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Darcy

Os dias vão passando e cada vez mais eu sinto que esse é o meu lugar. Todos os meus anos de estudo, toda dedicação, tudo o que fiz e investi na minha vida foi para esse objetivo, para estar fazendo o melhor nesse hospital que o meu pai ajudou a fundar. Esse lugar sempre foi o orgulho dos Darcy, e hoje faço parte disso. Meu pai me deixou um legado, e quero ser o melhor na minha área para merecer fazer parte desse sonho realizado.

Ter pessoas de confiança na administração, como a minha prima Anne, me deixa confortável para executar de forma tranquila o meu trabalho, me permite estar completamente focado no centro cirúrgico, onde eu esqueço o resto do mundo fazendo o que eu mais amo.

Mesmo assim, sei que tenho que me inteirar de tudo, e é o que faço nos raros momentos de folga. Felizmente, Anne é compreensiva e paciente, e não se importa de passar um tempo comigo, todos os dias. Estou especialmente empolgado com o trabalho beneficente do hospital, que este ano estou encabeçando. Um grupo de funcionários vai todos os anos para a África, com medicação, vacinas e suprimentos, mas o objetivo maior é triar as crianças que necessitam de cirurgia e trazê-las para o hospital, onde serão tratadas.

Tenho um carinho especial por esse projeto, pensado e executado pelo meu pai há alguns anos, lembro demais quando ele dizia "Fornecer cuidados em saúde para quem pode pagar é fácil, o difícil é proporcionar esses cuidados para quem precisa e não tem acesso".

Lizzie

Eu vou para África! Eu vou para África! Eu vou para África! Eu vou para África! Sim! Estou eufórica!!! Todos os anos o hospital envia uma comitiva para triar crianças que necessitam de cirurgias complexas, muitas das quais eu participei, mas apenas um cirurgião da cardio viaja a cada ano, no caso, sempre ia o meu chefe, que esse ano passou a bola para mim, já que é uma viagem cansativa e desconfortável, e ele não se sente mais tão disposto, (leia-se: os anos estão pesando em suas costas).

Estou muito, muito empolgada! Sou apaixonada por esse projeto e tenho muito orgulho de fazer parte dele. Saber que esse ano vou participar de todas as etapas é um sonho realizado!

Darcy

A equipe da viagem foi definida, cada especialidade médica-cirúrgica envia um profissional, a enfermagem disponibiliza os melhores funcionários, e três auxiliares administrativos também participam nos ajudando com a logística e a organização e distribuição dos insumos em território africano.

Não fiquei muito satisfeito quando vi a indicação da cardiologia, mas não podia colocar questões pessoais diante das profissionais. Tive acesso aos relatórios anteriores do projeto e ficou mais do que claro que a Dra. Bennet bateu todos os outros médicos em número de cirurgias. Era óbvio que ela levava esse trabalho muito a sério, e eu não poderia deixá-la de fora, mesmo prevendo que não seria uma convivência muito agradável.

Lizzie

Como assim o Darcy vai chefiar o projeto África esse ano? Ele mal chegou ao hospital! Quem ele pensa que é??

Pelo visto fiz essa pergunta em voz alta na sala de reuniões, porque o diretor do RH, o chato e afetadíssimo Collins me fez o favor de cochichar sobre a semelhança entre pai e filho. No momento não entendi, e ele precisou apontar o quadro do fundador do hospital, que ocupava lugar de destaque na sala de reuniões.

Era impossível não perceber a semelhança dos traços, e claro, o mesmo sobrenome, eu que nunca havia me atentado para o fato, assim entendi o motivo do William Darcy se achar o rei. Isso acontece porque ele literalmente o é!

Trata-se simplesmente do maior acionista do hospital, e eu não fazia a menor ideia desse fato. Sempre saía das rodas de conversa quando o assunto era ele, então realmente não sabia nada e nunca fiz a menor questão de saber, mas ali fui exposta a realidade, o Darcy não era apenas um colega de trabalho ou chefe da cirurgia geral, ele era o dono do hospital, filho e herdeiro do fundador e maior acionista, que havia morrido há anos, e isso me fez detestá-lo ainda mais, porque agora eu tinha a certeza que ele queria a minha cabeça. Entendi completamente o motivo dele me olhar daquele jeito, ele quer me ver errar, com certeza, para colocar alguém dele no meu lugar, um caso, talvez? Ou um amigo pessoal... Por um momento pensei em ser mais cuidadosa com a minha postura e o meu comportamento com ele, mas esse pensamento logo foi embora, eu não ia me sujeitar a esse homem, se ele quisesse me demitir que continuasse procurando um motivo, bons empregos não faltariam para mim, nesse país ou fora dele.

Ah, mas ficar longe desse projeto seria uma tortura! Calma, Lizzie, pense!! Você é uma profissional, e não vai se deixar vencer. Aguente até a última criança receber alta, depois disso você pode jogar tudo para o alto, mas não agora.

Fiz cara de paisagem e aguentei aquela voz a reunião inteira sem soltar nenhum comentário mordaz.

À primeira vistaOnde histórias criam vida. Descubra agora