À primeira vista

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Darcy

Alguma coisa nela mudou depois que iniciamos o projeto África deste ano, só não descobri exatamente o que. Ela continua esquiva, no entanto aquele olhar de escárnio que sustentava para mim não existe mais. Gostaria de desistir, gostaria de deixar esse mal estar para lá e seguir com o meu trabalho, mas andei pesquisando sobre a Dra. Bennet, ela é um valor humano e técnico muito importante para o hospital. Com seus resultados nos pacientes e suas pesquisas, o nome do hospital é divulgado de forma extremamente positiva na classe científica e na mídia. Percebi tarde demais o quanto meu comentário foi infeliz, nos dois aspectos.

A Dra. Bennet é uma das melhores cirurgiãs cardíacas do país, e tem uma aparência muito mais que tolerável, ao contrário, trata-se de uma mulher muito bonita, de feições definidas e olhos extremamente expressivos, principalmente para quem ousar enfrentar a dona deles.

De fato seria uma grande perda se, por conta do meu maldito comentário, ela simplesmente resolvesse trocar de emprego. Preciso evitar isso, só não gostaria de usar meios pouco convencionais, como minha influência como acionista, embora já tenha cogitado pedir a Anne que a convide para uma reunião, sem ela saber, claro, que estaria encontrando a mim, e não à diretora. Precisava pensar em algo menos drástico, precisava torná-la minha aliada, e não uma inimiga.

Lizzie

Malas prontas, é hora de voar! Enquanto espero Jane me buscar no apartamento para me levar ao aeroporto, confiro mais uma vez meus documentos na bolsa, e me sinto tão nervosa como se nunca tivesse viajado na vida!

Darcy

Minha primeira reação foi ter raiva de mim mesmo quando tive a capacidade de chamar aquela mulher de tolerável. A segunda, claro, foi atravessar o saguão do aeroporto até ela assim que a vi, reação essa que sem dúvida surpreendeu ao Charles, porém não o surpreendeu mais do que a loira que acompanhava Elizabeth, por isso ele me seguiu.

Senti-me desconfortável com a situação, ela sorria e tratava o Charles de uma forma completamente diversa de como me tratava, embora soubesse que merecia toda aquela indiferença, naquele momento tinha a obrigação moral de resolver isso. Não poderíamos viajar com tamanho constrangimento. Foram feitas as devidas apresentações, e como seria de esperar, o Charles encantou-se pela irmã mais velha da Dra. Bennet, Jane.

Tentei ser agradável, mas tive que inventar uma desculpa para falar a sós com ela. Acabei dizendo que precisávamos conferir os documentos com as passagens. Seguimos juntos em direção ao balcão da empresa de aviação, mas no meio do caminho a interceptei, com um toque em seu braço, pedi que ela me escutasse com atenção, e que, por favor, dessa vez não me interrompesse. Ela imediatamente disse que não me interrompia, me fazendo levantar a sobrancelha, e logo em seguida se calou, percebendo que sim, ela sempre me interrompia.

Fui sincero, e me desculpei como deveria, mas o resultado não foi como eu esperava. Ela aceitou as minhas desculpas, no entanto afirmou que minha opinião sobre ela não importava, e que eu tinha o direito de pensar o que quisesse, e obviamente, ela também tinha o direito de fazer isso em relação a mim, contanto que isso não nos impedisse de ter uma boa relação profissional, deixando implícito que não me tinha em alta conta. Deixou claro que só gostaria de executar bem o seu trabalho, e nada mais.

Aqueles olhos negros me encaravam, como se perguntassem se havia algo mais. Eu me senti aborrecido, mas seus olhos me mirando daquela forma e seus lábios se movendo tão graciosamente enquanto ela me dizia coisas tão duras, não sei explicar como, amenizavam aquela situação.

Lizzie

Finalmente entendi o motivo da perseguição, ele agora se sente culpado. Que peninha! Só que não. Estranhei quando ele atravessou o saguão e veio na nossa direção. Mais estranho ainda foi seu pedido para verificarmos as passagens, passagens essas que foram compradas pelo hospital com os nossos documentos, como poderia haver erros? Meu receio em perder aquela viagem era maior do que a minha necessidade de manter distância, então eu fui.

Não me sai da cabeça aquele "Por favor, Elizabeth, me escute". Ouvir meu nome sair daqueles lábios foi estranho. Sentir sua mão tocando a minha pele também. E o que veio depois foi ainda mais inesperado. Ele explicou o que houve no dia do meu retorno ao hospital, lamentou e pediu desculpas pelo que havia feito, explicitando que aquilo não representava o que ele pensa ao meu respeito. Se fosse qualquer outra pessoa eu teria simplesmente aceitado as desculpas e levado tudo isso numa boa, mas não sei explicar, reagi mal, e, embora polida, eu disse a ele que não me importava com o que pensava sobre mim, mas evidentemente me importo, só não sei o motivo.

Darcy

Pensei que tudo fosse continuar igual, mas pelo visto algo mudou. A Dra. Bennet continua distante e fria comigo, o oposto de como ela trata as outras pessoas, mas pelo menos já me cumprimenta quando nos cruzamos durante as conexões, o que não acontecia anteriormente. Menos um problema para mim e para o hospital.

Lizzie

Pensei bastante durante os voos, e acabei percebendo que estava sendo infantil, e que só agi daquela forma com o Dr. Darcy porque ele ofendeu o meu orgulho. Ainda acho seu comportamento esnobe e orgulhoso, mas ele foi humilde o suficiente, então eu deveria fazer a minha parte para tornar a nossa convivência menos ruim. Até porque, no curto espaço de tempo em que Jane e Charles ficaram sozinhos no saguão, eles acharam por bem combinar um jantar a quatro, coisa que minha irmã, obviamente, não me deixaria faltar. Ainda não gosto daquele homem, mas faz tempo que a Jane não se encanta por alguém, e o Dr. Bingley é um fofo, aliás, os dois são fofos e seriam ainda mais fofinhos juntos. Se tiver de aturar o amigo marrento pela felicidade da minha irmã, eu aturo.

......

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