Unmei no - Suguru Niragi

Dor e aprendizado

Dizem que a dor fortalece os laços, e que ela ensina muito mais que o amor, isso talvez seja verdade, pois me sinto blindada por todo meu sofrimento, como se ele fosse o combustível para enfrentar as lutas da vida. 

Miyazaki Yumi 

Estava em um estado de sono profundo, por alguns dias não conseguia dormir direito, no entanto ao perceber que tudo por hora estava indo bem, me permiti descansar, ou quem sabe tenha sido vencida pela exaustão. Não consegui determinar por quanto tempo fiquei assim, com a “tranquilidade” dominando meu sono, pois logo tenho um pesadelo que começa a me assombrar; ouvia sons ao longe que pareciam ser de projéteis sendo disparados, e eu me via sozinha em meio a rua, não conseguia me mexer, pessoas mascaradas desciam do dirigível que estava acima da minha cabeça, entre elas Niragi, ele não me reconhecia, e apontava sua arma em minha direção, assim como os demais. 

Tento me mover em vão, ao mesmo tempo que penso que tudo que está acontecendo pode ser apenas mais um de meus sonhos conturbados e não a dura realidade sombria que me aguardava, o barulho dos disparos foi ficando cada vez mais nítido aos meus ouvidos, me fazendo assim despertar abruptamente, acordando também Niragi, por conta dos meus movimentos bruscos e por ainda estar atrelada ao seu corpo. 

Meus olhos se abrem instantaneamente, tentando assimilar o que é real do pesadelo, sinto meu coração disparado, à medida que minha consciência tenta decifrar os sons genuínos de arma de fogo que ecoam do lado de fora, assim como o terror latente que se instala agora dentro de mim. O pesadelo é tão real. 

Sentindo o meu peito explodir e os batimentos cardíacos descontrolados, olho para Niragi que mantém uma expressão um tanto quanto confusa em seu rosto. Mais e mais tiros são disparados e parecem se aproximar cada vez mais de onde estamos. Em um instinto curiosidade, que se assemelha à vontade de sobreviver, compartilhamos da mesma ideia de maneira simultânea, saltando ambos da cama e correndo em direção a janela. Precisamos conhecer o novo desafio que nos espera, não há pra onde fugir, mesmo que queiramos. 

De onde estamos, temos uma vista ampla de parte da rua, e apesar de estarmos aparentemente seguros nesse local, com a falsa sensação dos muros parcialmente em pés ainda, podemos ver claramente as ruínas que a cidade se transformou, assim como uma visão apocalíptica de uma fumaça densa e escura que se ergue ao horizonte, os carros abandonados pela rua e algumas pessoas apressadas fugindo em total desespero, saindo de seus esconderijos como animais assustados, agora constato que o nosso breve descanso de fato havia acabado e novamente o caos estava presente para consumir não apenas o que restou da cidade, mas também de nós. 

— Puta que pariu! Tava calmo demais pra ser verdade — sussurro olhando ainda a movimentação mais adiante. 

— Acho que vamos ter que nos mandar — Niragi me diz sério e eu desvio meu olhar, encarando-o. 

— Acha mesmo necessário? Não acredito que estamos correndo risco aqui, ainda estamos um pouco afastados da bagunça. — falo tentando me enganar, mas principalmente porque acho que uma fuga agora pode atrapalhar sua recuperação. 

— Sei lá, não acho que seja bom ficarmos parados muito tempo em um lugar, pode ter gente nos observando e podemos ser surpreendidos. — ele responde com os olhos vidrados em mim.  

Solto um suspiro de insatisfação e passo as mãos em meu rosto tentando clarear minhas ideias — Pensando por esse lado, acho que tem razão, mas você tá bem pra irmos? — minha preocupação é genuína. 

— Tô! — responde sem vacilar, tentando parecer forte, eu aperto meus olhos, como quem duvida da resposta e ele continua — eu ainda sinto dor — esclarece — mas não dá pra ficar marcando território, daqui a pouco vamos ter que procurar uma arena também, sei lá Yumi, tô sentindo que agora é matar ou morrer…