, mamãe. Me ame, me ame", repetia freneticamente, esfregando o rosto na mão da sua mãe. Ela não sabia se foi pelo cansaço ou por suas palavras, mas a mulher a soltou, deixando-se cair sobre aquele chão frio e sujo. Ela não falou nada, não expressou nada, mas permaneceu ali, como se sua alma tivesse sido retirada, restando apenas uma casca prestes a se despedaçar.
E, mesmo naquela situação, a garotinha se aconchegou levemente perto de sua mãe. A mulher não a abraçou, sequer olhou para ela, mas só o fato de poder abraçá-la sem ser empurrada deixou a garotinha contente. Contente porque, de alguma forma, ela não sentia apenas tristeza, mas também raiva, e isso era um bom sinal. A garotinha sentia as dores que a mãe lhe causou, mas o que fazer quando quem poderia curar a dor era justamente quem a fazia doer?
Romênia abriu os olhos. "Não era real", pensou ao olhar ao redor. Não mais. Ela sentia seu coração bater forte, as lágrimas subiam aos olhos, mas ela não queria chorar. Com seu ursinho em mãos, esticou sua pequena mão em direção ao fantasma, que, ao sentir sua pelagem macia, se acalmou instantaneamente. Ela balançava a perna como se ninasse a si mesma, enquanto murmurava a melodia da música que Vanessa mais cedo havia cantado. Ela fechou os olhos novamente, com um sorriso no rosto e uma lágrima solitária. Observamos, amado leitor, que esses fantasmas do passado sempre voltam para nos assombrar. E você se pergunta o motivo de tanta fúria, mas logo tudo fará sentido.
Querido leitor, quando você já fez de tudo para que alguém o amasse, e mesmo assim essa pessoa não o ama, tudo que lhe resta é não fazer mais nada.
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pequena solidão
Literatura FemininaRomênia é uma garotinha doce e bastante esperta, e com a companhia do seu lobo fantasma viverá uma nova vida